Polícia

Cinco dos 34 detentos infectados recebem alta médica e voltam para Cadeia de Altos

Os dados mostram evolução na situação de saúde dos presos após a morte de seis deles

Valciãn Calixto

Sexta - 29/05/2020 às 13:39



Foto: Divulgação/Sejus Apenado da CPA recebe tratamento médico
Apenado da CPA recebe tratamento médico

Agora são 29 os apenados da Cadeia Pública de Altos internados em hospitais de Teresina após uma infecção misteriosa ter acometido os detentos da CPA. Eram 34, mas cinco receberam alta hospitalar nas últimas horas, e retornaram àquela unidade penal. Segundo a Secretaria de Estado da Justiça, há três dias não é encaminhado novos internos para a rede pública de saúde. Os dados mostram evolução na situação de saúde dos presos. 

Desde o início da semana, uma enfermaria foi instalada na Cadeia Pública de Altos para atendimentos aos detentos que apresentassem sintomas relacionados a algum tipo de infecção. Na estrutura, trabalham médicos e profissionais de enfermagem.

"Reconhecemos e sabemos da gravidade da situação na Cadeia Pública de Altos. Diante disso, não estamos medindo esforços para descobrirmos a causa das infecções, e solucionarmos a situação para voltarmos à normalidade no local. Semanalmente, fazemos testes na água, como também estamos com os atendimentos médicos na unidade", comentou o Secretário de Justiça, Carlos Edilson.

Além do pronto atendimento médico no próprio estabelecimento penal, foram tomadas diversas medidas sanitárias no local, como a limpeza da caixa d´água e das tubulações, dedetização, limpeza interna e externa, além do fornecimento de água mineral aos detentos e servidores.

Entenda o caso

Pelo menos 48 internos da CPA apresentaram variados sintomas de infecções no dia 7 de maio. Alguns apresentaram edemas e colúria (urina escura), entre outros sintomas. Dois deles testaram positivo para leptospirose e um terceiro está com hepatite A.

De acordo com exames realizados sob o comando da Secretaria Estadual de Saúde - Sesapi, a água contaminada é a provável causa da intoxicação dos presos. Laudo preliminar apontou presença de coliformes fecais e urina de rato na água que os presos consomem diariamente.

O relatório técnico foi apresentado ao Ministério Público do Piauí (MP-PI) em reunião por videoconferência que contou com a participação do secretário estadual de Justiça, Carlos Edilson. Até agora, ninguém foi ouvido ou responsabilizado pelo caso.

Além da leptospirose, suspeitas médicas apontam que a doença que pode ter atingido a maior parte dos presos infectados seja síndrome de Guillain Barré, que se desenvolve quando o sistema imunológico do próprio corpo ataca parte de seu sistema nervoso. A enfermidade, geralmente, é provocada por processos infecciosos anteriores como Hepatite A, B e C, Zika, Dengue, Sarampo, Citomegalovírus, outros.

Entre os principais sintomas da doença é a fraqueza muscular que começa pelas pernas, podendo avançar pelo tronco, braços e face. A síndrome pode também reduzir ou eliminar os reflexos. Faz mais sentido ainda as suspeitas médicas, uma vez que como foi divulgado em reportagens anteriores sobre o caso, oito presos chegaram em cadeiras de roda à Unidade de Pronto Atendimento do bairro Satélite, zona Leste de Teresina, na noite da última quarta-feira (20) como mostra o vídeo a seguir.

Mortes

Em um intervalo de 11 dias dias, cinco dos 48 presos morreram. Quatro estavam internados no HUT. A morte mais recente ocorreu na manhã de hoje, trata-se de Isaac Gomes de Oliveira. Antes dele morreu Robert Ozeas da Silva Pereira. A causa da morte está sob investigação. Francisco Wellington foi o primeiro detento a morrer. Ele veio a óbito na noite da última quinta-feira (14). Em seguida faleceu Martoniel Costa Oliveira, de 21 anos, na terça-feira (19). Já na sexta-feira (22) faleceu Jefferson Linhares Silva. 

Denúncia

A Cadeia Pública de Altos é o presídio mais novo do Piauí. Foi inaugurado em 23 de setembro do ano passado e já possui 720 internos. É moderna, tem 603 vagas e foi projetada para abrigar presos provisórios. Atualmente 700 internos estão privados de liberdade lá.

Familiares e advogados dizem que não estão sendo informados sobre o estado de saúde dos detentos, tampouco estão sendo avisados das internações em hospitais de Teresina. Afirmam também que não estão podendo levar alimentos e produtos de higiene pessoal para os detentos durante a pandemia do novo coronavírus. 

A Secretaria de Justiça vinha permitindo o contato de parentes por videoconferência, mas quando o preso começava a falar que estava se sentindo mal, a ligação era encerrada.

Na última segunda-feira (18), mães, pais, cônjuges e amigos de presos realizaram um protesto em frente ao Palácio de Karnak e pediram a queda e punição da atual diretoria da CPA.

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