
A Confederação Brasileira de Futebol (CBF) enfrenta mais uma crise institucional, desta vez o Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro (TJ-RJ) determinou, nesta quinta-feira (15), o afastamento de Ednaldo Rodrigues da presidência da entidade. A decisão, proferida pelo desembargador Gabriel de Oliveira Zéfiro, baseia-se em indícios de falsificação da assinatura de Antônio Carlos Nunes de Lima, o Coronel Nunes, em um acordo homologado pelo Supremo Tribunal Federal (STF) que havia garantido a permanência de Ednaldo no cargo até 2030.
Ednaldo Rodrigues, nascido na Bahia, começou sua trajetória no futebol como presidente da Federação Bahiana de Futebol (FBF), onde permaneceu por quase duas décadas. Em 2022, assumiu a presidência da CBF, tornando-se o primeiro nordestino e o primeiro negro a comandar a entidade máxima do futebol brasileiro.
Com a destituição, Fernando Sarney, vice-presidente da CBF, foi nomeado interventor e terá a responsabilidade de convocar novas eleições para os cargos diretivos da entidade "o mais rápido possível", conforme os prazos estatutários.
O Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro (TJ-RJ) já afastou Ednaldo Rodrigues da presidência da CBF uma vez, em dezembro de 2023. O afastamento ocorreu por suspeitas relacionadas a irregularidades nas eleições presidenciais da CBF, que motivaram ações judiciais para apurar possíveis fraudes ou vícios no processo. Posteriormente, ele foi reconduzido ao cargo por decisão do ministro Gilmar Mendes, do STF.
Veja a decisão judicial:
Pelo exposto, determino: 1- o afastamento da atual diretoria da CBF; 2- que o Vice-Presidente da CBF, Fernando José Sarney, realize a eleição para os cargos diretivos da CBF, na qualidade de interventor, o mais rápido possível, obedecendo-se os prazos estatutários, ficando a seu cargo, até a posse da diretoria eleita, os poderes inerentes à administração da instituição, dispostos no art.7º do Estatuto da Entidade; 3- Esta decisão servirá como mandado de intimação.
Ancelotti
A decisão judicial ocorre poucos dias após o anúncio da contratação do técnico italiano Carlo Ancelotti para comandar a Seleção Brasileira na Copa do Mundo de 2026. O contrato, firmado sob a gestão de Ednaldo Rodrigues, prevê um salário anual de aproximadamente 10 milhões de euros, além de bônus por conquistas.
Apesar da turbulência, Ancelotti demonstrou tranquilidade ao ser informado sobre o afastamento de Ednaldo. Segundo fontes próximas, o treinador afirmou que seu compromisso é com a CBF enquanto instituição, independentemente de quem esteja na presidência.
Fernando Sarney, agora à frente da entidade, assegurou que os contratos vigentes, incluindo o de Ancelotti, serão mantidos. "Sou transitório. Não vou mexer em nada", declarou o interventor, indicando que não pretende interferir nas decisões tomadas anteriormente pela gestão de Ednaldo. Mesmo com a instabilidade na entidade, a estreia de Ancelotti está prevista para os jogos contra Equador e Paraguai, em junho.
Anulação
Ednaldo Rodrigues, por sua vez, recorreu ao STF para tentar anular a decisão do TJ-RJ. Sua defesa argumenta que o afastamento viola decisões anteriores do ministro Gilmar Mendes, que havia reconduzido Ednaldo ao cargo em janeiro de 2024.
A situação atual da CBF remonta a disputas judiciais iniciadas em 2017, quando o Ministério Público do Rio de Janeiro questionou a legalidade das eleições presidenciais da entidade. Em 2022, um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) foi firmado para encerrar o processo, mas a autenticidade da assinatura de Coronel Nunes nesse acordo está sendo contestada, especialmente devido a laudos médicos que indicam comprometimento cognitivo desde 2018.
A instabilidade na liderança da CBF apresenta possíveis preocupações sobre a situação da Seleção Brasileira para as Eliminatórias da Copa do Mundo de 2026. Enquanto isso, o cenário político da entidade permanece indefinido, aguardando os desdobramentos judiciais e a convocação de novas eleições.
(*) Isaac Da Silva é estagiário sob supervisão do jornalista Luiz Brandão - DRT-PI - 960