Política

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Memes políticos disputam imaginário com humor, mas podem desinformar

Linguagem foi incluída nas campanhas para transmitir ideologias

Da Redação

Quinta - 03/10/2024 às 09:01



Foto: Tânia Rêgo/Agência Brasil Memes políticos
Memes políticos

Em um momento marcante do debate presidencial de 2022, a candidata Soraya Thronicke (Pode) disparou: "O senhor é um padre de festa junina", referindo-se ao concorrente Padre Kelmon (PL). A declaração, feita em 29 de setembro, rapidamente se espalhou na internet, transformando-se em um meme que ressoou na memória do eleitorado.

Os memes, definidos como conteúdos que viralizam no ambiente virtual, vão além do mero entretenimento. Segundo o professor Viktor Chagas, do Departamento de Estudos Culturais e Mídia da Universidade Federal Fluminense (UFF), eles também desempenham funções políticas significativas.

Chagas, autor da pesquisa "A política dos memes e os memes da política", destaca que o termo "meme" não se originou na internet. Criado pelo biólogo Richard Dawkins em 1976, o conceito inicialmente se referia à transmissão de informações culturais ao longo das gerações. Com o tempo, a palavra evoluiu e, na virada do século XXI, passou a designar o compartilhamento de imagens, vídeos e piadas virais na internet.

“Hoje, podemos dizer que existem dois tipos de memes: antes e depois da internet, pois a apropriação digital trouxe um significado novo e único”, explica.

Os memes também estão associados a nichos culturais específicos e se caracterizam por humor e múltiplas camadas de informação, funcionando como uma forma de construção de identidade e pertencimento. Chagas observa que há uma verdadeira economia em torno dos memes, facilitada por geradores de memes — aplicativos que permitem a criação rápida e fácil de conteúdos.

O papel dos memes na política

Débora Salles, pesquisadora do Laboratório de Estudos de Internet e Redes Sociais da UFRJ, identifica o período de 2008 a 2012 como o marco inicial do uso de memes em campanhas políticas. A campanha de Barack Obama nos EUA foi um divisor de águas, estabelecendo precedentes para a utilização de memes no cenário político.

No Brasil, as eleições de 2014 representaram a entrada efetiva dos memes na política, com Dilma Rousseff e Marina Silva sendo alvos de conteúdos que, muitas vezes, tinham um caráter misógino. Chagas aponta que os memes podem ser utilizados estrategicamente para moldar percepções sobre figuras políticas, ajudando a difundir ataques ou defender ideologias.

Os memes também são criados por apoiadores políticos e movimentos sociais para criticar adversários e transmitir valores. Eles oferecem uma forma de expressar criatividade, esclarecer conceitos e desarmar críticas.

Desinformação e seus desafios

Salles enfatiza que muitos memes não têm a intenção de disseminar desinformação, mas alguns grupos extremistas têm explorado esse formato para propagar discursos de ódio e desinformação. A pesquisadora diferencia informação falsa de desinformação; a primeira pode ser refutada, enquanto a segunda abrange um espectro mais amplo, envolvendo informações verdadeiras descontextualizada.

Os memes podem, portanto, criar confusão entre o aceitável e o problemático, dificultando a moderação nas plataformas digitais. Salles ressalta que as redes enfrentam desafios na identificação e remoção de memes problemáticos, uma vez que não divulgam como administram esse conteúdo.

Ela alerta os eleitores sobre o uso do humor como uma ferramenta para expressar opiniões que, de outra forma, não seriam compartilhadas. Assim, é vital que os cidadãos desenvolvam habilidades interpretativas para discernir se um meme é apenas uma piada ou uma estratégia de comunicação mais sutil.

Fonte: Agência Brasil

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