
Em entrevista exclusiva ao Portal Piauí Hoje, durante sua participação ao podcast Mulher Mais, a psicóloga e psicopedagoga Yloma Rocha fez um alerta que muitos pais já suspeitam, mas nem sempre conseguem encarar: o uso de telas, embora comum, não supre o que é mais importante para o desenvolvimento de uma criança — o vínculo afetivo.
“O celular pode até distrair, mas não substitui o que realmente importa na criação de uma criança: o afeto”, disse Yloma. Para ela, o problema não está apenas no uso do aparelho, mas na intenção por trás disso. “Às vezes a gente entrega a tela pro filho porque não está com paciência. Mas precisa saber que lá na frente vai ter outro problema. Vai aparecer um monte de monstrinhos”, alertou, referindo-se às possíveis consequências emocionais do hábito.
Segundo a especialista, que tem mais de 12 anos de atuação com saúde mental infantil, o que crianças e adolescentes mais precisam não é de estímulo digital, mas de presença genuína. E ela reconhece que não é fácil. “Tem dias em que não damos conta de tudo, e tudo bem. Reprograma, refaz a rota, tenta de novo. Não precisa ser perfeito, mas precisa estar ali.”
No podcast Mulher Mais, com Michely Samia e Rosário Bezerra, Yloma alertou sobre os impactos do uso excessivo de telas na infância - Arquivo/Piauí Hoje.Com
Yloma também trouxe à conversa uma preocupação cada vez mais comum nas famílias: os efeitos das redes sociais na autoestima de crianças e adolescentes. Para ela, o excesso de exposição ao “mundo perfeito” dos filtros e das vidas editadas tem provocado um efeito colateral silencioso — e doloroso. “As redes sociais maximizaram o ter, o ser, o mostrar. E o adolescente não está preparado pra isso — e muitas vezes, a criança também não.”
De acordo com a psicóloga, já é possível perceber o impacto no comportamento. “Hoje em dia, tem adolescente que não quer nem mostrar o rosto nas fotos. Tira de costas, ou com a mão no rosto. Isso diz muito sobre como se enxerga e sobre como está sua autoestima.”
Outro ponto que preocupa a especialista é o uso precoce de celulares por crianças muito pequenas. Segundo ela, é comum ver pais entregando o aparelho ainda nos primeiros anos de vida — e isso pode ser um erro. “A criança está no supermercado, e ao invés de observar o ambiente, está no celular. Isso reduz a curiosidade, o contato com o mundo real e a interação com outras pessoas.”
No ambiente escolar, onde os primeiros sinais de dificuldades costumam aparecer, a psicopedagoga reforça a importância de escutar os alertas. “A escola sempre é a primeira que sinaliza. Nós, mães, muitas vezes temos dificuldade em aceitar ou perceber. Mas a criança já está dando sinais claros.”
Ela também faz um chamado à atenção para os marcos do desenvolvimento infantil, lembrando que há sinais que não devem ser ignorados. “Se uma criança não está falando com dois anos, por exemplo, é sinal de alerta. Não dá pra esperar. Tem que investigar.”
Na entrevista, Yloma também explicou quando procurar um psicólogo ou um psicopedagogo — uma dúvida comum entre os pais. “A psicologia estuda emoções e comportamentos. Já a psicopedagogia trata dos problemas de aprendizagem. Esse é o foco principal de cada área.”
Ela explica que muitas vezes as duas áreas se cruzam. “Uma criança com dificuldade de aprendizagem começa a se sentir incapaz, desmotivada. Isso afeta também o emocional. Às vezes a criança não presta atenção, tira nota baixa, não faz as tarefas… mas será que é falta de interesse? Pode ser um transtorno, ou apenas uma fase. É preciso olhar com cuidado.”
Confira a entrevista completa com Yloma Rocha no Piauí Hoje: