
Um vídeo que o portal Piaui Hoje.Com teve acesso pode ser revelador da situação em que se encontra a administração e a Cadeia Pública de Altos - CPA, de onde pipocam quase todos os dias denúncias de maus tratos, humilhações e até torturas físicas e psicológicas aos presos.
Pela quantidade de denúncias já feitas contra aquele presídio já deveria ter sido aberta uma investigação mais rigorosa para apurar, de fato, o que há de tão inusitado naquele local na administração daquele lugar.
De lá, além de mais tratos, agora surgem denúncias da contaminação com coliformes fecais e urina de ratos da água servida aos presos, o que teria provocando um surto de infecção naquela cadeira. Do mesmo lugar já surgiram informações de que os presos obrigados a comer "quentinhas" estragadas.
Coação e humilhação
No vídeo enviado ao portal, um preso da CPA aparece falando como se estivesse sendo forçado ou coagido a dizer que está sendo bem tratado num hospital de Teresina onde foi internado na quarta-feira (20), com quadro de estranha infecção.
Numa espécie de rápida "entrevista", conduzida por um policial que não aparece nas imagens, claro, Vicente de Paula Rodrigues Alves, de 26 anos, diz, meio constrangido, que está bem e recebendo tratamento médico na Unidade de Pronto Atendimento do bairro Satélite, na Zona Leste da capital.
"Eu tou bem, tou me tratando aqui no hospital e tudo que estão falando aí é mentira, tou aqui me tratando, só não estou bem porque cacei pra cabeça, mas tou aqui internado e vou sair desse hospital", diz o jovem.
De acordo com Secretaria de Justiça (Sejus), 21 detentos estão internados em hospitais de Teresina, porém não disse em quais. Mas a reportagem apurou que sete estão em enfermaria do Hospital de Urgência de Teresina (HUT).
Inicialmente, nove presos foram levados para o HUT, mas dois morreram. Outros oito chegaram à Unidade de Pronto Atendimento - UPA, do bairro Satélite. Na quarta à noite mais cinco foram levados para o Instituto de Doenças Tropicai Nathan Portella, o antigo HDIC.
Entenda o caso
O surto de infecção de origem ainda não confirmada pela Secretaria de Justiça atingiu detentos da Cadeia Pública de Altos. Pelo menos 48 apresentaram variados sintomas de infecções no dia 7 de maio. Uns tinham edemas e colúria (urina escura). Dois deles testaram positivo para leptospirose e um terceiro está com hepatite A.
De acordo com exames realizados sob o comando da Secretaria Estadual de Saúde - Sesapi, a água contaminada é a provável causa da intoxicação dos presos. Laudo preliminar apontou presença de coliformes fecais e urina de rato na água que os presos consomem diariamente.
O relatório técnico foi apresentado ao Ministério Público do Piauí (MP-PI) em reunião por videoconferência que contou com a participação do secretário estadual de Justiça, Carlos Edilson. Até agora, ninguém foi ouvido ou responsabilizado pelo caso.
Denúncia
A Cadeia Pública de Altos é o presídio mais novo do Piauí. Foi inaugurado em 23 de setembro do ano passado. É moderna, tem 603 vagas e foi projetada para abrigar presos provisórios.
Familiares e advogados dizem que não estão sendo informados sobre o estado de saúde dos detentos, tampouco estão sendo avisadas das internações em hospitais de Teresina.
Dizem também não estão podendo levar alimentos e produtos de higiene pessoal para os detentos durante a pandemia do novo coronavírus.
A Secretaria de Justiça vinha permitindo o contato de parentes por videoconferência, mas quando o preso começava a falar que estava se sentindo mal, a ligação era encerrada, censurada.
Na segunda-feira da semana passada, dia 18, mães, país cônjuges e amigos de presos realizaram um protesto em frente ao Palácio de Karnak e pediram a queda e punição da atual diretoria da CPA.
As denúncias de maus tratos nos presídios no Piauí não são novas e nem acabam e nem ficam poucas. Basta vê a lista de notícias abaixo relacionadas e que tratam de vários assuntos relativos ao sistema penitenciário do estado.
O Estado, através da Secretaria de Justiça, diz que apura essas denúncias. O Ministério Público parece inexistir, assim como as midiáticas comissões de direitos humanos da OAB, da Assembleia Legislativa e de câmaras municipais.
Os sindicatos de policiais e agentes penitenciários, por sua vez, nunca enxergam qualquer erros desses profissionais e defendem a seriedade e a lisura do trabalho de seus associados.
Em assim sendo, aparecem dúvidas. Estariam sendo usados por lá novos e modernísdimo métodos de ressocialização de presos nesses "tempos estranhos" que vivemos, como diz o ministro Marcos Aurélio Melo, do STF?
Clique aqui e confira ata da audiência com o MP-PI
Denúncia
Ouça a denúncia no áudio a seguir:
WhatsApp Audio 2020-05-21 at 18.41.36 (online-audio-converter.com).mp3
Se comprovados esses novos métodos, com intoxicação de presos, é caso grave. Em um país sério, com Justiça para todos, seria motivo para fechamento do presídio e botar na prisão todos os seus administradores, incluindo seus superiores.
Pelo que se pode perceber, só resta aos denunciantes recorrerem ao Papa, porque bispos não se metem mais nessas questões, que levam à certeza de que alguém está mentindo para o distinto contribuinte. Mas nada que não possa ser cobrado nas próximas eleições.
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