SURTO INFECCIOSO

Sexto detento da Cadeia de Altos morre em hospital de Teresina; seis mortes em 13 dias

As mortes ocorrem devido uma infecção que acometeu pelo menos 48 internos daquela unidade


Cadeia Pública de Altos

Cadeia Pública de Altos Foto: Divulgação

Adriano Adábio Paz da Silva, 20 anos, filho de Marly Pereira da Paz e de Atanásio Cardoso da Silva, morreu nesta quinta-feira (28) no Hospital de Urgência de Teresina. Ele é o sexto detento da Cadeia Pública de Altos (CPA) a morrer em um período de 13 dias. As mortes ocorrem devido uma infecção que acometeu pelo menos 48 internos daquela unidade.

Ouça a seguir áudio de familiar de Adriano.

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A Secretaria de Estado da Justiça, por meio de sua assessoria de comunicação, disse que ainda não possui informações sobre a morte de Adriano, pois diferente dos cinco óbitos anteriores, ele foi internado no HUT com alvará de soltura, ou seja, ele não era mais um custodiado, havia ganhado a liberdade no início deste mês.

O Piauihoje.com apurou que inicialmente Adriano fora levado à UPA Satélite, mas com o agravamento de seu quadro de saúde foi transferido para o HUT. Ele deu entrada no hospital de urgência no último dia 6, um dia antes de a Sejus divulgar que 48 detentos apresentavam sintomas de infecção. 

Com isso, tem-se que ao ter sido colocado em liberdade, Adriano já estava infectado. Em vídeo gravado no dia que ele foi solto é possível ver seu estado de saúde debilitado e que já apresentava dificuldades para ficar de pé ou andar.

NOTA - HUT

O paciente A.A.P.S., de 20 anos, veio a óbito às 13h30, no Hospital de Urgência de Teresina.

Por orientação do setor jurídico, o HUT não informa estado de saúde de pacientes.


Entenda o caso

Pelo menos 48 internos da CPA apresentaram variados sintomas de infecções no dia 7 de maio. Alguns apresentaram edemas e colúria (urina escura), entre outros sintomas. Dois deles testaram positivo para leptospirose e um terceiro está com hepatite A.

De acordo com exames realizados sob o comando da Secretaria Estadual de Saúde - Sesapi, a água contaminada é a provável causa da intoxicação dos presos. Laudo preliminar apontou presença de coliformes fecais e urina de rato na água que os presos consomem diariamente.

O relatório técnico foi apresentado ao Ministério Público do Piauí (MP-PI) em reunião por videoconferência que contou com a participação do secretário estadual de Justiça, Carlos Edilson. Até agora, ninguém foi ouvido ou responsabilizado pelo caso.

Além da leptospirose, suspeitas médicas apontam que a doença que pode ter atingido a maior parte dos presos infectados seja síndrome de Guillain Barré, que se desenvolve quando o sistema imunológico do próprio corpo ataca parte de seu sistema nervoso. A enfermidade, geralmente, é provocada por processos infecciosos anteriores como Hepatite A, B e C, Zika, Dengue, Sarampo, Citomegalovírus, outros.

Entre os principais sintomas da doença é a fraqueza muscular que começa pelas pernas, podendo avançar pelo tronco, braços e face. A síndrome pode também reduzir ou eliminar os reflexos. Faz mais sentido ainda as suspeitas médicas, uma vez que como foi divulgado em reportagens anteriores sobre o caso, oito presos chegaram em cadeiras de roda à Unidade de Pronto Atendimento do bairro Satélite, zona Leste de Teresina, na noite da última quarta-feira (20) como mostra o vídeo a seguir.

Mortes

Em um intervalo de 11 dias dias, cinco dos 48 presos morreram. Quatro estavam internados no HUT. A morte mais recente ocorreu na manhã de hoje, trata-se de Isaac Gomes de Oliveira. Antes dele morreu Robert Ozeas da Silva Pereira. A causa da morte está sob investigação. Francisco Wellington foi o primeiro detento a morrer. Ele veio a óbito na noite da última quinta-feira (14). Em seguida faleceu Martoniel Costa Oliveira, de 21 anos, na terça-feira (19). Já na sexta-feira (22) faleceu Jefferson Linhares Silva. 

Denúncia

A Cadeia Pública de Altos é o presídio mais novo do Piauí. Foi inaugurado em 23 de setembro do ano passado e já possui 720 internos. É moderna, tem 603 vagas e foi projetada para abrigar presos provisórios. Atualmente 700 internos estão privados de liberdade lá.

Familiares e advogados dizem que não estão sendo informados sobre o estado de saúde dos detentos, tampouco estão sendo avisados das internações em hospitais de Teresina. Afirmam também que não estão podendo levar alimentos e produtos de higiene pessoal para os detentos durante a pandemia do novo coronavírus. 

A Secretaria de Justiça vinha permitindo o contato de parentes por videoconferência, mas quando o preso começava a falar que estava se sentindo mal, a ligação era encerrada.

Na última segunda-feira (18), mães, pais, cônjuges e amigos de presos realizaram um protesto em frente ao Palácio de Karnak e pediram a queda e punição da atual diretoria da CPA.

Ações do Governo do Piauí frente ao caso

Em nota divulgada, o Governo do Estado, por meio da Secretaria de Saúde (Sesapi) e Secretaria de Justiça (Sejus), informa que está reforçando o atendimento aos detentos da Cadeia Pública de Altos que estão com infecção. Na unidade, uma enfermaria foi instalada para o atendimento e acompanhamento dos internos e, aqueles que apresentam sintomas mais graves são transferidos para o Hospital da Polícia Militar (HPMPI) ou para o Hospital Getúlio Vargas (HGV). No HGV, uma nova ala, com 20 leitos, está sendo organizada para o tratamento desses casos.

Até o momento, 23 detentos estão internados e a suspeita é que a infecção seja por contaminação da água. Desde que relatada a suspeita, a Sejus realizou a limpeza da caixa d’água e tubulação da unidade, bem como irá implementar o tratamento da água. Também foi instalado um dosador de cloro no poço. Enquanto a situação é resolvida, internos e servidores consomem água mineral.

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