Conciso

Conciso

Artigo Joaquim Lourenço: Diário da greve geral em Teresina- Parte I

Sábado - 29/04/2017 às 11:04



Foto: Roberto Araújo Manifestação
Manifestação

Este dia iniciou-se na noite anterior, quando minha sobrinha Luíze pediu-me para deixá-la na escola. Indagada por qual motivo desejava minha companhia respondeu com ar infantil “porque quero”. A aceitação de minha parte veio sem muito pestanejar e, assim, poderia ter ideia de como estava a praça Rio Branco, local de concentração do movimento grevista em Teresina.

Saindo do colégio desloquei-me até lá, mas não ficaria de pronto, pois prometi voltar até minha casa, devido possibilidade de precisarem do transporte e assim o fiz. No rádio, escuto a excelente música na voz de Falcão (O Rappa) “Valeu a pena”. Mais sugestivo para aquilo a acontecer mais tarde, impossível.

Como não dispunha de automóvel e a frota de ônibus estava toda parada, usei minhas pernas até lá. Resido em Timon, cidade do Maranhão vizinha a capital Teresina, e tive a sorte de morar não muito longe, calculei meia hora de caminhada e acertei por alto.

Ressalvo, atravessando o rio Parnaíba pela ponte da amizade, como ser bonita aquela paisagem. Mesmo com toda degradação trazida pelo progresso desenfreado (muita poluição e até odor) o Velho Monge continua a encantar com sua beleza. Não foi à toa que Da Costa e Silva, grande poeta piauiense, teve-o como inspiração.

Passando pelo centro comercial, era notória a resistência de algumas lojas abertas em detrimento de um maior número fechadas. Chegando à praça, deu-me uma pequena aflição por não ser muito o número de pessoas, mas não me preocupou, importando a qualidade. Logo esse número cresceria, e como.

O ambiente era acolhedor. Pessoas de todas as classes e raças estavam lá, 90% consciente do absurdo das tais reformas. A conversa nutria naturalmente, conhecia as pessoas e a sensação era sermos amigos de longas datas; sem falar naquelas a utilizar o microfone representando alguma categoria prejudicada pelo pacote de maldades do governo golpista. Convenhamos quase todas, menos a patronal que manda nesse governo e há quem diga ser a verdadeira autora por trás dessas reformas draconianas.

Ainda na praça Rio Branco, tive o contentamento de reencontrar o senhor Chico Reis, “parente” meio que distante mas sempre cordial e educado quando nos víamos. “Seu” Chico deu uma aula de humanismo, civilidade e fraternidade. Bancário aposentado, não tem perigo de mexerem em seus rendimentos e, dessa forma, não precisava e seria compreensível não se fazer presente por lá.

Mas “seu” Chico estava, não só presença física mas o seu espírito jovial. Falou, na autoridade de quem soube aproveitar bem a vida, como há diferença hoje e no seu tempo. Explanando, antigamente seus colegas de profissão eram “irmãos” nos quais todos se preocupavam mutualmente, hoje cada um quer chegar ao topo e não se importa se precisa “derrubar” o companheiro.

“Seu” Chico mostrou-se ainda maior quando relatou o momento de sua aposentadoria, no ano de 2006 e depois de 32 anos de contribuição e trabalho. Perderia 2.500,00 de seus proventos mas entendia ser aquela hora de parar e “dar a vez” para os outros; ainda mais, veio participar do ato de paralisação para mostrar sua indignação com as maldades feitas e prejudiciais a esta e futura gerações. “Seu” Chico realmente é um espírito jovem e evoluído.

Esta apenas foi a concentração e nela ocorreram outras histórias. Falarei no próximo texto como foi a caminhada.

Siga nas redes sociais
Joaquim Lourenço

Joaquim Lourenço

Joaquim Lourenço é licenciado em Letras pela Universidade Federal do Piauí e advogado pela FAP Mauricio de Nassau

Compartilhe essa notícia: