Aulas de Geografia são essenciais. Geografia física nos ensina sobre espaços territoriais, biomas, mares, acidentes geográficos. Podemos todos nos divertir com informações que podem render disputa em jogos de tabuleiros ou exercitar nossa memória em caça-palavras. Há, porém, um aspecto muito importante sobre a Geografia, que é seu caráter humano, seu conhecimento para nos oferecer base para análises de cenários econômicos presentes e futuros. E nesse recorte, convém que a gente tenha o mínimo de olhar sobre a demografia, que diretamente se define como os estudos populacionais – parte da Geografia humana.
Políticos, empresários e outras lideranças sociopolíticas e econômicas do nosso país deveriam prestar atenção em fatos ligados à demografia, a começar por dados como as taxas de fertilidade, migração, mortalidade infantil, esperança de vida ao nascer, pirâmides etárias e distribuição territorial da população.
Todos esses dados estão disponíveis no IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – uma agência do Estado brasileiro com grande competência para produzir dados, de modo confiável, que podem e devem ser usados pelas empresas, pelos governos e por todos para construir caminhões e soluções para problemas que naturalmente surgem de distorções demográficas – como a redução populacional, por exemplo.
Então, esse é um ponto essencial: pode faltar gente em determinadas áreas do país, face a movimentos migratórios internos e baixa taxa de fertilidade. Esse não é um fenômeno social desprezível ou para o qual não se deva prestar atenção, porque está em curso. Vejamos o caso do Piauí, que está ao alcance de nossa vista: o Censo 2022 registrou que 102 dos 224 municípios piauienses perderam população na comparação com o Censo anterior, de 2010.
A perda de população no Piauí se dá, então, há pelo menos uma década e não vai parar. Teremos nas próximas décadas menor crescimento demográfico, seguido de redução populacional, com o agravante de um envelhecimento da população (achatamento da pirâmide etária), que amplia a pressão de gastos em saúde e previdência social.
O IBGE registrou que entre 2010 e 2022, o Piauí teve um acréscimo de somente 150.163 habitantes – média de 12,5 mil pessoas por ano ou menos de meio ponto percentual por ano. Isso significa que em algumas décadas faltará gente no Piauí, já que a taxa de fertilidade está em franco declínio, enquanto o envelhecimento populacional segue crescente, ou seja, por nascimento vai ser dificil repor estoques demográficos no Estado.
Em 2022, o Piauí teve a menor taxa de crescimento populacional do Brasil entre 2012 e 2021. A estudo que mostrou essa tendência, a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD Contínua, do IBGE), indicava uma queda da taxa de fertilidade, que saiu de 2,68 filhos por mulher em 2000 para 1,72 filhos por mulher em 2021 – ou seja, caiu-se de 23,5 nascimentos por mil habitantes em 2000 para 14,5 em 2021.
É preciso bem mais que políticas públicas de planejamento familiar para que se cuide de estancar a redução populacional em áreas como o Piauí. Há que se compreender que em determinados municípios podem mesmo desaparecer se suas sociedades e lideranças não cuidarem de evitar os fluxos migratórios – ou seja, é preciso tornar interessante viver nas pequenas cidades, o que pode incluir algum tipo de atrativo para que pessoas se mudem para esta ou aquela cidade piauiense.
É claro que são fundamentais os estudos que indiquem ações e políticas públicas para mitigar os riscos de esvaziamento demográfico dos municípios e de vastas regiões do Piauí – causadas por redução da taxa de fertilidade, mas, sobretudo, pela migração de pessoas de faixas etárias menores, em busca de melhores condições de vida longe de suas áreas originárias.
O risco de faltar gente é enorme – assim como é iminente a condição de cidades demograficamente envelhecidas no Estado. É um cenário de futuro que pode ser evitado com crescimento econômico bem distribuído em todos os municípios ou, na impossibilidade disso, pelo menos na maioria das cidades piauienses.