
Depois de anos de decadência política e eleitoral, o PSDB — legenda que protagonizou o golpe parlamentar de 2016 contra a presidenta Dilma Rousseff — caminha para um desfecho melancólico. Sem força para se manter como um partido relevante no cenário nacional, os tucanos devem oficializar nas próximas semanas uma fusão com o Podemos, em tentativa de sobrevivência. A informação foi publicada inicialmente pela Folha de S.Paulo, em matéria divulgada neste sábado (19).
A decisão ocorre em meio à reta final de um processo interno que busca definir o futuro do partido. A sigla, que já foi uma das mais influentes do país — chegando a eleger 99 deputados federais, sete governadores e 16 senadores em 1998 — vive seu pior momento. Nas eleições mais recentes, o PSDB encolheu drasticamente, elegendo apenas 13 deputados, três governadores e nenhum senador. O colapso eleitoral ficou ainda mais evidente nas eleições municipais de 2024, as piores da história do partido.
O plano atual da cúpula tucana envolve uma fusão com o Podemos e, em seguida, a formação de uma federação com o Solidariedade. A nova legenda deverá se chamar, provisoriamente, #PSDB+Podemos, sendo presidida pela deputada Renata Abreu (SP), dirigente do Podemos. A criação de um novo programa partidário, com colaboração de economistas ligados historicamente ao PSDB, também está em curso. A ideia é dar uma "repaginada" na imagem pública da agremiação, que perdeu completamente seu papel de centro político no Brasil.
O deputado Aécio Neves (PSDB-MG), presidente do Instituto Teotônio Vilela, tentou justificar o movimento como um recomeço: “Estamos prestes a construir um novo caminho para o centro democrático brasileiro e para os milhões de brasileiros que não se sentem confortáveis nem com o que representa o lulopetismo nem com o que representa o bolsonarismo”. A fala ignora, contudo, o papel fundamental que o próprio PSDB desempenhou no fortalecimento da extrema direita ao se aliar sistematicamente a Jair Bolsonaro nos últimos anos.
A aproximação com o Podemos representa uma guinada pragmática após tentativas frustradas de acordos com outras siglas, como MDB, PSD, PDT e Republicanos. Todos esses diálogos naufragaram por conta de divergências ideológicas e conflitos estaduais. No caso do PDT, por exemplo, a aliança foi descartada porque a sigla integra a base do presidente Lula, o que é vetado por setores da direção tucana. Já o Republicanos chegou a ser considerado como parceiro preferencial por Eduardo Riedel, governador do Mato Grosso do Sul, mas não aceitou abrir mão do próprio nome nem da linha programática.
O desmonte do partido é visível também entre seus quadros mais relevantes. O governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, já sinalizou que deve deixar a legenda e migrar para o PSD, seguindo o caminho da governadora de Pernambuco, Raquel Lyra. Leite, contudo, declarou que só tomará a decisão após o encerramento do processo de fusão. “Em respeito à história que construímos juntos, qualquer decisão sobre meu futuro partidário será tomada apenas após a conclusão desse processo interno, que terá um desfecho até o fim do mês de abril”, afirmou em suas redes sociais.
Em Mato Grosso do Sul, a debandada pode ser ainda mais grave. O governador Eduardo Riedel estuda convite para se filiar ao Republicanos, o que poderia significar a migração de quase um quarto da bancada tucana na Câmara e mais da metade das prefeituras controladas pelo partido em todo o país. “Se você não tiver propaganda na televisão, não atinge a população toda, fica muito difícil fazer campanha”, disse o deputado Dagoberto Nogueira (PSDB-MS), evidenciando a preocupação com estrutura e recursos eleitorais.
A aposta da direção tucana é que a fusão com o Podemos e a federação com o Solidariedade possam reverter esse quadro. Segundo estudo elaborado pelas duas legendas, o novo agrupamento teria mais fundo partidário do que MDB e PSD, além de mais dinheiro público para campanhas do que o Republicanos. A expectativa é reunir ao menos 33 deputados federais, sete senadores e três governadores.
A trajetória do PSDB nos últimos anos é marcada por contradições e oportunismo político. Tendo nascido com uma proposta social-democrata, a sigla se distanciou completamente de suas origens, aderiu ao neoliberalismo radical e, mais recentemente, apoiou pautas ultraconservadoras. A participação ativa no impeachment de Dilma Rousseff, sem base jurídica, abriu caminho para o avanço da extrema direita e para a ascensão de Bolsonaro. Ao final, o PSDB foi engolido pelo próprio monstro que ajudou a criar.
A fusão com o Podemos pode adiar o colapso formal, mas não resgata a relevância perdida. Para muitos analistas, o partido que um dia foi liderado por nomes como Mario Covas, José Serra e Fernando Henrique Cardoso tornou-se irreconhecível — um espectro do que foi no passado. Seu fim, agora disfarçado de recomeço, carrega o peso das decisões políticas que o levaram à irrelevância.
Aécio Neves não aceitou a derrota para Dilma Rousseff e começou o processo de golpe parlamentar contra a democracia
Fonte: Brasil 247