
O ministro do Desenvolvimento Social, Wellington Dias, aliado histórico do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, afirmou que, para o PT ter chances na eleição de 2026, será fundamental garantir um centro político alinhado à esquerda. Em entrevista publicada pela revista Veja nesta sexta-feira (22), Dias também detalhou avanços do Bolsa Família e do programa Acredita no Primeiro Passo, explicou medidas contra fraudes e uso indevido de benefícios, abordou o impacto de tarifas dos Estados Unidos sobre produtos brasileiros, e defendeu a aproximação com o eleitor evangélico como estratégia para ampliar a base do partido.
Avanços no combate à fome
Ao ser questionado sobre a saída do Brasil do Mapa da Fome da ONU, o ministro explicou que a combinação entre a retomada econômica, geração de empregos e programas de transferência de renda permitiu que cerca de 10 milhões de brasileiros saíssem da pobreza extrema. "A economia girou, fomentando negócios e criando mais empregos. Não podemos desprezar também o peso de programas sociais, como o Brasil sem Fome, e iniciativas de transferência de renda, entre elas o Bolsa Família e o recente Acredita no Primeiro Passo, voltados para a superação da pobreza. É uma rede de proteção que vem trazendo resultados na direção que considero correta."
Ele detalhou que, no primeiro semestre de 2025, aproximadamente 1 milhão de beneficiários deixaram o programa por aumento de renda. Sobre a possibilidade de o país voltar ao Mapa da Fome, o ministro reafirmou seu compromisso. "Estamos concentrados em implantar um modelo que traga segurança alimentar de forma definitiva. A primeira grande mudança já foi feita em 2023, quando passamos a garantir um valor per capita mínimo no Bolsa Família. Agora, quem entra pela primeira vez no Cadastro Único só sai dele se deixar a pobreza, com renda três vezes maior do que o benefício recebido. Assinar carteira de trabalho ou regularizar o próprio negócio não é mais razão para deixar de ganhar o recurso. Há ainda um sistema em que a pessoa pode voltar a ter ajuda automaticamente caso perca o emprego ou sofra queda na renda. É um colchão de proteção contra a miséria."
Auditoria e combarte a fraudes
Questionado sobre críticas de que o programa teria se expandido indiscriminadamente, Wellington Dias falou sobre a auditoria de mais de 4 milhões de benefícios herdados do governo anterior. "Identificamos ali inúmeras irregularidades, como falsificação de documentos e gente com renda elevada na lista. Estamos atentos a isso. Começamos nossa gestão pagando 22 milhões de pessoas e fechamos a folha de julho com 20 milhões, o que é resultado do cerco a fraudes e da redução da pobreza."
O ministro comentou também a questão do uso do benefício em apostas. "Somente 3,4% dos cadastrados jogaram. Proibimos que o cartão do benefício seja aceito nas bets, uma medida que acaba de ser homologada pelo STF."
Sobre supostas motivações políticas na concessão do benefício, ele negou qualquer influência eleitoral. "Não. Trabalhamos seguindo evidências do que realmente contribui para o combate à miséria. E parece funcionar. Registramos mais de 4 milhões de novos postos de trabalho nos últimos dois anos, sendo que 91% dos que conseguiram uma vaga estão no Cadastro Único, e de lá podem acabar saindo por não precisar mais do benefício."
Desafios políticos e eleitorais
No cenário eleitoral, o ministro alertou que a aprovação do governo se concentra principalmente nas faixas de renda mais baixa. "Todas as pesquisas apontam que a maior aprovação do presidente Lula se dá na faixa de renda inferior a dois salários mínimos, justamente o público que atendemos. O cenário mais geral é que há uma enorme tensão no país. O quadro não se alterou de 2022 para cá. Vivemos uma divisão que desgasta a classe política de modo amplo."
Wellington Dias defende que o PT, sob a direção de Edinho Silva, revise bandeiras e se aproxime do eleitor de centro. "O Brasil mudou, e as pessoas querem empreender, se tornar empresárias, autônomas. Desde 2023 registramos o surgimento de 9 milhões de negócios. Curiosamente, mais da metade é composta pelo público do Bolsa Família, um fenômeno que vale ser compreendido melhor."
Política internacional e soberania
Quanto ao impacto de tarifas dos Estados Unidos sobre produtos brasileiros, Dias explicou que o governo adotou medidas para minimizar prejuízos. "Grande parte dos itens tarifados é demandada por diversos países no mundo, carne, café e frutas entre eles. Enfrentaremos uma fase bem dolorosa, mas o governo aposta na abertura de novos mercados."
Ele reforçou a postura do presidente Lula no diálogo com os EUA, mas enfatizando a soberania nacional. "O contato precisa ser organizado nos moldes da diplomacia internacional. Não é razoável que uma aproximação dessa natureza seja utilizada para fazer desfeita ou para se transformar em uma tentativa de humilhação ao país. O Brasil respeita o povo americano e quer manter uma boa relação com os Estados Unidos, mas também precisa ser respeitado."
Eleições de 2026 e alianças políticas
Perguntado sobre a disputa eleitoral de 2026, Dias detalhou a estratégia do partido. "Nas eleições de 2026, o importante para o PT será garantir um centro robusto correndo junto com a esquerda. É a democracia brasileira que está em jogo."
Ele destacou que alianças com partidos do centrão e a aproximação com líderes evangélicos são estratégias essenciais para ampliar a base eleitoral. "Estamos fechando parcerias com várias denominações religiosas, o que nos permite alcançar, através de seus líderes, lugares onde o governo não chega, como favelas e locais mais longínquos."
Aproximação do eleitor evangélico
No âmbito religioso, o ministro disse que o partido está trabalhando para fazer a separação entre Estado e igreja. "Trabalhamos com o que está presente na própria palavra de Deus: 'A César o que é de César, a Deus o que é de Deus'. A Constituição faz essa clara separação do Estado e assegura a independência das igrejas."
Ao longo da entrevista, Wellington Dias reafirmou a prioridade do governo em políticas sociais, geração de empregos, combate à pobreza e aproximação com diferentes segmentos da sociedade, enquanto prepara o PT para enfrentar um pleito polarizado e decisivo em 2026.
Fonte: Revista Veja