
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva proferiu um discurso duro e amplamente aplaudido na abertura da 80ª Assembleia Geral da ONU, defendendo com veemência a soberania brasileira e condenando as interferências do governo Trump.
A reação imediata do presidente americano, que assistiu à fala, foi anunciar um encontro com Lula para a próxima semana. A movimentação, porém, não é um gesto de boa vontade, mas uma resposta à pressão crescente que Trump começa a sentir pela posição firme do Brasil e pela repercussão negativa do "tarifaço" entre empresários e cidadãos americanos.
Em um momento de tensão sem precedentes nas relações bilaterais nas últimas décadas, o discurso do presidente Lula na ONU foi um marco de assertividade da diplomacia brasileira. Ao condenar, sem citar nominalmente os EUA, "sanções arbitrárias", "intervenções unilaterais" e "agressões inaceitáveis" ao Judiciário, Lula desenhou uma linha clara na areia: a soberania do Brasil é "inegociável". A plateia de líderes globais respondeu com aplausos significativos, sinalizando um respaldo internacional à postura brasileira.
A rapidez com que Donald Trump reagiu, marcando um encontro para a próxima semana, é a confirmação mais evidente do acerto da estratégia de Lula. Trump não é conhecido por ceder por benevolência. Sua decisão de sentar à mesa é um cálculo político direto diante da pressão. Internamente, o aumento de 50% nas tarifas de produtos brasileiros, uma retaliação explícita à condenação judicial de Jair Bolsonaro, começa a cobrar seu preço, alarmando setores empresariais que temem uma guerra comercial danosa.
Há, ainda, um elemento crucial nessa equação: a influência do deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP) sobre a assessoria de Trump. Avaliações do governo americano sobre a situação política brasileira parecem ter sido contaminadas por informações distorcidas ou falsas fornecidas pelo bolsonarismo, pintando um quadro de "caça às bruxas" que não resiste à análise factual da condenação do ex-presidente por tentativa de golpe. Agora, pressionado pela firmeza da resposta brasileira no palco global, Trump estaria sendo orientado por setores mais pragmáticos de sua equipe a rever sua posição, percebendo que foi mal assessorado.
O discurso de Lula não se limitou à defesa contra as ingerências norte-americanas. O presidente foi contundente ao classificar como "genocídio" a situação em Gaza, condenando os ataques do Hamas, mas afirmando que "nada, absolutamente nada" justifica a ação israelense. A defesa da reforma da ONU, a regulação das redes sociais, vista como um antídoto contra crimes e ameaças à democracia, e um forte chamado para a ação climática, com o convite à COP30 em Belém, completaram um pronunciamento que reposicionou o Brasil como um ator global relevante e vocal do Sul Global.
A reunião da próxima semana entre Lula e Trump (se acontecer) será, portanto, um teste crucial. De um lado, um presidente brasileiro fortalecido por um discurso soberano e respaldado pela legalidade democrática. Do outro, um presidente americano acuado pelas consequências de suas próprias políticas agressivas e por ter baseado suas decisões em narrativas enganosas. O encontro não será sobre amizade, mas sobre poder e política real. E, pela primeira vez em muito tempo, o Brasil parece ter recuperado a posição de igual necessário para uma conversa difícil.

Luiz Brandão
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