A compreensão da gratuidade ativa se aprofunda à medida que incorporamos, em nossa prática cotidiana,gestos que se orientam no sentido do amor gratuito testemunhado por Jesus de Nazaré, conforme os registros dos Evangelhos, em especial o de João. Este amor não é passivo ou contemplativo; é essencialmente ativo, como evidenciado no "mandamento novo": "Amai-vos uns aos outros como eu vos amei. Nisto todos conhecerão que sois meus discípulos, se vos amardes uns aos outros”(Jo 13, 34-35).
Madre Teresa de Calcutá (1910-1997), nascida AnjezëGonxheBojaxhiu na Albânia, personifica de maneira extraordinária essa gratuidade ativa ao dedicar sua vida inteiramente aos "mais pobres dos pobres". Sua jornada espiritual iniciou-se em 1928, quando ingressou nas Irmãs de Loreto na Irlanda, e culminou na fundação das Missionárias da Caridade em 1950, na cidade de Calcutá, Índia. Inspirada diretamente pelo amor gratuito de Jesus, como retratado no Evangelho de João, Madre Teresa desenvolveu a capacidade única de ver em cada pessoa necessitada o próprio Cristo.
Seu compromisso inabalável com doentes, órfãos, leprosos e moribundos reflete diretamente o mandamento de Jesus em João 13:35, onde o amor mútuo se torna o sinal distintivo dos verdadeiros discípulos. A dedicação de Madre Teresa aos marginalizados não era motivada por reconhecimento público ou ganho pessoal, mas por uma gratuidade ativa que imitava perfeitamente a doação total de Jesus na cruz - um amor que entrega a vida pelos amigos, como descrito em João 15:13.
A obra "Um Chamado à Misericórdia: Corações para Amar, Mãos para Servir" (2016), cuidadosamente compilada pelo Padre Brian Kolodiejchuk, reúne escritos e reflexões profundas de Madre Teresa e depoimentos de suas discípulas que destacam sua espiritualidade firmemente enraizada no amor gratuito de Jesus.Ela escreveu:“O amor em ação é o amor que me é mais caro. Para esse tipo de amor, nós extraímos força pela oração. Isso é amor real, e nós damos a vida por esse tipo de ação”.
Em um trecho se relata que Madre Teresa disse: “Dê o que você puder dar e, se não tiver o que dar, não se preocupe; dê suas mãos para servir e seu coração para amar. Ajudando os outros, você será compensado com paz e alegria”.
Uma percepção particularmente penetrante de Madre Teresa: "A maior doença hoje é não ser desejado, não ser amado, ser abandonado, esquecido... A pobreza do Ocidente é uma pobreza de solidão e de perda do amor."
Esta compreensão conecta-se profundamente com João 4:1-42, onde Jesus oferece água viva à mulher samaritana, um ato de amor gratuito que transcende todas as barreiras sociais. Madre Teresa aplicava consistentemente essa gratuidade em contextos globais diversos, estendendo seu amor tanto a ricos quanto a pobres, combatendo a "pobreza espiritual" através de atos simples de presença amorosa e cuidado desinteressado.
Durante uma viagem a Veneza, ela visitou uma idosa solitária em um asilo luxuoso, que se queixava amargamente do abandono por parte de seus filhos. Madre Teresa passou horas preciosas com ela, oferecendo companhia totalmente gratuita, e testemunhou a mulher literalmente reviver emocionalmente.
As narrativas pessoais compartilhadas por Madre Teresa ilustram vividamente sua gratuidade ativa, sempre intimamente ligada ao amor gratuito de Jesus. Uma dessas histórias elarelatou: “Nunca vou esquecer o homem que recolhi de um esgoto a céu aberto- havia vermes rastejando por todo o seu corpo, exceto no rosto... Tirei-o de lá, levei-o para a nossa casa... Ainda não havia começado a limpá-lo, mas as únicas palavras que ele disse foram: “Eu vivi como um animal na rua, mas vou morrer como um anjo, amado e bem cuidado”. Duas horas mais tarde... ele morreu.Mas havia uma alegria muito radiante no seu rosto. Nunca vi esse tipo de alegria- real-, a alegria que Jesus veio para nos dar.”Nesse relato vemos como a gratuidade é circular: gratuidade gera gratuidade!
