
De um certo tempo para cá, venho sendo confundido com outra pessoa. Não às vezes, como o leitor pode imaginar, mas frequentemente. A sensação experimentada é um misto de estranheza e júbilo. No primeiro caso, por não compreender o motivo de tal confusão. No segundo, porficar lisonjeado em parecer, segundo alguns, com uma pessoa famosa do meio artístico piauiense. Trata-se do maestro Aurélio Melo, regente da Orquestra Sinfônica de Teresina e atual presidente da Fundação Monsenhor Chaves. Sem falar, ainda, do fato de ser um amigo querido e de longas datas, desde os tempos do saudoso Grupo Candeia. Talvez a semelhança ocorra, penso eu, porque usamos boinas e óculos.
Levar na esportiva é a melhor estratégia a ser adotada nessas situações. O que implica, convenhamos, uma boa dose de humor e leveza no trato com os admiradores do nobre regente. Como foi o caso de um senhor que, ao puxar conversa num consultório, relembrou uma apresentação da orquestra na igreja da Vila Operária, zona norte de Teresina. “Eu nunca havia visto, maestro, um espetáculo tão bonito”. Pois é, confirmei, a gente trabalha muito a fim de entregar o melhor da música clássica. E fui mais além, afirmando que nosso objetivo era fazer com que todos, indistintamente, mergulhassemna expressão de profundas emoções. No que ele, sensibilizado, agradeceu com um “Muito obrigado, maestro”.
Em outra ocasião, uma personaltrainer da Selfit, academia onde faço musculação, curiosamente indagou, após me cumprimentar, o que poderia esperar no próximo concerto. Ante minha hesitação em responder, foi logo afirmando: “Sou sua fã de carteirinha e amo seu trabalho”.
Escutado isso, embarquei, a fim de não estragar o encantamento da jovem, numa viagem onírica envolvendo Possidônio Queiroz e Maria da Inglaterra, dois grandes nomes de nosso cenário musical. Estou matutando um troço genial, disse cheio de orgulho:algo que combine a Valsa nº 9, do compositor oeirense, com o Peru rodou, cantiga de maior sucesso da cantora mais popular do Piauí.Que acha? – indaguei. “Uau, simplesmente um arraso”, expressou ela com entusiasmo.
Ao encontrar o Aurélio Melo num desses dias, no Sesc Cajuína, contei-lhe de pessoas estarem me confundindo com ele, além de manifestarem elogios ao maestro que tanto admiram. Sem falar ainda, ele acreditasse ou não, até em pedidos de autógrafo, que costumo dar com prazer, assinando uma rubrica inelegível. – Acrescentei que, longe de ficar chateado, recebia tudo isso com muito orgulho e alegria. Nada melhor do que ser parecido com alguém tão importante à cultura piauiense. Ele reagiu com boas gargalhadas e, na sua humildade, disse apenas: “A satisfação é toda minha, professor”.
Aurélio Melo e Wellington Soares
