
A Polícia Federal concluiu que uma rede clandestina de espionagem operou dentro da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) durante o governo do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), rastreando ilegalmente ministros do Supremo Tribunal Federal (STF), parlamentares, jornalistas e servidores públicos. O relatório final do inquérito foi encaminhado nesta terça-feira (17) ao STF e aponta o uso do software israelense FirstMile para vigiar opositores, sem qualquer autorização judicial.
A investigação, parte da operação Última Milha, identificou que a estrutura de vigilância atuava com objetivos políticos e eleitorais, especialmente no contexto das eleições de 2022. A PF solicitou o indiciamento de Bolsonaro, de seu filho Carlos Bolsonaro (Republicanos-RJ), do deputado Alexandre Ramagem (PL-RJ), ex-diretor da Abin, e de servidores da agência, incluindo integrantes da atual gestão, por tentativa de obstrução das investigações.
Segundo o relatório, “a espionagem foi viabilizada por uma estrutura clandestina montada dentro da Abin”, com o uso de tecnologia que acessava dados de geolocalização em tempo real a partir de falhas nas redes de telefonia.
Alvos identificados pela PF como espionados ilegalmente:
Poder Judiciário
- Alexandre de Moraes (ministro do STF)
- Dias Toffoli (ministro do STF)
- Luís Roberto Barroso (ministro do STF)
- Luiz Fux (ministro do STF)
Poder Legislativo
- Arthur Lira (PP-AL), então presidente da Câmara dos Deputados
- Kim Kataguiri (União-SP), deputado federal
- Rodrigo Maia, ex-presidente da Câmara
- Joice Hasselmann, ex-deputada federal
- Jean Wyllys (PSOL), ex-deputado federal
Senadores da CPI da Covid:
- Alessandro Vieira (MDB-SE)
- Omar Aziz (PSD-AM)
- Renan Calheiros (MDB-AL)
- Randolfe Rodrigues (sem partido-AP)
Poder Executivo e servidores
- João Doria, ex-governador de São Paulo
- Hugo Ferreira Netto Loss (servidor do Ibama)
- Roberto Cabral Borges (servidor do Ibama)
Auditores da Receita Federal:
- Christiano José Paes Leme Botelho
- Cleber Homen da Silva
- José Pereira de Barros Neto
Jornalistas
- Mônica Bergamo
- Vera Magalhães
- Luiza Alves Bandeira
- Pedro Cesar Batista
O relatório mostra que os alvos foram selecionados por critério político ou por críticas ao governo federal. A Abin, na época, teria operado como braço de vigilância do Palácio do Planalto.
O sistema de espionagem funcionava fora dos parâmetros legais, sem qualquer controle externo ou autorização judicial
Além do monitoramento ilegal, o inquérito também apura tentativas de interferência na investigação por parte de membros da Abin na atual gestão. O caso segue sob sigilo no STF. A Procuradoria-Geral da República deverá se manifestar antes que o ministro Alexandre de Moraes decida sobre o recebimento da denúncia.
Caso os indiciamentos sejam acolhidos, o escândalo da “Abin Paralela” poderá se tornar uma das principais acusações criminais contra Bolsonaro e aliados no Supremo.
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Fonte: Brasil 247