
Há beleza na política? Ou nela a feiura da maldade? A Liberdade é bonita, a democracia sedutora, a experiência democrática clama. Demônios são anjos; caídos.
Ganhei um livro muito bonito que convida à insistência contra as alienações da estupidez. Livro que me veio autografado de maneira que muito apreciei – pela mãe do autor. Interessante essa história. Livro feito por Mauro Sampaio e, para mim, assinado e ofertado por sua gentil mãe, dona Anatália Ribeiro Gonçalves Sampaio, dando um “Viva a democracia!”
O livro é uma fotografia do Congresso Nacional. Isto é, dizendo de maneira mais adequada: é uma fotografia literal, ou literária, poética, do Parlamento brasileiro, instituído há quase 200 anos.
Ditadura, comunavírus, obscurantismo
A potência comunicativa da obra consiste no olhar falante, no luminar escrevente. A matéria forte que suas folhas vibram tem no texto-letra o adereço para que os menos avisados não deixem de chamar de livro o que tem nas mãos.
Silas de Paula, que o apresenta, filosofa, também poetante, ao lembrar que a “articulação da estética com a política” que o livro exprime, “é visualizada numa dimensão proliferadora de possibilidades e traz uma segunda maneira pela qual o gesto de fotografar pode se inscrever no mundo [também] uma produção de pensamento”, fotografia “como maneira de pensar, a imagem como o que pensa lugares, corpos, posturas no mundo”.
“Nem anjos nem demônios – o Congresso Nacional”: são flagras dessa instituição-coluna do Estado brasileiro, um corpo vivo de sua organização social, entocado no majestoso edifício central de Brasília, cuja concepção artística projeta, na paisagem, acima de tudo, o – H – de Humanidade. Moldado em curvas évicas que são a primordial maravilha do mundo –genial o camarada Oscar!
No essencial – percebo – move o esperantinense uma compulsão de fixar um retrato, mais didático possível, do que significa a Política. Nos modos e termos do acontecer da política no Congresso. Sampaio faz isso de maneira agradável, no ponto certo. Um livro que fala com fotografia e letras.
Não deixa de ser uma curiosidade a linguagem expressa no livro, as latências que explodem e reluzem da imagética de corpos humanos e físicos na babélica política congressiva. Doido de lúcido o Mauro. Até parece que quer enganar signos poderosos. Silas também assinala que “impossível separar a poética da política ou a política da poética”. Mas para Sampaio – para Silas e para mim – “elas caminham juntas e libertas”.
Mauro conhece o Congresso, respira política. Um jornalista formado entre as germinações da Ufpi. Deixou-se tocar ao resplendor estético que potencializa sua recusa ao reacionarismo e que o encaminha à travessia e o faz sensível às imagens insubordinadas e inconstantes, metamórficas e pensativas” de sua lavratura.
No seu didatismo diz de um contributo sobre a democracia representativa da qual o Congresso é seu desaguar. Do bicentenário Poder, mergulha na 54ª legislatura, 2011-2015. Anos impactados pela simbólica radical da primeira mulher à máxima magistratura política da nação. Anos e vésperas da hecatombe desconstituinte de valores sonantes que fazem confluir poesia e política.
Ele acerca seu testemunho ocular sobre a dinâmica e exercício das deputações e senatorias sem acentuações exorbitantes. É certo que traz Weber ao cenário e sua sugestão de que a política será “um esforço tenaz e enérgico para atravessar grossas vigas de madeira”, a exigir dos vocacionados “paixão, sentimento de responsabilidade e senso de proporção”. Isso, “para atingir o possível, tentado o impossível”. Mas o essencial de seu discurso estético-político não tateja teoria, mas antes exemplifica o jeito de como o continente Brasil desemboca no H icônico da sertania brasiliense.
Da Legislatura sob foco, de como soa e ressoa, do gramado às galerias, um sentido de povo e sua história, povo brasileiro. É muito bem selecionado o repertório de temas, e tipos, parlamentados na dita legislatura: Fábio Trad, Tiririca, Romário, Lula e Sarney. Tantos outros. A legislatura sob foco compreendeu os últimos quatro anos de Sarney no Congresso, o campeão de mandatos no Senado.
Aliás, o escritor Sarney e nosso autor Mauro, primos distantes, do Piauí ancestral, são Coelhos amanhados no colo de Domiciana e sob o patriarcado do sertão de Valério Coelho Rodrigues. Anatália é da querida Oeiras. Mauro, esperantinense. (Janeiro de 2016).
