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Passo a passo do luto no Vaticano: entenda como serão funeral e enterro do papa Francisco

Francisco manifestou o desejo de ser sepultado fora do Vaticano, na Basílica de Santa Maria Maior, em Roma

Da Redação

Segunda - 21/04/2025 às 10:02



Foto: France Press O Papa Francisco quebrou alguns paradigmas da Igreja Católica
O Papa Francisco quebrou alguns paradigmas da Igreja Católica

Com a morte do papa Francisco nesta segunda-feira (21), o Vaticano inicia uma série de procedimentos. O período é oficialmente conhecido como Sé Vacante, que é uma fase de transição marcada pela ausência de um líder e pela preparação para o Conclave que definirá o próximo pontífice.Veja a seguir o que acontece agora após a morte do papa:

A morte e mudanças 

O Papa Francisco morreu aos 88 anos, após 12 anos de pontificado. Em abril de 2024, o papa aprovou as diretrizes que definem o protocolo para as cerimônias fúnebres de um pontífice, publicadas oficialmente em novembro do mesmo ano. As regras, além de modernizarem parte dos ritos, reforçam o perfil mais simples que Francisco adotou ao longo de sua trajetória.

A primeira ação após a morte é a confirmação oficial do óbito. Seguindo a tradição, o camerlengo chamará o papa pelo nome três vezes. Diante da ausência de resposta, o falecimento será declarado. A antiga prática de usar um pequeno martelo de prata tocando a testa do pontífice foi abandonada. 

O quarto do papa é lacrado, e o corpo será preparado para o velório. Conforme as novas normas, não haverá mais o traslado até o Palácio Apostólico, como ocorria em funerais anteriores. O corpo do papa será levado diretamente à Basílica de São Pedro, onde será velado publicamente. Ao contrário do que acontecia em pontificados anteriores, Francisco determinou que o esquife não seja elevado, mas colocado diretamente sobre o caixão.

Outra mudança importante está no modelo da urna funerária. Se antes o papa era sepultado em três caixões (de cipreste, chumbo e carvalho), agora o corpo será acomodado em um único caixão de madeira com revestimento interno de zinco, uma simplificação coerente com a imagem que Francisco cultivou ao longo de seu papado.

Luto

Quando um papa morre, são declarados nove dias de luto e o enterro ocorre entre o 4º e o 6º dia após a morte.O funeral é organizado pelo camerlengo (título do tesoureiro nomeado da Santa Sé), que também organiza o conclave que escolhe o próximo papa. Atualmente, essa função é desempenhada pelo cardeal irlandês Kevin Farrell.

Anel do Pescador / Foto: GETTY IMAGES

Em um ato simbólico, o camerlengo quebra o "Anel do Pescador", o anel de sinete de ouro dos papas. No centro do anel, há uma gravura de São Pedro lançando sua rede de um barco e o nome do pontífice reinante está inscrito na borda.

O ato simboliza a suspensão do poder pontifício. Este é o momento da chamada sede vacante, ou "trono vazio". O poder dentro da igreja passa então às mãos do Sagrado Colégio dos Cardeais.

O papa Francisco quebrou a tradição e escolheu um Anel do Pescador de prata em vez de ouro.

Funeral e enterro

A expectativa é que o funeral do papa Francisco será realizado na Praça de São Pedro, atraindo milhares de fiéis e chefes de Estado. A cerimônia deverá ser conduzida pelo decano do Colégio dos Cardeais, atualmente o italiano Giovanni Battista Re, de 91 anos.

Tradicionalmente, os papas costumam ser sepultados nas Grutas do Vaticano, criptas localizadas sob a Basílica de São Pedro, onde estão enterrados quase 100 papas, incluindo Bento 16, morto em 2022.

No entanto, Francisco manifestou o desejo de ser sepultado na Basílica de Santa Maria Maior, em Roma, uma das suas igrejas favoritas.

Santa Maria Maior é a primeira Basílica do Ocidente dedicada à Virgem Maria e uma das mais belas e adornadas de Roma / Foto: Vatican News


Se este desejo se concretizar, ele será o primeiro papa em mais de um século a ser enterrado fora do Vaticano. Pela tradição, os corpos de papas costumam ser colocados dentro de três caixões, feitos de cipreste, chumbo e carvalho.

Francisco, no entanto, pediu para ter um funeral mais simples, e para ser enterrado apenas num caixão de madeira e zinco.

Reunião dos cardeais no Vaticano

Os cardeais devem se reunir no Vaticano entre o 15º e o 20º dia após a morte do papa, onde ficarão em acomodações especiais enquanto as eleições acontecem. Cerca de 120 cardeais participam do processo eleitoral – no momento, há 252 cardeais em todo o mundo, mas aqueles com mais de 80 anos não têm permissão para votar.

A votação requer uma maioria de dois terços e a votação continua até que isso seja alcançado. Se os cardeais não conseguirem chegar a um acordo sobre a pessoa a ser eleita, a votação é suspensa por um dia de oração e discussão antes de a votação começar novamente.

Cardeais chegando para o co0nclave no Vaticano em 2013Os cardeais devem se reunir no Vaticano entre o 15º e o 20º dia após a morte do papa / Foto: Getty Images

Na reunião, todos eles, incluindo os aposentados, discutirão em segredo os méritos dos prováveis candidatos.  Segundo o Vaticano, os cardeais são guiados pelo Espírito Santo. Mas embora uma campanha pública seja proibida, a eleição papal ainda é um processo altamente político.

Os encarregados pela coalizão têm duas semanas para forjar alianças, e acredita-se que os cardeais mais velhos, apesar de terem menos chances de se tornarem pontífices, reúnem maior poder de influência.

Conclave

A eleição de um papa é conduzida em condições de segredo únicas no mundo moderno. Os cardeais são trancados no Vaticano até chegarem a um acordo – o significado da palavra conclave indica que eles estão literalmente trancados "com uma chave".

O processo de eleição pode levar dias. Em séculos anteriores, ele durou semanas ou meses, e alguns cardeais até morreram durante os conclaves.

O processo é projetado para evitar que qualquer detalhe da votação venha à tona, durante ou após o conclave. A ameaça de excomunhão paira sobre qualquer um tentado a quebrar esse silêncio.

João Paulo 2º mudou as regras do conclave para que um papa pudesse ser eleito por maioria simples. Mas Bento 16 mudou os requisitos de volta para que uma maioria de dois terços seja necessária, o que significa que o eleito provavelmente será um candidato de base ampla.

Localizada nas dependências do Vaticano, a Capela Sistina é o espaço onde os cardeais se reúnem para escolher um novo papa / Foto: Wikipedia

Antes do início da votação na Capela Sistina, toda a área é verificada por especialistas em segurança para garantir que não haja microfones ou câmeras escondidos.

Uma vez que o conclave tenha começado, os cardeais comem, votam e dormem em áreas fechadas até que um novo papa seja escolhido.

Eles não têm permissão para contato com o mundo exterior – exceto em caso de emergência médica. Todos os rádios e aparelhos de televisão são removidos, jornais ou revistas não são permitidos e telefones celulares são proibidos.

Dois médicos são permitidos no conclave, assim como padres que podem ouvir confissões em vários idiomas e equipe de limpeza.

Toda essa equipe tem que fazer um juramento prometendo observar segredo perpétuo e se comprometer a não usar equipamento de gravação de som ou vídeo.

Rituais de votação

A votação é realizada na Capela Sistina. No dia em que o conclave começa, os cardeais celebram uma missa pela manhã antes de caminhar em procissão até a capela.

Uma vez que os cardeais estão dentro da área do conclave, eles têm que fazer um juramento de segredo. Então, o comando latino extra omnes ("todos fora") instrui todos aqueles não envolvidos na eleição a sair antes que as portas sejam fechadas.

Os cardeais têm a opção de realizar uma única votação na tarde do primeiro dia. A partir do segundo dia, duas votações são realizadas pela manhã e duas à tarde.

Urnas utilizadas pelos cardeais no conclave / Foto: Getty Images

A cédula é retangular. Impressas na metade superior, estão as palavras Eligio in Summum Pontificem ("Eu elejo como Sumo Pontífice").

Abaixo, há um espaço para o nome da pessoa escolhida. Os cardeais são instruídos a escrever o nome de uma forma que não os identifique e a dobrar o papel duas vezes.

Depois que todos os votos foram lançados, os papéis são misturados, contados e abertos. Conforme os papéis são contados, um dos escrutinadores chama os nomes dos cardeais que receberam votos.

Ele perfura cada papel com uma agulha – através da palavra "Eligio" – colocando todas as cédulas em um único fio.

As cédulas são então queimadas – emitindo a fumaça visível para os espectadores do lado de fora, que tradicionalmente muda de preto para branco quando um novo papa é escolhido.

O costume era adicionar palha úmida para tornar a fumaça preta, mas ao longo dos anos muitas vezes houve confusão sobre a cor da fumaça. Mais recentemente, um corante foi usado.

Se uma segunda votação ocorrer imediatamente, as cédulas da primeira votação são colocadas de um lado e então queimadas junto às da segunda votação.

O processo continua até que um candidato tenha alcançado a maioria necessária.

Anúncio de um novo papa

Fumaça branca é sinal da eleição de um novo papa / Foto: AFP

Após a eleição do novo papa ser sinalizada pela fumaça branca subindo da chaminé da Capela Sistina, haverá um pequeno intervalo antes que sua identidade seja finalmente revelada ao mundo.

Uma vez que um candidato tenha atingido a maioria necessária, ele é questionado: "Você aceita sua eleição canônica como Sumo Pontífice?"

Depois de dar seu consentimento, o novo papa é questionado: "Por qual nome você deseja ser chamado?"

Depois que ele escolhe um nome, os outros cardeais se aproximam do novo papa para fazer um ato de homenagem e obediência.

O novo papa também pode precisar de ajustes em suas novas vestes. O alfaiate papal terá preparado vestimentas para vestir um papa de qualquer tamanho – pequeno, médio ou grande –, mas alguns ajustes de última hora podem ser necessários.

Então, da sacada da Basílica de São Pedro, o anúncio tradicional ecoará pela praça: Annuntio vobis gaudium magnum... habemus papam!: "Anuncio a vocês uma grande alegria... temos um papa!"

Seu nome é então revelado, e o pontífice recém-eleito fará sua primeira aparição pública.

Depois de dizer algumas palavras, o papa dará a bênção tradicional de Urbi et Orbi – "à cidade e ao mundo" – e um novo pontificado começa.

Fonte: Com informações da BBC e Mais Goiás

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