Conciso

Nelson tinha razão


Aumento dos salários dos magistrados

Aumento dos salários dos magistrados Foto: Imagem ilustrativa

Certa vez ao conversar com um amigo mecânico, de inteligência prática, boa interação e atento aos fatos cotidianos, sem falar do quanto apreciava a pescaria nos seus poucos momentos de lazer, daí percebe-se que histórias e “causos” não faltavam em nossas conversas. A prosa desenrolou-se quando íamos atrás de peças para o conserto do automóvel que estava em sua oficina.

O cara tinha um bom embasamento sobre a vida. Falou do quanto aproveitou a juventude e orgulhava-se de ter sido sempre responsável. Dava-me conselho de como as pessoas podem ser má e precisamos nos defender. Assim, o tempo iria passando rapidamente e já tínhamos resolvido nosso problema com as peças.

De todas as falas desse meu amigo uma não me sai da memória, mesmo passado um bom tempo. Ao tratarmos sobre situação política do país, ele falou umas duas vezes “eu sou escuro, mas tenho noção das coisas”. Mesmo entendendo seu raciocínio e não querendo polemizar com ele nessa ssertiva, eu apenas retrucava-o que isso não existia e somos dotados da mesma capacidade. Ele sorria e assim mantivemos o bom humor.

Lembro-me desse fato para demonstrar como pensamentos iguais ao do meu amigo são perigosos sem ao menos darem conta disso. Explico, ele sofre do que Nelson Rodrigues chamou, lá na década de 50 do século passado, de complexo de vira lata. Isto é, nas palavras de um dos maiores dramaturgos, "a inferioridade em que o brasileiro se coloca, voluntariamente, em face do resto do mundo".

Não irei ater neste espaço de quando surgiu esse problema no país, entendo apenas do quanto ele tem sido prejudicial. Por conta dele não valorizamos nossas riquezas naturais, tecnologia, capacidade, empreendedorismo e, em pedestal maior, nossa gente. É de causar revolta as justificativas para predominar esse complexo.

É tão enraizado esse mal que um general na reserva do exército ousou afirmar que nós “herdamos a indolência do índio e a malandragem do africano”. Esse energúmeno é candidato à vice-presidente do sujeito que bate continência para a bandeira dos Estados Unidos. Poderíamos chamá-los de “chapa vira lata” ou mesmo “antipatriotas”.

Agora erram aqueles a pensar que somos subalternos apenas da classe política, esta perpetua o quanto pode nossa subserviência. Refiro-me ao Poder Judiciário que nesta semana obteve um aumento de salário totalmente incompatível à realidade brasileira e causará um colapso maior no orçamento público. Uma casta de privilegiados que recebem de auxílio moradia a gratificações robustas, pois se julgam acima da classe trabalhadora e precisam diferenciar-se da maioria. Um resquício do complexo de vira lata.

Quem não lembra também do juiz federal de primeira instância, “chefe” da operação Lava Jato, acusado de receber proventos acima de 100 mil reais e que zombou ao tentar justificar “em algumas vezes pontuais cheguei a receber este valor, mas é raro”. Sobram acusações também contra esse magistrado de sua serventia ao serviço de inteligência americana, em prol dos interesses de lá. Suas decisões parciais e condutas desrespeitosas à Constituição Federal

fazem-nos crer do quanto esse magistrado é um exemplo total de quem possui o referido complexo, pois não se enxerga como brasileiro e não se importa em prejudicar o país.

Por comportamentos assim da política e judiciário que eu não quis me indispor com meu amigo mecânico, afinal para acabar com um complexo temos de combatê-lo na sua essência. E àqueles que deveriam ser o modelo, vindo das camadas mais favorecidas mostram como, ainda hoje, Nelson Rodrigues tinha razão.

Siga nas redes sociais
Joaquim Lourenço

Joaquim Lourenço

Joaquim Lourenço é licenciado em Letras pela Universidade Federal do Piauí e advogado pela FAP Mauricio de Nassau
Próxima notícia

Dê sua opinião: