
Ascender numa empresa, sabemos todos, não é tarefa das mais fáceis. Implica uma série de nuances, dificuldades e tropeços. As promoções ocorrem, geralmente, por motivos alheios à competência técnica. Grau de parentesco e apadrinhamento político, infelizmente, continuam dando as cartas até hoje. Independente de setor público ou privado, os critérios não se alteram, apesar de alguns esforços nesse sentido. Foi pensando no drama vivido por milhares de funcionários no país, escanteados na firma, que uma profissional de RH, a gaúcha Luciana Azevedo, resolveu abrir um curso online que ensina a bajular o superior com método. E o que é mais interessante, os alunos aprendem a arte de ser puxa-saco sem perder a dignidade. Será?
Quando pus os olhos nessa notícia, veiculada num portal de circulação nacional, não quis acreditar e, tomado ainda de espanto, dei umas boas gargalhadas. No quesito criatividade, o brasileiro não tem pareia, superando qualquer limite de imaginação. Quem já havia pensado por aí, mundo afora, em oferecer um curso de bajulação com método e sem constrangimento? Lembrei de imediato, num flash de memória, de um famoso meme que circula nas redes sociais: “Minha vó me dizia: meu filho, tu vai ver coisa, vai ver coisa”. E não é que, de queixo caído, estou presenciando mesmo! Viralizado seu método no Instagram e no Youtube, Luciana tem, aproximadamente, 82 mil seguidores e 21 mil inscritos.
Como há um mal-estar geral entre os “de baixo”, nas corporações, a especialista em RH tem faturado uma boa grana. Afinal, todo empregado quer ter seu esforço reconhecido, aumento salarial e, sonho dos sonhos, subir na hierarquia da instituição. De preferência, ocupando um ótimo cargo. Se por meio da competência está difícil, não custa nada mudar de estratégia, contanto que os resultados apareçam. Para tanto, três lições são, afirma Luciana Azevedo, fundamentais nessa jornada íngreme: “Fingir respeito, fingir que engoliu o sapo e, sobretudo, fingir que o chefe é a sua inspiração”. Caso alguém fique melindrado, a especialista deixa claro – no início do curso – que fingir deve ser visto como sinônimo de maturidade emocional, e não se associa à ideia de falsidade.
Destacou, ainda, que existem, fruto de suas observações, dois perfis no universo do puxa-saquismo: o “pavão”, que exagera na bajulação de forma ostensiva, e o “inteligente”, cuja marca é a dissimulação e a esperteza. A esse último tipo, com quem prefere trabalhar, recomenda outras lições de suma importância – finja que é sempre bobão, deixe seu chefe brilhar, peça validação em tudo que faz, mostre-se vulnerável, cuidadoso ao sugerir mudanças e, nunca esquecer, aprenda a linguagem e os humores do seu chefe. Falei do curso a um grupo de amigos, numa conversa de bar, e a gozação foi imediata. Mas um detalhe, cá entre nós, deixou-me bastante grilado: por que todos eles, no final, queriam o contato da Luciana Azevedo?
