Em meio à intensa polêmica política gerada por políticos e famosos de direita contra a campanha publicitária de fim de ano da Havaianas, internautas resgatam e publicaram nas redes sociais uma campanha lançadas em 2014, pela marca, cujo slogan era "O pé direito é nosso", protagonizada pelo então deputado federal e ex-jogador Romário, à época deputado federal pelo PSB, mas um figura publicamente alinhada com a direita política.
No resgate, muitos internautas replicaram o vídeo do YouTube e lembraram que 2014 era ano de eleição presidencial e Copa do Mundo e a peça não gerou críticas, alardes ou boicotes por parte de partidos ou apoiadores de esquerda. "A esquerda não fez o menor alarido e venceu a eleição, reelegendo a presidente petista Dilma Rousseff", lembra em tom de ironia um internauta.
A campanha de 2014, veiculada perto do pleito, mostrava Romário em uma loja da Havaianas, pedindo para separar cada pé de um par de chinelos em uma sacola diferente. Em cena posterior, ele aparecia assistindo a um jogo do Brasil usando apenas o pé direito do calçado. O comercial sugeria que o pé esquerdo havia sido enviado ao ídolo argentino Diego Maradona, finalizando com o locutor afirmando: "Havaianas, o pé direito é nosso".
Naquele contexto eleitoral, Romário, que se elegeria senador, demonstrou apoio público ao candidato do PSDB, Aécio Neves, chegando a participar de seu programa eleitoral. Apesar do protagonista ser uma personalidade política oposicionista e do uso do termo "pé direito" — que em 2025 foi interpretado por alguns como posicionamento contra a direita —, não houve movimentos de boicote à marca liderados pela esquerda.
Contraste com a polêmica de 2025
A situação atual é distinta. A nova campanha da Havaianas, estrelada pela atriz Fernanda Torres, diz: "Desculpa, mas eu não quero que você comece o ano com o pé direito". A frase, que a marca explica desejar "começar o ano com os dois pés", foi recebida por parcelas das redes sociais e por vozes da direita como um posicionamento político velado, levando a uma enxurrada de críticas e à necessidade de a marca bloquear comentários em suas redes.
O episódio revela uma assimetria nas reações: em 2014, com uma campanha explicitamente apropriando-se do "pé direito" em contexto eleitoral e com um garoto-propaganda da direita, não houve protestos organizados e nem boicotes da esquerda à marca. Em 2025, a interpretação de uma mensagem como potencialmente crítica à direita gerou uma rápida e intensa onda de indignação.
Polarização e cortina de fumaça
A comparação levanta debates sobre a politização do consumo, a dualidade de interpretações em diferentes contextos políticos e a forma como as marcas navegam em um ambiente público cada vez mais polarizado.
Mas a polêmica também foi interpretada como "cortina de fumaça" para mudar o foco da mídia e dos debates nas redes sociais e tentar abafar escândalos nacionais recentes como o que envolve os deputados federais Carlos Jordy e Sóstenes Cavalcante, ambos do PL, alvos de operação da Polícia Federal por suspeita de desvio de verba pública.
A operação, ocorrida dia 19 de dezembro, obteve grande repercussão nacional porque em um apartamento usado pelo deputado Sóstenes Cavalcante, em Brasília, a PF apreendeu quase R$ 470 mil em espécie dentro de um armário. Sóstenes é líder do PL na Câmara dos Deputados e um defensor ferrenho do ex-presidente Jair Bolsonaro e das pautas dos partidos de direita.
Romário em um loja da Havaianas em campanha publicitária de 2014
Fonte: Redes sociais/YouTube
Luiz Brandão
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