
Teresina é uma cidade nascida pela decisão de um bacharel em Direito, o presidente da Província do Piauí, Francisco Antônio Saraiva, baiano de Santo Amaro da Purificação. Contava somente 27 anos quando decidiu transferir a capital do Estado de Oeiras para a margem direita do rio Parnaíba.
Saraiva, depois conselheiro do Império e, nessa condição, presidente do Conselho de Ministros do Imperador Pedro II, presidiu a província do Piauí de 7 de setembro de 1850 a 12 de março de 1853 – dois anos e meio que o fizeram gravar seu nome na História do Estado.
Pode-se dizer que Saraiva inaugurou, de modo muito literal, a relação da cidade fundada por ele, em 16 de agosto de 1853, manteria com operadores do Direito – sobretudo advogados, ao longo de sua história, algo que poderemos ver confirmado nas pesquisas de estudiosos como Reginaldo Miranda da Silva e Jesualdo Cavalcanti, este último autor de “O sertão de bacharéis”.
Tomemos Saraiva por ponto de partida, porque é fato de que em todo o século XIX e em boa parte do século XX, bacharéis em Direito estiveram sempre no protagonismo da política brasileira. A história política do Brasil – o que inclui o surgimento de cidade e mesmo o desbravamento a Oeste – estão intrinsecamente ligados a esses graduados.
Saraiva, bacharel em Direito, foi a ousadia em pessoa ao mudar a capital do Estado de Oeiras para Teresina, em lugar onde sequer existiam prédios públicos para que ele atuasse. Porém, foi determinado e destemido, ousou colocar a cidade onde, segundo muitos historiadores, se poderia melhor favorecer o desenvolvimento da Província.
O papel de Saraiva certamente cabe-lhe enquanto advogado: o do convencimento. Sim, porque mudar uma capital, fazendo-a do zero, não é um desafio qualquer. Além das dificuldades logísticas próprias, era preciso superar a oposição e os interesses contrariados das elites locais de Oeiras e Campo Maior, então as duas mais importantes cidades da Província do Piauí. Saraiva fez isso, foi hábil e obteve o consentimento legislativo.
O fundador de uma cidade, o advogado Saraiva, foi para além das letras jurídicas. Mostrou-se um homem capaz de ver muito adiante, mas sem perder o nexo com a realidade – que implica em fazer cálculos e negociações que permitam manter um projeto vivo e em curso.
Criada a cidade, o tempo se encarregou de fazê-la continuada por outros bacharéis em Direito, ainda que tenham sido poucos os advogados que a governaram ao longo dos seus 173 anos de fundação, entre os quais destaca-se a notável figura de Petrônio Portella Nunes, cujo centenário se celebrará em menos de um mês, no dia 12 de setembro deste ano.
Petrônio foi o primeiro advogado a dirigir a cidade de Teresina na segunda metade do século XX e foi seguido no cargo por dois outros administradores marcantes na capital do Piauí, José Raimundo Bona Medeiros, duas vezes prefeito, e Raimundo Wall Ferraz, que ocupou o cargo por três vezes.
Os prefeitos Petrônio Portella, José Raimundo Bona Medeiros e Raimundo Wall Ferraz fazem parte de um grupo de dirigentes da cidade que estabeleceram, por meio de leis e planos diretores, o desenho do espaço urbano atualmente ocupado pela capital do Piauí. São, a exemplo de Saraiva, criadores de uma cidade nascida por decisão de um bacharel em Direito.
Teresina, assim, pode-se dizer uma cidade surgida por decisão de um homem do Direito e resenhada na segunda metade do século XX por três notáveis prefeitos diplomados em Direito – todos com visão ampla para trafegar rumo ao futuro.
