O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes, afirmou em entrevista publicada nesta segunda-feira (18) pelo The Washington Post, em Brasília, que não pretende ceder diante das pressões internas e externas relacionadas ao combate à desinformação e aos ataques à democracia no Brasil.
A declaração ocorre após o governo dos Estados Unidos, sob a liderança de Donald Trump, impor tarifas de 50% a produtos brasileiros, incluir o magistrado na lista de sanções da Lei Magnitsky e revogar seu visto de entrada no país. “Não existe a menor possibilidade de recuar nem um milímetro”, disse Moraes, reforçando que seguirá a análise das acusações e provas contra Jair Bolsonaro (PL) e aliados investigados por tentativa de golpe.
Segundo o jornal americano, Trump acusa Moraes de promover uma “caça às bruxas” contra Bolsonaro, seu aliado político, e critica as restrições às redes sociais impostas pelo ministro, como a suspensão do X (antigo Twitter). A reportagem descreveu Moraes como um “xerife da democracia”, lembrando que Elon Musk, dono da plataforma, já o chamou de “Darth Vader do Brasil”. Para o Washington Post, ao colocar Bolsonaro em prisão domiciliar e bani-lo das redes, Moraes “silenciou uma das figuras mais conhecidas da direita global”.
A entrevista destacou ainda que Moraes assumiu a relatoria do inquérito sobre fake news em 2019, em meio à escalada de ataques do então presidente Bolsonaro e de seu filho Eduardo ao STF. O ministro comparou a propagação da desinformação ao avanço de uma doença que exige prevenção. “O Brasil foi infectado pela doença do autoritarismo. Nosso papel é aplicar a vacina”, afirmou. Ele lembrou que, ao contrário dos Estados Unidos, onde nunca houve golpe, o Brasil já viveu períodos de ditadura sob Getúlio Vargas e durante o regime militar de 1964, o que justificaria, em sua visão, uma vigilância permanente.
Moraes também rebateu as críticas de concentração de poder, apontando que mais de 700 decisões de sua relatoria já foram analisadas pelo plenário do STF, sem que nenhuma tenha sido revertida. “Você sabe quantas eu perdi? Nenhuma”, disse. Ele atribuiu a atual tensão entre Brasil e Estados Unidos a “narrativas falsas”, que, segundo ele, foram amplificadas por figuras como o deputado Eduardo Bolsonaro e envenenaram a relação diplomática. “O que precisamos fazer, e o que o Brasil está fazendo, é esclarecer as coisas”, declarou.
Na entrevista, o ministro ressaltou sua admiração pela tradição constitucional americana, citando nomes como John Jay, Thomas Jefferson e James Madison, mas admitiu que sua vida pessoal foi profundamente impactada pelo enfrentamento ao autoritarismo. “É agradável passar por isso? Claro que não é agradável. Mas, enquanto houver necessidade, a investigação vai continuar”, concluiu.
Fonte: Brasil 247
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