Outra narrativa tocante envolve uma criança faminta que Madre Teresa encontrou durante uma severa fome em Calcutá. Ela dividiu generosamente seu próprio pão, mas a criança, surpreendentemente, insistiu em compartilhar sua porção com sua família. Profundamente tocada por esse gesto, Madre Teresa viu nisso o amor gratuito de Jesus sendo multiplicado, de forma similar ao milagre dos pães descrito em João 6:1-14, onde Jesus alimenta multidões sem custo algum. "A criança me ensinou que o amor verdadeiro é partilhar até o que se tem de pouco", refletiu ela, destacando como a gratuidade ativa naturalmente inspira ciclos virtuosos de misericórdia e generosidade.
Os ensinamentos profundos de Madre Teresa, constantemente inspirados no amor gratuito de Jesus retratado no Evangelho de João, podem ser aplicados de maneira prática hoje para fomentar a gratuidade ativa em nossa sociedade. Em contextos urbanos contemporâneos, como o combate à crescente solidão nas grandes cidades, indivíduos podem imitar seu exemplo visitando regularmente idosos em asilos, ecoando fielmente João 13:35.
Organizações como as próprias Missionárias da Caridade continuam esse trabalho incansavelmente, mas qualquer pessoa pode começar com gestos aparentemente simples, como oferecer tempo de qualidade a um vizinho isolado pela pandemia ou outras circunstâncias.
No âmbito das questões ambientais urgentes, a gratuidade ativa pode se manifestar em ações voluntárias de limpeza de rios ou plantio de árvores, refletindo o amor de Jesus pela criação inteira, como sugerido em João 1:3. Em questões sociais críticas, como a atual crise migratória global, voluntários em organizações como Médicos Sem Fronteiras praticam gratuidade autêntica ao acolher refugiados, de maneira similar ao cuidado dedicado de Madre Teresa com os marginalizados. No competitivo mundo corporativo, líderes visionários podem promover culturas de trabalho baseadas em serviço gratuito, como mentoria sem custo ou programas de desenvolvimento pessoal, inspirados diretamente em João 15:13.
A beleza da gratuidade ativa, como demonstrada por Madre Teresa, reside em sua simplicidade acessível e seu impacto transformador. Ela não requer recursos vastos ou habilidades extraordinárias, mas apenas uma disposição interior de se doar. Como Jesus se entregou livremente por amor, cada pessoa pode encontrar maneiras únicas de praticar essa gratuidade, seja através de um sorriso genuíno, uma palavra de encorajamento, uma visita inesperada ou um gesto de perdão.
A gratuidade ativa, firmemente enraizada no amor gratuito pregado e vivido por Jesus no Evangelho de João, e magistralmente exemplificada por Madre Teresa, revela-se essencial para construir uma sociedade verdadeiramente fraterna. Em um mundo cada vez mais fragmentado e individualista, ela promove ativamente a fraternidade que Jesus almejava quando orou em João 17:21 pela unidade de todos os seus seguidores.
Refletindo sobre esse legado extraordinário, percebemos que esse amor não é uma utopia inalcançável, mas uma prática concreta e transformadora. Ele inicia-se no coração individual e irradia naturalmente para o coletivo, combatendo o egoísmo predominante através do serviço desinteressado e da doação gratuita. Madre Teresa nos lembra com sabedoria: "Nem todos podemos fazer grandes coisas, mas podemos fazer pequenas coisas com grande amor".
Sua vida extraordinária comprova definitivamente que a gratuidade ativa gera impacto duradouro e multiplicador, inspirando uma sociedade onde o amor gratuito de Jesus prevalece sobre o egoísmo, fomentando paz autêntica e justiça social. Que possamos, como ela, responder corajosamente ao chamado divino de João 15:12, amando ativamente e gratuitamente para construir um mundo mais solidário, compassivo e verdadeiramente humano.
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