É uma manifestação das mais cruéis da incivilidade transformar a política num meio para alcançar a danação da morte. Uma doença civilizatória grave.
Neste momento o Brasil se conduz por facções violentas cujo modo de operar politicamente é a imposição do medo, brandindo as armas que matam, e a morte aos que não se submetem.
A campanha eleitoral deste ano vai alcançando os dias decisivos. E a violência insistente assume, já, um caráter que abertamente já não é mais apenas ameaça.
A Constituição, já “desmoralizada” pelo golpe lavajateiro, ou lavato-justiceiro, agora é rasgada pelos agentes que a fizeram, tudo para reconduzir, comprando voto, o golpista planaltino e suas facções violentas, a militar e policial entre elas. Oficializou-se, em nível constitucional, a compra de votos, já praticada desde que o Brasil era Portugal.
No jogo real de um experimento democrático sem convicção vinda do povo, vale lembrar que em 1930 derrubou-se um governo tido por fraudador da vontade popular, pregando-se a criação de uma Justiça Eleitoral que levasse a organização dos pleitos para o Judiciário, retirando-os da esfera meramente político-partidária. Valeu? Valeu. Em termos. Mas não se tenha ilusões em relação a poderosos sem voto, se até os votados são quem de fato são. Cada vez mais também facção política perigosa.
Eleições no Brasil são em geral violentas: cacete, trabuco, e junto, mentira, fraude, dinheiro sujo, tudo vindo no pacote dos processos eleitorais. Agora ressalta o terror. Sobre “eleições no Império”, por exemplo, denunciou o notável publicista e historiador, João Francisco Lisboa, o Tímon maranhense, a fraude deslavada nos pleitos então realizados nas circunscrições paroquiais.
A bala e todo tipo de pressão, inclusive do voto sem sigilo, eram determinantes dos pleitos, a rigor, acerto de contas e outros interesses de chefias partidárias e de facções. O Brasil raramente conhece partidos, segundo a História evidencia em várias formações políticas de tradição europeia mais recente. É mais forte a impulsionar disputas de poder, o engalfinhamento de facções mais diversas.
Numa formação social que se declara formalmente “democracia representativa”, tal o Brasil, a não existência de organizações tipo partido, nessas disputas, com vocação implícita de alternância, sobram brechas abertas para todo tipo de arranjo de facções, em geral espúrios, substituindo o jogo das disputas que são próprias dessas organizações.
O conhecido cacoete golpista – manjado e insistente – de facções em luta não reconhecerem resultados de eleições é um sintoma de que poucos acreditam na alternância de posições como vontade legítima dos que são titulares da escolha. Tudo isso forma um caldo de violência que, comumente, impacta e decide o desfecho de eleições.
A ameaça de impedir que haja novas eleições, feita diariamente pelas facções que tomaram o Planalto há seis anos, num golpe, é a violência cruel. E pior não seria o matar, a tradicional eliminação política e física de adversos, sobretudo de classes? Em termos: violência mais que simbólica essa do golpe, porque expressão do destroço das instituições que deveriam assegurar o Império da lei e não se tornar a garantia do império da vontade dos próprios usurpadores, feitos tiranetes.
Golpistas são abundantes no Brasil. Assim como devastador o déficit de democratas convictos, e práticos. Agora mais uma eleição nas asas do golpe 16 e já marcada pela brutal violência das regras rasgadas para macular o processo, que, até a Oposição, esquecida dos valores que deveria representar, capitulou, na expectativa de receber seu naco parlamentar reeleitoral, sacado do infame “orçamento secreto”.
Dizem que o Brasil “não é para iniciantes”. Isso faz algum sentido apenas quando se pensa na tosca elite que se fez dirigente da sociedade, à custa, p. exemplo, do desenvolvimento humano e do conhecimento sonegado à maioria do povo. Além da sonegação criminosa de moradia, comida e emprego. E paz.
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