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Safira Bengell narra em livro sua vida de arte, diversidade e resistência cultural

No Podcast Simbora, gravado no estúdio do portal Piauí Hoje, ela conversou com o professor Wellington Soares sobre a publicação

Da Redação

Sexta - 12/09/2025 às 15:20



Foto: Piauí Hoje Safira Bengel e Wellington Soares durante entrevista no PodCast Simbora
Safira Bengel e Wellington Soares durante entrevista no PodCast Simbora

“Não sou diva, nem estrela. Diva está em Hollywood, estrela está no céu. Eu sou uma operária do palco.” É assim que Safira Bengell, figura histórica da cena transformista brasileira, define sua trajetória de 50 anos dedicados à arte. Agora, parte dessa história está reunida no livro A arte de viver – a Dama da Diversidade Cultural brasileira, lançado em parceria com o escritor Enéias Barros.

No Podcast Simbora, gravado no estúdio do portal Piauí Hoje, ela conversou com o professor Wellington Soares sobre a publicação, que ela define como um documento de memória e resistência. Nele, Safira sua trajetória, nomes, espaços e movimentos culturais que marcaram época. “Quis mostrar à sociedade como lidar com pessoas diferentes. Famílias precisam aprender a conviver com filhos como eu tive que ser. É um livro para abrir diálogos.”

O lançamento do livro tem sido recebido com entusiasmo. Sem apoio de editoras no início, ela fez uma pré-venda e financiou a primeira tiragem. “Ninguém acreditou. Eu mesma vendi, paguei e lancei. Os 300 exemplares se esgotaram rápido. Depois vieram 500, depois mil.” O livro já circula em Teresina, Rio e outras capitais, sempre carregado em suas viagens.

Presença constante em feiras e debates culturais, a artista destaca que a obra é um convite à reflexão. “Palco é meu altar. Foi ele que me deu comida e dignidade. Agora quero que minhas memórias ajudem a abrir caminho para o respeito e a diversidade.”

Nascida em Teresina, em 1958, com o nome de batismo José Alberto Bringel de Souza, Safira deixou a capital piauiense aos 18 anos em busca de liberdade. “Eu sempre soube que nasci no corpo errado. A mulher sempre esteve dentro de mim.” A decisão de ir para o Rio de Janeiro foi dolorosa, mas necessária. “Saí com uma passagem só de ida, sem direito a voltar. Foi minha liberdade depois de muito sofrimento.”

No Rio, Safira se encantou com artistas como Maria Alcina e encontrou nas casas noturnas o espaço para se firmar no palco. “A gente dormia no Passeio Público, mas estava feliz porque era livre. Foi duro, mas maravilhoso”, lembra. A carreira deslanchou em casas como o Cabaré Casanova, e logo ela também passou a produzir espetáculos. “Juntei mulheres, juntei artistas e viajei o Brasil. Eu precisava sobreviver e aprendi a fazer tudo.”

Com a sinceridade que a acompanha desde jovem, Safira também fala sobre preconceito. “Hoje dizem que não há mais, mas é mentira. O preconceito é velado e às vezes ainda mais cruel. Antes, éramos respeitadas como profissionais, hoje muitas vezes somos vistas como banalidade.”

Aos 66 anos, com cinco décadas de palco e resistência, Safira segue firme como voz ativa da cultura e da diversidade. “Não quero apenas contar o que vivi, mas mostrar que é possível resistir e existir com dignidade. Se minha trajetória abrir caminhos para alguém, já terá valido a pena”, afirma.


Wellington Soares

Wellington Soares

Wellington Soares é professor, escritor e um dos editores da Revestrés. Tem uma longa atuação nas áreas da educação e da cultura no Piauí. Gosta de ouvir música, ver filmes, dormir em rede, ler livros e curtir os dois netos. Sem falar que é torcedor apaixonado do Flamengo.
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