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Diário da greve geral em Teresina - Parte II


Manifestação

Manifestação Foto: Valmir Filho

Hora de sair pela cidade. Carros de som com músicas temáticas à paralisação, pessoas em cima discursando ao microfone sobre os malefícios trazidos ao país, principalmente econômicos, desde a posse da corja golpista no governo.

Tenho formação jurídica e junto com meus pais temos um pequeno comércio, no qual essa crise e a falta de dinheiro circulando afetaram bastante na rentabilidade. Manifestar-se neste momento era uma obrigação e defendi fecharmos as portas, mas minha decisão não foi acatada, democracia é assim.

Teresina é quente. O sol brilha fortemente quase todos os dias do ano e não foi diferente nesse, então não posso vacilar, pois venho de uma família geneticamente propensa a desenvolver câncer de pele e assim, mesmo com filtro solar, ia para as sombras quando podia. Digamos que 1/3 do percurso “vencia” esses raios solares.

A cidade parou pela manhã, inconteste. O movimento foi ordeiro e bastante pacífico, ocorrendo (visto por mim) apenas um princípio de briga entre os cidadãos distribuidores de água no carro de apoio, nada de mais e logo resolvida. Sorte nossa a nossa mídia, mesmo seguindo os ditames do império golpista, não é tanto canalha. Melhor não confiar.

Ao passarmos pelos prédios de repartições, a simpatia pelo movimento mostrava-se em gestos e alguns cartazes. Nas lojas fechadas, os funcionários ficaram sentando à porta e indaguei um porque estavam ali, de pronto responde “por nossa livre e espontânea vontade”, então tá. Isso é muito amor pelo patrão, ficar na porta do estabelecimento mesmo depois de liberado beira a uma identificação muito forte. Seguimos.

Na igreja de São Benedito, devido à altura, pude perceber como o movimento era grande. Uma multidão aderiu, já não era apenas uma classe de trabalhadores ou estudantes e, sim, a cidade. Mostrando sua voz de não apoio à destruição daquilo entendido como o futuro para todos. Não garantir direitos é sinônimo de retrocesso e isso, definitivamente, Teresina não aceitou e mandou o seu recado.

Encerrada a passeata, a praça da Liberdade foi o palco no qual ouvimos discursos bonitos e outros nem tanto das pessoas ali presente. Tivemos a honra de um Desembargador do Trabalho, uma grande autoridade jurídica nacional, mandar o recado “eles são bandidos e deveriam estar presos”, foi um gigante por esse ato. Sem falar na senadora Regina, a primeira mulher no exercício do cargo pelo Piauí, que nos falou “os donos das previdências privadas é que estão financiando essas reformas”, esclarecendo outros pontos relevantes para a mobilização contrária aos golpistas.

E assim foi esse dia histórico para o país, onde houve uma previsão de 35 milhões de pessoas aderiram ao movimento em todo território, número bastante expressivo. Infelizmente nossa grande mídia, entendida por muitos setores como braço direito dos golpistas, não deu a cobertura e destaques merecidos, resumindo o movimento à desordem, bagunça e “de vagabundos”. Sem problemas, hoje temos as redes sociais para mostrarmos a verdade.

Findado tudo, como encontrei o Eugênio, amigo que mora em Timon, tive a sorte de voltar com ele para nossa cidade. Fiquei sabendo, quando já estava em Teresina, das manifestações por lá e foram também bem aceitas e vistas por todos. Em suma, foi muito bom poder sair às ruas e fazer algo de concreto pela melhoria do sistema.

Por isso, foi um dia de vitória e de continuarmos na luta.  E lembrando de Falcão do Rappa, VALEU A PENA.

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Joaquim Lourenço

Joaquim Lourenço

Joaquim Lourenço é licenciado em Letras pela Universidade Federal do Piauí e advogado pela FAP Mauricio de Nassau
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