Proa & Prosa

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A governadora

Anos mais tarde, abre-se a temporada de mudanças relacionadas ao separatismo Brasil-Portugal, e o Piauí

Fonseca Neto

Segunda - 04/04/2022 às 10:20



Foto: Divulgação Regina Sousa toma posse como governadora do Piauí
Regina Sousa toma posse como governadora do Piauí

O chamado “fato histórico” típico. Aliás, no exemplo, um fato histórico extraordinário. Nada típico.

Depois de um Te Deum, na Vila da Mocha, na Matriz da Vitória, João Pereira Caldas tomou posse como primeiro governador do Piauí. Um enviado do rei e tinha então 23 anos.

Esse fato se deu em 20 de setembro de 1759. Pelos registros documentais-historiográficos, desse longínquo dia, até o 31 de março do ano que passa, foram 136 governadores se sucedendo. Todos, homens. A partir de 31 de março de 2022, a primeira governadora. Tem o nome de Maria Regina Sousa.

Pereira Caldas foi sucedido por Gonçalo Lourenço Botelho de Castro e ainda na era setecentista outros governadores e muitos anos de governo dirigido por Juntas, modo que as Ordenações do Reino regulavam para as interinidades.

Assim chegou o século XIX, com Francisco Diogo de Moraes à frente do governo piauiense, seguido de Pedro José de Meneses e outros, todos de nomeação régia e tinham vínculo hierárquico na América portuguesa com o governo geral sediado em São Luís – em certo momento, a sede em Belém do Pará.

Quando esta zona da colonização portuguesa foi instituída como reino, às instâncias do Congresso de Viena, em 1815, governava o Piauí, Baltazar de Sousa Botelho de Vasconcelos.

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Anos mais tarde, abre-se a temporada de mudanças relacionadas ao separatismo Brasil-Portugal, e o Piauí, pela terceira vez, conhecerá uma temporada de governo de Juntas, com Elias José Ribeiro de Carvalho, até 1821, o último governador com nomeação pelo soberano português.

Em 1825, após liderar Juntas, Manoel de Sousa Martins, brigadeiro, e por nomeação do Império do Brasil, assume o governo monocrático do Piauí – e será o governante piauiense de mais longa duração à frente da Administração. O título de governador já fora substituído pelo de presidente da Província.

E presidentes da província, o Piauí os teve até 15 de novembro de 1889, décadas em que o Piauí foi por eles governado, posto que nomeados pelo Imperador. Foram muitos, e não poucos atuando como vices em exercício. Além do referido Sousa Martins, são dessa época muitos governantes notáveis, entre eles, Zacarias de Góis e Vasconcelos, distinto por promover a criação do Liceu piauiense, José Antonio Saraiva, promovendo a mudança da Capital, Franklin Américo de Meneses Dória, preocupado com o Ensino.   

O advento da República trouxe inicialmente a interinidade de uma Junta, após o que assumiu o primeiro governador da nova forma política, Gregório Taumaturgo de Azevedo. O primeiro escolhido em processo eleitoral direto foi Raimundo Arthur de Vasconcelos.

Após 1930, nova Junta e governadores-interventores. O mais longevo no cargo, nessa conjuntura, Leônidas de Castro Melo – o que governou o Piauí por mais tempo no transcorrer do século XX. Na época da Ditadura implantada pelo golpe de 64, os governadores eram indicados pelo Regime e, pro forma, chancelados pela Assembleia Legislativa.

Desde 1982, com Hugo Napoleão do Rego Neto, todos os governadores foram eleitos pelo voto popular. Alguns, eleitos vices, foram titularizados, exemplo de Djalma Martins Veloso.

Ninguém foi eleito três vezes e Wellington Dias foi o único eleito quatro vezes. Depois de Sousa Martins, o que mais tempo ficou à frente do governo do Piauí.  

Eleita em chapa com Dias, agora Regina Sousa inscreve-se na história da vida pública local, sendo a primeira mulher a governar o Piauí. E é muito bom que seja essa professora de Letras a conquistar essa primazia-dever cívico proeminente. Tem o jeito, o rosto  e o corpo do Piauí real.

E qual a estrela da manhã, vermelha e cálida, lidera o Piauí para o amanhecer da paz e da justiça.            

 

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Fonseca Neto

FONSECA NETO, professor, articulista, advogado. Maranhense por natural e piauiense por querer de legítima lei. Formação acadêmica em História, Direito e Ciências Sociais. Doutorado em Políticas Públicas. Da Academia Piauiense de Letras, na Cadeira 1. Das Academias de Passagem Franca e Pastos Bons. Do Instituto Histórico e Geográfico do Piauí.

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