
Em artigo publicado na Ilustríssima, da Folha de S.Paulo, o escritor Marcelo Rubens Paiva traça um retrato íntimo do casal presidencial Luiz Inácio Lula da Silva e Janja da Silva. A partir de dois encontros recentes — um em Brasília e outro durante a cerimônia de reabertura do Palácio Capanema, no Rio de Janeiro — o autor compartilha impressões pessoais e críticas ao tratamento dado à primeira-dama por parte da imprensa, de setores conservadores e até da própria esquerda.Para Paiva, Janja é vítima de um preconceito que mistura misoginia e conservadorismo institucional.
“As suspeitas de que Janja é perseguida pela ciumeira da esquerda velha e de conservadores, que não veem possibilidade de uma esposa influir nas decisões do marido, se confirmaram”, escreveu. O texto — intitulado “Janja não é primeira-dama reborn” — denuncia a expectativa retrógrada de que a companheira do presidente deva ser submissa, silenciosa e decorativa.
O primeiro encontro com o casal ocorreu em uma visita fora da agenda oficial ao Palácio do Planalto. Segundo o autor, Lula o recebeu com entusiasmo e disposição, aparentando boa forma física e mental. “Acorda às 5 da manhã e malha por duas horas”, relatou Paiva. O presidente, aos quase 80 anos, revelou ainda planos para a aposentadoria: gostaria de viver em Salvador, embora Janja prefira o Rio de Janeiro.
A convivência entre o casal impressionou o escritor. “Dividiram a mesma cadeira, diante de mim”, narrou. Segundo ele, Lula e Janja demonstram afeto, cumplicidade e sincronia. “Um parece adivinhar o que o outro pensa”, escreveu. A narrativa desmistifica a ideia de que Janja seria apenas uma cuidadora de um presidente idoso e mostra uma parceria sólida, afetiva e política.
O segundo encontro se deu na cerimônia da Ordem do Mérito Cultural, que marcou a reabertura do Palácio Capanema. O evento homenageou nomes como Zezé Motta, Liniker, Tony Tornado, Gilberto Gil e Fernanda Torres, entre outros. Apesar da diversidade e da importância cultural da ocasião, a manchete que se destacou foi a de que Lula teria concedido a Janja a principal honraria da noite — o que, segundo Paiva, não condiz com os fatos: a honraria foi concedida pelo Ministério da Cultura.
Marcelo Rubens Paiva finaliza com uma crítica contundente à cobertura midiática e ao machismo que ainda pauta a política brasileira: “Não querem Lula na Rússia, nem na China, redesenhando o comércio mundial. E querem uma primeira-dama reborn, um cabide sem voz, sem ouvido, sem olhos, porque no Brasil mulher não pode ter opinião, nem se meter em conversa dos maridos”.
Diante de tanta resistência e desconfiança, o recado que deixou na dedicatória do livro entregue ao casal parece ainda mais simbólico: “Resistam”. E, ao que tudo indica, é exatamente isso que eles têm feito.
Fonte: Brasil247