
A investigação da Polícia Federal sobre fraudes no INSS expôs a ligação direta entre o ex-assessor parlamentar de Hugo Motta (Republicanos-PB) e a entidade no centro do escândalo. Jeronimo Arlindo da Silva Junior, conhecido como Junior do Peixe, foi secretário no gabinete do deputado entre outubro de 2020 e fevereiro de 2021, ao mesmo tempo em que exercia o cargo de diretor de Assuntos Institucionais da Conafer (Confederação Nacional dos Agricultores Familiares e Empreendedores Familiares Rurais do Brasil).
A Conafer é uma das 13 entidades investigadas por aplicar descontos associativos não autorizados nos benefícios de aposentados e pensionistas do INSS, uma prática que teria gerado prejuízo de até R$ 6,3 bilhões entre 2019 e 2024. Só a Conafer arrecadou mais de R$ 350 mil em 2019 e saltou paraR$ 202 milhões em 2023. Segundo auditoria da Controladoria-Geral da União, 98% dos entrevistados disseram não ter autorizado os descontos.
Durante o período em que acumulava funções na Câmara e na confederação, Junior assinou um ofício reconhecendo responsabilidade sobre o envio de fichas associativas ao INSS e recebimento de notificações judiciais ligadas às fraudes.
Em 2024, ele tentou se candidatar a vice-prefeito de Marizópolis (PB) pelo Republicanos, partido presidido por Motta, e aparece com frequência em postagens ao lado do deputado. Questionado, Hugo Motta não quis comentar o caso. Nem Junior nem a Conafer se manifestaram.
A revelação pressiona ainda mais o presidente da Câmara. A oposição tenta instalar uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para investigar os descontos indevidos. Motta, no entanto, diz que a Câmara já atingiu o limite de cinco CPIs simultâneas. Ele sugeriu que os oposicionistas desistam de outras investigações para abrir espaço. Sem consenso, o grupo recorreu a um pedido de CPI mista, que será avaliado pelo presidente do Congresso, Davi Alcolumbre (União-AP).
O escândalo já provocou consequências no governo, com o presidente do INSS, Alessandro Stefanutto, que foi demitido, e o ministro da Previdência, Carlos Lupi, pediu demissão dias depois. A AGU pediu o bloqueio de R$ 2,56 bilhões em bens de 12 entidades. A Conafer e a Contag, apesar dos altos valores arrecadados, ficaram de fora.
Agora, sob nova gestão, o INSS tenta conter os danos, suspendeu o programa “Meu INSS Vale+” e promete apurar internamente o esquema. No momento, o pasta iniciou a notificação dos beneficiários para repor o prejuízo financeiro dos descontos indevidos.
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Fonte: Brasil 247