
A família da adolescente M.E.T.P.G,, de 13 anos, vítima de estupro no Escolão do Mocaminho, Zona Norte de Teresina, pede justiça. A garota é portadora de microcefalia e atrofia cerebral e foi alvo de crueldade dentro da própria escola onde estuda. Segundo a família, o suspeito do crime é o cuidador, um técnico em enfermagem capacitado para auxiliar alunos com deficiência. Apesar de identificado, o suspeito continua em liberdade.
A denúncia do estupro foi feita há 7 dias, em reportagem do portal Piauí Hoje.Com. Nesta quarta-feira (25) o portal conversou com uma das tias da menina. Ela pediu para preservar a identidade da família. A servidora pública de iniciais J.S. relata que toda a família está desesperada e bastante abalada, sem ao menos ter como se consolar devido ao isolamento social. J.S. revelou que há grande possibilidade de outras crianças terem sido vítimas do estuprador.
"Ele [cuidador] não agiu sozinho e a minha sobrinha não foi a única vítima dele. O diretor da escola não quer falar nada, mas amanhã ele vai prestar depoimento na Delegacia de Proteção à Criança e Adolescente (DPCA). É estranho tudo isso! Como é que o cuidador tirava a M.E.T.P.G de dentro da sala de aula no início da tarde e levava ela de volta no final da aula e ninguém achava isso estranho? A escola é integral [Escola de Tempo Íntegral] e de manhã ela é acompanhada por uma cuidadora. A tarde é esse homem que a gente nem sabia", revela J.S.
A família percebeu que M.E.T.P.G, foi violentada no dia 18 de março, último dia de aula devido à pandemia do novo coronavírus. A mãe da adolescente foi dar banho nela e viu que os seios da garota estavam feridos. Em seguida ela percebeu que a região genital também estava lesionada.
"A M.E.T.P.G, já vinha dando sinais e a gente nunca quer acreditar, a gente não enxergava o que estava acontecendo. Já tinha ferimento na região íntima dela antes, mas como ela menstruou recentemente e passou a usar absorvente, a mãe dela levou ao médico imaginando que seria alergia ao absorvente, portanto a menina não deixou ser examinada pelo médico. Ela gritava e não queria que ninguém tocasse nela".
A família acredita que M.E.T.P.G,, vinha sendo estuprada desde o início do ano letivo 2020 e foram os próprios colegas de classe da garota ajudaram a família a identificar o agressor. "A minha sobrinha tem dificuldade de falar devido ao problema de saúde dela. Ela mudou o comportamento, ela era carinhosa, grudenta, gostava de abraçar e de repente ficou agressiva e não queria que a gente desse mais banho nela. Quando percebemos tudo, jamais imaginamos que seria na escola e então ela falava de um monstro que pegava ela na escola. A mãe foi até a escola para conversar com a cuidadora e lá os amiguinhos falaram que a cuidadora só ficava com minha sobrinha na parte da manhã e a tarde era um homem quem ficava e sempre a retirava da sala de aula. Foi ai que a ficha caiu", detalha J.S.
No mesmo dia, a mãe da vítima, a vigilante D.T.P.S. registrou um Boletim de Ocorrência (B.O) na Central de Flagrante de Gênero. No primeiro depoimento à polícia, a mãe disse que após perceber as lesões no corpo da filha, passou a insistir para que ela relatasse o que houve. A menina disse que um homem a retirava de dentro da sala de aula e a levava para uma casinha. De acordo com a mãe, a "casinha" seria uma local dentro da escola e onde teria ocorrido a sequência de abusos sexuais contra a adolescente.
Na quinta-feira (19), por volta das 23 horas, a família levou a menor ao Hospital Unimed Ilhotas para avaliação médica, onde foi solicitado exames ao Serviço de Atenção à Mulheres Vítimas de Violência Sexual (SAMVIS), da Maternidade Dona Evangelina Rosa. O laudo realizado no Samvis apontou que a garota foi estuprada, pois havia lesões ulceradas em genitália. Atualmente, a menina toma medicações contra agentes causadores de Doenças Sexualmente Transmissível. A família alega que a menina contraiu sífilis.
A vítima relatou o caso à psicóloga e diante da dificuldade em comunicação da menina, a profissional deu a ela bonecas para entender o que aconteceu. No final, a psicóloga afirmou que a adolescente foi estuprada e que a vítima está bastante traumatizada. Há indícios ainda de que a menina era amarrada e dopada. Na conversa com a psicóloga, a menina disse ainda que o agressor dava a ela algo para tomar.
M.E.T.P.G precisa de acompanhamento psicológico para superar o momento de dor, mas devido a pandemia de coronavírus, não está sendo possível realizar o tratamento. A família também está ainda mais magoada pelo fato de não poder ficar todo junto neste momento em decorrência do isolamento social.
"É muito doloroso tudo isso. A gente não consegue tocar no assunto e a gente nem pode se abraçar, consolar um ao outro. Está todo mundo sem conseguir dormir, tomando remédio para ver se consegue e ainda assim tá muito difícil. Não conseguimos evitar que essa coisa horrível não acontecesse e agora o que queremos é justiça, que os responsáveis por isso paguem e que mais ninguém possa ser vítima deles", desabafa a tia.
ESCOLA CALADA
A família apurou que há pelo menos três denúncias de estupros ocorridos dentro da escola e que até agora as famílias não tiveram respostas. Quando ficaram sabendo do caso, ex-alunos se manifestaram dizendo que sofreram agressões e assédios por parte de professores e funcionários do Escolão do Mocaminho.
A Secretaria Municipal de Educação (Semec), recebeu a família de M.E.T.P.G e disse apenas que vai ajudar na investigação. A direção da escola não se manifestou. "Não tomaram nenhuma providência até o momento e a gente não vai deixar ser apenas mais um caso de estupro no Escolão do Mocambinho", disse J.S.
INVESTIGAÇÃO
O caso está sendo investigado pela Delegacia de Proteção à Criança e ao Adolescente (DPCA), que ainda não colheu nenhum depoimento. A mãe da vítima chegou a prestar depoimento, mas devido a um problema técnico na delegacia, não foi possível armazenar o relato e ela terá que falar novamente.
O diretor do Escolão do Mocambinho vai depor nesta quinta-feira (26). A delegada Camila Miranda, que está à frente do caso, já pediu a prisão do suspeito e aguarda a Justiça expedir o mandado para prendê-lo. A preocupação da família é caso o agressor fuja e fique impune do crime bárbaro que cometeu contra a menor.
A Polícia Civil segue investigando o caso e tem até 30 dias para concluir o inquérito. Imagens de câmeras de segurança da escola podem auxiliar na investigação.
Primeiro boletim de ocorrência registrado na Central de Flagrantes
Segundo boletim de ocorrência registrado na DPCA