A apreensão de duas toneladas de barbatanas de tubarão na noite dessa quinta-feira (25), na cidade de Parnaíba, litoral do Piauí, reacende o debate sobre como o Brasil entrou na rota de um comércio internacional altamente lucrativo, mas devastador para o meio ambiente. O material, encontrado em uma casa utilizada por dois cidadãos chineses presos em flagrante pela Polícia Federal, teria como destino final a Ásia, onde seria usado na preparação da chamada sopa de barbatana de tubarão, popularmente conhecida como “sopa ostentação”.
Um prato de luxo
Na China e em outros países asiáticos, a sopa é considerada símbolo de riqueza, status social e prestígio. Tradicionalmente servida em casamentos, banquetes e eventos de alto padrão, a iguaria não é apreciada pelo sabor da barbatana em si, que é praticamente neutro, mas pela textura gelatinosa que ela confere ao caldo.
A origem desse costume remonta à Dinastia Song (960–1279), período em que o prato se consolidou como um dos “tesouros da culinária” chinesa. Séculos depois, o crescimento econômico da China e a ascensão de uma classe média mais abastada reavivaram a demanda, transformando as barbatanas em um item de luxo extremamente valorizado.
Impacto ambiental
Apesar do prestígio cultural, a prática é considerada cruel e insustentável. Para a obtenção das barbatanas, muitas vezes os tubarões têm suas nadadeiras cortadas ainda vivos e são devolvidos ao mar mutilados, processo conhecido como finning. Sem condições de sobreviver, acabam morrendo lentamente, o que contribui para o declínio de várias espécies, algumas delas ameaçadas de extinção.
Por serem predadores de topo da cadeia alimentar, os tubarões desempenham papel essencial no equilíbrio dos ecossistemas marinhos. A redução drástica de suas populações pode provocar um efeito cascata, comprometendo a biodiversidade e a sustentabilidade dos oceanos.
Piauí na rota do tráfico
Os dois chineses foram presos em flagrante dentro de uma casa no bairro Nova Parnaíba. Eles responderão por crimes ambientais e receptação vinculada a ilícito ambiental. Durante a ação, a Polícia Federal apreendeu cavalos-marinhos e barbatanas de tubarão.
A estimativa é que duas toneladas de barbatanas foram localizadas em uma casa usada pelos suspeitos para armazenar o material ilícito. No local havia várias caixas cheias de barbatanas e até mesmo espalhadas pelo chão. Segundo levantamento preliminar da Vigilância Sanitária, foram encontradas 81 caixas cheias de barbatanas de tubarão.
Brasil alvo de redes internacionais de comércio ilegal de barbatanas
Casos como o registrado em Parnaíba mostram como o Brasil se tornou alvo de redes internacionais de comércio ilegal de barbatanas. Em 2023, o Ibama realizou a maior apreensão já registrada no mundo: quase 29 mil toneladas de barbatanas. Segundo especialistas, a procura externa, especialmente no mercado chinês, é o principal motor da pesca ilegal em águas brasileiras.
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