Artigos & Opinião

Artigos & Opinião

OPINIÃO

Não crucifiquemos os 12: a luta é maior

Por Maria Martins (*)

Domingo - 21/09/2025 às 00:04



Foto: Agência Câmara Plenário da Câmara fica lotado quando é do interesse dos deputados
Plenário da Câmara fica lotado quando é do interesse dos deputados

O debate em torno da votação da PEC das Prerrogativas exige serenidade e compreensão da complexidade que envolve o Congresso Nacional. Os 12 deputados do PT que votaram a favor não o fizeram por conveniência própria, mas dentro de um cenário de negociações duríssimas, onde se buscava impedir a tramitação da chamada PEC da Anistia — considerada um retrocesso ainda mais grave para a democracia.

O deputado Odair Cunha (PT-MG) lembrou que a indignação é legítima, mas destacou que o voto se deu no contexto de negociação para garantir pautas prioritárias do governo Lula, como a isenção do Imposto de Renda até 5 mil reais. Já Jilmar Tatto (PT-SP) foi direto: “entre dois cenários de retrocesso, escolhi o menor”, reconhecendo a enxurrada de críticas, mas também a responsabilidade de tentar preservar avanços para o povo. O jovem deputado Kiko Celeguim (PT-SP) reforçou que o Parlamento é o espaço da negociação permanente, e que nem sempre as escolhas são simples ou lineares.

A própria tesoureira nacional do PT, Gleide Andrade, em vídeo público, reconheceu o caráter “gesto amargo” desse voto, mas pediu respeito à história desses parlamentares, lembrando que todos têm trajetória comprovada em defesa das minorias, da justiça social e dos trabalhadores.

Também se destacou a posição de Merlong Solano (PT-PI), figura histórica da militância no Piauí. Em nota pública, ele pediu desculpas ao povo do Piauí e ao Partido dos Trabalhadores, admitindo ter cometido um “grave equívoco” ao votar favoravelmente ao texto. Explicou que seu voto buscava preservar um canal de diálogo com a presidência da Câmara, ainda que esta seja hoje ocupada por um aliado da extrema-direita, o que torna ainda mais difícil e arriscada qualquer tática em favor do povo. Merlong ressaltou que a intenção era tentar barrar a anistia e viabilizar pautas urgentes, como a isenção do IR, a taxação das casas de apostas e o novo Plano Nacional de Educação.

É importante registrar que a esquerda, liderada pelo presidente Lula, pelo PT e pelo PSOL, orientou voto contra a PEC e manteve firme oposição. A estratégia dos 12, embora frustrada, visava proteger o país de um mal maior, num ambiente de correlação de forças extremamente desfavorável.

Enquanto isso, os partidos da extrema-direita — PL, União Brasil, PP e seus aliados — estão há meses emperrando todas as pautas que melhorariam a vida do povo brasileiro: a redução na conta de luz, a taxação dos super-ricos, o fortalecimento da educação e da saúde. No lugar disso, têm pautado apenas projetos que interessam às elites econômicas, ao mercado financeiro e aos seus esquemas escusos. Esses, sim, são os verdadeiros inimigos do povo.

A indignação de parte da militância é compreensível. Mas transformar isso em ataques mortais contra companheiros de luta apenas enfraquece a nossa frente. Pior ainda é ver setores da direita e da extrema-direita aproveitando o momento para posar de “santos” e recrudescer o ódio contra os 12 petistas. Isso não é crítica construtiva — é discurso de ódio, típico da extrema-direita, que tenta dividir e minar a esquerda. Nossa energia precisa estar voltada para as batalhas centrais que ainda teremos de travar: contra a PEC da Anistia (no Congresso e em suas dosimetrias), contra a PEC da Blindagem no Senado, e contra o avanço de projetos que desfiguram a democracia.

Não podemos esquecer quem são nossos verdadeiros inimigos: aqueles parlamentares com currículo manchado de ilícitos, que atuam em conluio com a corrupção, o crime organizado e até o narcotráfico — como já foi exposto recentemente nas ligações de líderes do União Brasil e do PP com a Faria Lima e esquemas criminosos. Esses são os alvos que devemos enfrentar.

Por isso, não é justo crucificar os 12. Eles não romperam com os princípios históricos do PT, mas buscaram uma estratégia para preservar o governo e suas pautas sociais mais urgentes, como a isenção do IR, a redução na conta de luz e a defesa do povo trabalhador. Hoje, mais do que nunca, é preciso unidade da esquerda — PT, PSOL, PCdoB, PDT, Rede e demais forças progressistas — para barrar os verdadeiros inimigos do povo e avançar com um projeto popular e democrático para o Brasil.

Indignar-se e se manifestar, sim. Mas não se deixar dominar pelo ódio plantado e explorado pelos fascistas de extrema-direita, que todos já conhecemos bem. O alvo não são nossos companheiros — o alvo é a extrema-direita corrupta e inimiga do povo, e é contra ela que devemos canalizar toda a nossa força e unidade.

Às ruas, companheiros!

(*) Maria Martins é escritora e militante do PT

PS: Esse artigo não expressa tão somente a opinião da autora

Redação

Redação

Se você quer escrever e expor suas ideias esse é seu espaço. Mande seu artigo para nosso e-mail (redacao@piauihoje.com) ou pelo nosso WhatsApp (86) 994425011. Este é um espaço especial para leitores, internautas, especialistas, escritores, autoridades, profissionais liberais e outros cidadão e cidadãs que gostam de escrever, opinar e assinando embaixo.

Mais conteúdo sobre:

Siga nas redes sociais

Compartilhe essa notícia: