
A cobertura vacinal infantil no mundo parou de crescer nas últimas duas décadas, com a pandemia de Covid-19 agravando essa situação, deixando milhões de crianças vulneráveis a doenças que poderiam ser prevenidas. É o que mostra um estudo divulgado nesta terça-feira (24) pela revista científica The Lancet, elaborado por pesquisadores do Instituto de Métricas e Avaliação de Saúde (IHME), da Universidade de Washington.
Embora os avanços na vacinação tenham sido significativos nos últimos 50 anos, o ritmo de imunização desacelerou ou caiu em vários países desde 2010. A taxa de vacinação contra o sarampo diminuiu em metade das nações avaliadas, enquanto países ricos também registraram queda em doses de vacinas básicas como difteria, tétano, coqueluche, poliomielite e tuberculose.
A pandemia de Covid-19 trouxe ainda mais obstáculos, com quedas marcantes nas taxas de vacinação desde 2020. Em 2023, estima-se que cerca de 15,7 milhões de crianças não tenham recebido as doses recomendadas contra difteria, tétano e coqueluche, concentradas em poucos países, principalmente na África Subsaariana e no Sul da Ásia.
O estudo alerta que essas lacunas na vacinação aumentam o risco de surtos de doenças evitáveis, como sarampo e poliomielite. As desigualdades regionais e socioeconômicas continuam evidentes, especialmente em países de baixa e média renda.
Além disso, fatores como conflitos, crises econômicas e climáticas, desinformação e hesitação vacinal dificultam o acesso e a adesão às vacinas, segundo a principal autora da pesquisa, Emily Haeuser.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) estabeleceu metas para ampliar a vacinação até 2030, porém o estudo indica que apenas algumas dessas metas serão alcançadas, a menos que estratégias focadas, equitativas e integradas sejam adotadas mundialmente.