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Verde que te quero verde

O IBGE divulgou em abril deste ano que mais de um terço dos brasileiros (34%) moravam em ruas sem nenhuma árvore, conforme dados do Censo 2022.

Por Álvaro Mota

Segunda - 06/10/2025 às 21:13



Foto: Divulgação Arvore
Arvore

Cineas Santos, o autor do Hino de Teresina, nascido na região de São Raimundo Nonato, propõe em sua composição que a cidade que nós, os habitantes da cidade, a queiramos verde, gloriosa, altiva, vitoriosa.

Ao fim e ao cabo, a letra do hino pressupõe que deva a cidade cultuar e cultivar o verde, com mais árvores, porque isso significa mais qualidade de vida. Infelizmente, o passar dos anos tem reduzido as áreas verdes e a violência concorre para o pouco uso ou mesmo desuso dos espaços públicos de convivência e uso comum.

A existência de espaços verdes vem se consolidando nas cidades brasileiras menos como uma necessidade de todos e mais um privilégio, praticamente uma distinção social, o que indica que são falhas ou mesmo inexistentes as políticas públicas de arborização na maioria das cidades brasileiras. 

O IBGE divulgou em abril deste ano que mais de um terço dos brasileiros (34%) moravam em ruas sem nenhuma árvore, conforme dados do Censo 2022. Como a população do país em 2022 era de 210 milhões de pessoas, é impactante e desafiador o número de brasileiros residindo em áreas não arborizadas: 71,4 milhões de moradores.

Pode parecer alentador que outros 138,6 milhões de pessoas morem em ruas arborizadas, mas quando o IBGE detalha o dado, nós podemos enxergar o tamanho do desafio de assegurar mais árvores nas áreas urbanas. Isso porque 36 milhões de brasileiros vivem em ruas com até duas árvores; 23,5 milhões em ruas com três ou quatro árvores; e 56 milhões habitam ruas com cinco árvores ou mais. 

Os números do IBGE são a evidência de que a arborização no Brasil é falha – mais ainda se considerarmos as mudanças climáticas que ampliam as temperaturas médias ou favorecem um fenômeno chamado ilhas de calor – áreas urbanas com temperaturas mais altas do outras áreas com maior cobertura vegetal, face à absorção e retenção de calor por materiais como asfalto e concreto, à redução da vegetação e à emissão de calor pela indústria e tráfego de veículos. 

Há outra leitura sobre a ausência de árvores nas vias urbanas em que moram quase 72 mil brasileiros: os espaços verdes decorrentes de arborização separam socialmente as pessoas, fazendo com que os mais pobres tenham menos árvores no entorno de suas casas. Isso é, de fato, um problema, porque não são poucos os estudos científicos a indicar que a arborização urbana concorre para melhor qualidade de vida, para mais saúde.

Assim, quando uma cidade como Teresina tem um plano diretor de arborização, deve envidar esforços máximos para tirá-lo do papel, seja por iniciativa discricionária do poder público municipal, seja pela pressão da sociedade em fazer com que o cultivo, reposição, conservação e manutenção de árvores se torne uma rotina em favor de uma cidade mais resiliente às mudanças climáticas. 

Convém sempre lembrar que a arborização urbana nas vias públicas tende a ser não somente uma responsabilidade do poder público municipal, ´posto que se a árvore está na calçada de uma pessoa, é dela o dever primeiro de cuidar – sem embargo do cuidado da gestão pública. Também é relevante que as pessoas mantenham as árvores em seus quintais, porque isso concorre para mais qualidade de vida delas e das pessoas no entorno de suas residências., 

Sabe-se que quanto maior for o envolvimento das pessoas em manter e até expandir a arborização urbana, seja nas ruas, seja nos espaços privados, maior será a qualidade de vida em uma comunidade. Assim, seguindo a trilha do que sugere Cineas Santos, no Hino de Teresina, é nosso dever preservar na cidade verde exuberante que a veste.

Álvaro Mota

Álvaro Mota

É advogado, procurador do Estado e mestre em Direito pela Universidade Federal de Pernambuco - UFPE. Álvaro também é presidente do Instituto dos Advogados Piauienses.

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