Política

DIPLOMACIA

Após conversa com Trump e posição firme de Lula, EUA convidam chanceler para reunião

Convite de Marco Rubio a Mauro Vieira sinaliza retomada do diálogo após tensões com Trump, marcando uma vitória da estratégia diplomática brasileira

Por Luiz Brandão

Quinta - 09/10/2025 às 13:05



Foto: Fotomontagem Piauí Hoje Lula e Trump devem se encontrar em breve no Brasil e nos EUA
Lula e Trump devem se encontrar em breve no Brasil e nos EUA

BRASÍLIA (DF) – A diplomacia do governo Luiz Inácio Lula da Silva registra uma vitória significativa nas tratativas com a administração de Donald Trump. Após uma conversa telefônica direta entre os presidentes, o secretário de Estado dos Estados Unidos, Marco Rubio, convidou formalmente o chanceler brasileiro, Mauro Vieira, para uma reunião em Washington para discutir as altas tarifas impostas a produtos brasileiros. O movimento é lido no Itamaraty como uma resposta positiva à posição firme de Lula em defesa da economia e da soberania nacionais.

O convite, realizado na manhã de quinta-feira (09/10), ocorreu poucos dias após o telefonema entre os mandatários, na segunda-feira (06/10). De acordo com nota oficial do Itamaraty, a conversa entre Rubio e Vieira foi um diálogo “muito positivo” sobre a agenda bilateral, com o objetivo claro de tratar dos “temas prioritários” na relação entre os dois países. As equipes de ambos os governos devem se reunir previamente em Washington para preparar o terreno para as discussões ministeriais, embora a data exata da viagem do chanceler ainda não tenha sido definida.

O convite para negociações aprofundadas surge em um momento crítico. Desde o início de agosto, parte das exportações brasileiras, com destaque para café e carne, passou a enfrentar tarifas de 50% para ingressar no mercado americano, uma medida que impacta diretamente setores cruciais da economia nacional. Paralelamente, a relação foi abalada por sanções pessoais a ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) e o cancelamento de seus vistos, em retaliação a decisões judiciais envolvendo o ex-presidente Jair Bolsonaro.

Diante desse cenário, a postura do presidente Lula, reiterada em sua conversa com Trump, foi a de defender os interesses comerciais do Brasil e a autonomia de suas instituições, como o STF. Foi essa firmeza, analisam especialistas em relações internacionais, que pavimentou o caminho para a retomada de um diálogo respeitoso e em nível ministerial.

A históricos relação Brasil-EUA

As relações diplomáticas entre Brasil e Estados Unidos, estabelecidas em 1824, são tradicionalmente as mais importantes e complexas do hemisfério. Ao longo de mais de dois séculos, os países viveram períodos de forte alinhamento e outros de notável divergência.

· Aliança na Segunda Guerra: O Brasil foi o único país da América do Sul a enviar forças expedicionárias para lutar ao lado dos Aliados na Europa.

· Apoio ao Golpe de 1964: O governo dos EUA apoiou ativamente o golpe militar que instaurou a ditadura no Brasil, aprofundando a aliança em um contexto de Guerra Fria.

· Fim da Guerra Fria e Tensões Comerciais: Com a redemocratização, a relação tornou-se mais pragmática, frequentemente marcada por disputas comerciais no âmbito da Organização Mundial do Comércio (OMC), especialmente sobre subsídios agrícolas e a indústria de aviação (Boeing vs. Embraer).

No governo de Jair Bolsonaro a relação entre o Brasil e os Estados Unidos caracterizou-se por um alinhamento automático, de subserviência, sem contrapartidas concretas com o governo Trump. Foi um período que muitos analistas consideram de baixo retorno para os interesses nacionais brasileiros.

A atual retomada das negociações em bases mais equilibradas, portanto, reflete um retorno à tradição diplomática brasileira de buscar parcerias benéficas sem abrir mão de seus princípios e soberania.

O foco imediato das tratativas iniciadas na conversa entre Lula e Trump será a reversão das tarifas punitivas, um tema de urgência para o agronegócio brasileiro. A reunião presencial entre Mauro Vieira e Marco Rubio será o palco para medir a disposição americana em chegar a um acordo. Enquanto isso, as equipes técnicas trabalharão nos detalhes da pauta econômico-comercial, tentando destravar um fluxo comercial que, apesar das recentes tensões, permanece estrategicamente vital para ambos os lados.

O chanceler brasileiro Mauro Vieira e o secretário americano Marco Rúbio 

Fonte: Agência Brasil

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