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Quando se apaga um sorriso

Soarinho morou em casa da minha avó Elisa Campos Ferreira Rocha, irmã da mãe dele

Alvaro o Mota

Sexta - 28/11/2025 às 12:30



Foto: Divulgação Antonio Soares
Antonio Soares

Domingo, 9 de novembro, apagou-se o sorriso do meu estimado primo e amigo Antônio Reinaldo Soares Filho, o Soarinho. Apesar da diferença de idade, ele nascido em 1948, eu mais de 18 anos depois, devo a ele muito de minha formação, de experiências na vida, de memórias afetivas.

Graduado em Geologia pela Universidade de Brasília, em 1975, especializou-se em hidrogeologia, tornando-se um dedicado pesquisador nessa área pelo Serviço Geológico do Brasil, Antônio Reinaldo trilhou um caminho comum àqueles de sua geração: o amor pela cultura, pela História e por sua Oeiras natal.

No mister de escrever, colaborou com jornais em Teresina, entre os quais o Meio Norte, assinava coluna na revista do Crea-Piauí e publicou livros como “Oeiras Municipal” (1992), “Oeiras, Geografia Urbana” (1994) e “Aquarelas de um tempo” (2016). É coautor do livro Trilhas Geológicas, publicado em 2014 e deixou o inédito livro “Oeiras do Piauí - 1800 a 2024”.

É claro que com tanta dedicação a Oeiras, tinha ele de ter presidido o Instituto Histórico de Oeiras, sendo também sócio do Instituto Histórico de Oeiras e do Instituto Histórico e Geográfico do Piauí, membro titular e fundador da Academia Piauiense de Engenharia, ocupando a cadeira número 17.

Também na condição de oeirense que amava sua terra e a ela dedicava especial atenção, teve na religiosidade católica uma prática recorrente. Era católico praticante, que por longo tempo acompanhou as atividades religiosas de sua cidade, em especial durante a Semana Santa, participando de eventos litúrgicos como as procissões da Fugida, dos Passos, do Fogaréu e do Senhor Morto.

Tenho especial apreço por pessoas que conseguem conciliar o conhecimento técnico-científico tão próprio das engenharias com aqueles ligados à história, à arte e à religiosidade. Assis era o Soarinho, filho de Antônio Reinaldo Soares e Teresa Ferreira Soares, meus tios. Além disso, os avós dele, Ernesto José Ferreira e Acineth de Sousa Brito Campos, eram os meus bisavós maternos e isso estabeleceu entre nós uma amizade fraternal.

Soarinho morou em casa da minha avó Elisa Campos Ferreira Rocha, irmã da mãe dele. Então, isso nos aproximou e fez com que fosse ele responsável por um dos momentos mais mágicos da minha vida, em minha infância, quando estive pela primeira vez em Oeiras. Lembro de ele ter me recebido, mostrado a cidade, com seus mistérios e belezas, e depois ter-se levado à casa de nossa avó, quando lá fui para passar uma semana com a minha bisavó e a tia Dodô.

Desde então, a sua alegria genuína e carregada de afeto sempre acompanhou os nossos encontros, que se deram em muitas ocasiões – em muitas delas, para minha inteira satisfação, resultando em boas orientações para a vida, desde minha infância, em Teresina Por conta de o meu pai ter morado com o pai na casa do pai dele, Soarinho sempre me teve muita atenção e nos anos 70 tinha muita atenção pra minha avó materna.

 

Quando, no começo dos anos 1980, fui estudar no Recife, recebi dele bons ensinamentos. Isso porque, na capital pernambucana. Soarinho fez o curso científico no Colégio Marista, para prestar vestibular na Universidade Federal de Pernambuco. Terminou indo para Brasília onde se graduou em Geologia, mas, com seu cavalheirismo sem fim, sempre manteve contato e gentileza comigo.

Ultimamente, conversávamos muito sobre literatura e sobre história, o que me fazia percebê-lo mais ainda com pessoa cativante, especial por seu sorriso inigualável, de grandes de grandes virtudes e qualidades, um homem incomum e singular. Com ele recolhia e mantive guardadas as histórias de nossa família. Ele contava histórias do meu bisavô materno, histórias da família Campos Ferreira, de Oeiras

Trago frescas na memória nossos últimos encontros, na minha posse na Academia Piauiense de Letras Jurídicas e mais recentemente em um almoço de família na minha casa, porque minha mãe Elizalva Mota, gostava muito dele – o que me faz ainda seu admirador e ter por Soarinho a gratidão eterna, algo que o mantém vivo em mim e tantos outros que também tiveram a sorte e o privilégio do convívio com um esse ser tão especial.

Álvaro Mota

Álvaro Mota

É advogado, procurador do Estado e mestre em Direito pela Universidade Federal de Pernambuco - UFPE. Álvaro também é presidente do Instituto dos Advogados Piauienses.

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