Com gentil dedicatória, o advogado e escritor Evandro de Andrade Guerra presenteou-me com uma relíquia de sua autoria, o livro “Castro Alves, Deus, Universo, Amor e Liberdade” (edição do autor – Brasília – DF- 2017).
A obra traça um retrato belo e comovente deste grande poeta, que colocou sua escrita a serviço da defesa da liberdade, contra a escravidão, em contraponto à hipocrisia e ao poder das elites, fazendo de sua poesia um sitio definitivo para manter vivos o ideário de suas convicções e a utopia de uma luta desigual. Por isso mesmo, tanto o poeta quanto sua magnífica obra sobreviveram ao tempo. Justo, portanto, que Castro Alves tenha se tornando símbolo de uma luta justa e mito na América Latina.
Preciso nas entrelinhas, Evandro Guerra penetrou fundamente na emoção do poeta, do menestrel da liberdade, incansável combatente da escravidão, expondo, avaliando e interpretando as diversas fases de sua rica poesia.
No entanto, o poeta foi para além da liberdade como a mais amiúde das matérias-primas de sua obra. Evandro nos sinaliza esse rumo tão pouco explorado da poesia de Castro Alves, mostrando nuances da paixão pela mulher, o orgulho baiano, a visão ampla dos variados ângulos de um país ainda em formação.
No contexto, Evandro Guerra situou os ciclos: as crises políticas, nos países ocidentais, o grito de guerra contra as ditaduras latinas e europeias, a imagem do Brasil em todos os cenários.
Essa leitura fez-me transportar para o passado, trazendo-me à mente muitas boas lembranças de tempos escolares, quando Castro Alves era declamado pela meninada, como símbolo de um defensor dos direitos humanos e das liberdades individuais.
Mas também ler o livro de Evandro fez-me enxergar um vasto painel de estudos e avaliação, a poesia libertária, a mulher amada, a sensualidade feminina, a vocação para a liberdade, o voo imaginário nas galés da escravidão, a revolta não contida e tantas vezes proclamada e que fizeram de Castro Alves o mais popular poeta do Brasil, o maior defensor das liberdades humanas, combatendo a crueldade da escravidão e expondo com coragem suas posições políticas e ideológicas.
Poeta da minha adolescência, mito da juventude que atravessou várias gerações com a mesma grandeza intelectual, Castro Alves é analisado por um perfeccionista dos detalhes. Evandro Guerra expõe com clareza as diversas fases do poeta, múltiplo na sua visão de mundo e da vida. Sim, “existe um povo que a bandeira empresta/ para encobrir tanta infâmia e covardia”. A expressão secular nunca esteve tão atual, respeitada a noção de tempo e o conceito de democracia e liberdade. Hoje somos escravos de um novo modelo de opressão.
O livro nos faz ver um Castro Alves educador. No momento cruel da escravidão soube colocar seu estro a serviço da liberdade. Como poucos, numa época de dificuldades e pouca produção literária, dados os custos e os controles do Estado, foi capaz de doutrinar a juventude, incentivando a leitura de livros “às mancheias”, ensinando-nos que benditos os que semeiam, livros, mandando o povo pensar.
Estou muito grato ao Evandro de Andrade Guerra pela chance de um reencontro com Castro Alves, formando na Faculdade de Direito do Recife, onde estudei e passei a admirar ainda mais a obra e o criador, por seu papel com a causa da justiça, da liberdade e dos direitos humanos. Ler esse livro fez consolidar em mi a ideia que há muito trago: Castro Alves, por sua obra e militância contra a escravidão e em favor da liberdade, pode ser considerado como pioneiro na causa dos direitos humanos em nosso país.