
A política é o reino da conveniência, mas, aparentemente, nem toda conveniência é conveniente para todos. E como na política o jogo é bruto e rasteiro, principalmente no campo da direita, esse parece ser o caso do senador Ciro Nogueira (PP-PI), outrora um dos pilares do governo Bolsonaro na condição de ministro da Casa Civil. Defensor ferrenho do ex-presidente, o parlamentar agora se vê em uma posição desconfortável: está sendo "fritado" pela cúpula bolsonarista e longe de ser o preferido do próprio Bolsonaro para ocupar a vaga de vice-presidente em uma eventual chapa de direita em 2026.
A informação, trazida a público pelo jornalista Paulo Capelli, do Metrópoles, joga um holofote cru sobre as entranhas do campo bolsonarista. O motivo central da resistência seria a percepção de que Ciro Nogueira tem "pouca adesão no Nordeste". O argumento é embasado em uma realidade eleitoral concreta: pesquisas citadas pelo próprio Bolsonaro indicariam que o senador enfrenta dificuldades para se reeleger em seu próprio estado, o Piauí. Como um vice que mal consegue garantir seu reduto eleitoral poderia agregar votos a uma chapa nacional? Esse é o questionamento que ecoa nos bastidores.
A rejeição a Nogueira expõe uma fratura. De um lado, o Centrão, representado pelo senador, que busca um lugar ao sol na chapa majoritária para fugir do embate pela reeleição ao Senado no Piauí e que, para isso estaria valorizando seu "traquejo e habilidade para lidar com a classe política". Do outro, um bolsonarismo que parece cogitar outras rotas. O plano B, segundo Capelli, passa por nomes com apelo mais orgânico ao núcleo duro: se o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), for o candidato a presidente, Michelle Bolsonaro desponta como vice favorita. Outra alternativa doméstica seria o senador Flávio Bolsonaro (PL).
Como o clima não tem sido muito favorável a Ciro no núcleo duro da Família Bolsonaro, o senador está tentando desfazer esses desentendimentos. Ele pediu autorização para visitar o ex-presidente Jair Bolsonaro na próxima quinta-feira (09/10). Bolsonaro está em prisão domiciliar já dois meses. A visita foi autorizada pelo ministro Alexandre Moraes, do STF. Ciro vai a casa da Bolsonaro com o presidente nacional do PL, Waldemar da Costa Neto.
Mas estes impasses e desentendimentos vão vai além de uma simples escolha de vice. Ele revela um conflito estratégico que paralisa a oposição. Enquanto Ciro Nogueira pressiona por uma definição rápida do candidato presidencial para não "engessar as articulações" e prejudicar o enfrentamento a Lula em 2026, Bolsonaro mantém seu cálculo de alto risco: insiste que será o candidato, apostando que registrar a própria candidatura, apesar dos entraves judiciais, reforçará seu discurso de perseguição política e servirá para pressionar os tribunais.
Ronaldo Caiado bateu duro
A tensão não se limita ao núcleo familiar bolsonarista. Recentemente, Ciro Nogueira travou um embate público com o governador de Goiás, Ronaldo Caiado (UB), outro líder da direita com claras ambições presidenciais para 2026. A troca de farpas, amplamente noticiada, escancara que a suposta união da direita é, na verdade, um campo minado por rivalidades, egos e projetos de poder concorrentes.
A troca de farpas entre Ciro e Caiado vieram após uma resposta a declarações do senador em entrevista ao o Globo. O governador lançou uma série de críticas diretas, acusando-o de tentar se promover de forma oportunista na articulação da direita para 2026.
Caiado classificou a pressão de Ciro por uma chapa com Tarcísio de Freitas como uma "ansiedade vergonhosa". Ele rejeitou a ideia de que o senador seja porta-voz de Bolsonaro, lembrando que Ciro não apoiou o ex-presidente em sua primeira eleição, ao contrário de outros nomes da direita.
O governador repudiou a tentativa de Ciro Nogueira de vetar pré-candidaturas, incluindo a sua própria, à Presidência. "Não dependo de aval de Ciro Nogueira", afirmou Caiado.
A crítica mais contundente foi à base eleitoral do senador. Caiado contrastou sua alta aprovação em Goiás (88%) com a situação de Ciro no Piauí, afirmando que pesquisas mostram que o senador não tem força sequer para se reeleger em seu estado natal.
Ronaldo Caiado desqualificou Ciro Nogueira como um articulador legítimo, pintando-o como uma figura oportunista, sem base eleitoral sólida e sem a autoridade para ditar os rumos da direita.
Esses acontecimentos mostram que o que está em jogo é mais do que o destino político de Ciro Nogueira. É a capacidade de uma oposição fragmentada e com dificuldade de construir uma alternativa viável de poder. Enquanto se degladiam por cargos e estratégias, o tempo passa, e a janela de oportunidade para organizar uma campanha coesa se fecha.
A "fritura" do senador piauiense, portanto, é apenas o sintoma mais visível de uma doença que pode ser fatal para as ambições da direita em 2026: a falta de unidade e um projeto claro que vá além da figura de um único homem.
Flávio, Jair e Ciro nos tempos da amizade
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