
A expressão negócio da China representa uma transação muito boa e vantajosa. Há uma série de explicações para esse tipo de expressão, sendo uma das mais aceitas a de que produtos advindos da China antiga (como a seda, porcelanas e especiarias) permitiam ao mercador obter lucros estratosféricos.
Para o mundo atual, em que a China se consolida como a segunda maior economia do mundo e avança com seu apetite econômico-financeiro sobre vastas regiões do planeta, o que seria um negócio da China? Parece possível que se aponte para a inexistência de transações em que se ganhe muito dinheiro rápida e facilmente. Mais provável é que se queira ter uma taxa de ganho mais módica, mas sustentada por anos.
A manutenção dos negócios com parceiros comerciais por longo tempo é algo tão fundamental como a garantia de condições ambientais equilibradas – uma exigência dos tempos atuais, em que não basta ganhar mais dinheiro, é preciso que se tenha uma perspectiva de futuro para quem produz e quem consome.
Boa parte dos países do mundo compreendeu rapidamente que expandir a economia não pode nem deve ser uma ação a ferro e a fogo. Outro entendimento é o de que se perde mais com degradação que com a conservação da natureza. Exploração racional é bem mais que uma palavra de ordem, é uma coisa boa para os negócios – sobretudo aqueles relacionados diretamente ao que chamamos de ativos naturais, como o solo, a água e as florestas, que são filtros para o ar, elemento essencial para vida e qualidade de vida.
A China, que faz negócios com o mundo todo, trafegou em caminho de mais degradação e menos preservação sem maiores culpas nas últimas quatro décadas. Porém, começou a se dar conta de que fazia mal não somente ao planeta, mas à sua economia interna, promover uma economia muito emissora de carbono. Assim, os chineses criaram seu próprio negócio da China: o governo via plantar árvores na casa das centenas de milhões.
Até 2025, a China pretende plantar 36 mil quilômetros quadrados de florestas por ano. Se cumprir a meta, em cinco anos haverá 180 milhões de hectares de matas na China, num esforço local para reduzir a zero as emissões de carbono líquido do país até 2060.
É claro que há riscos embutidos neste esforço chinês, notadamente para o Brasil, e o principal deles poderá ser o estabelecimento de embargos ambientais futuros dos chineses a produtos agropecuários brasileiros. Assim, para quem produz alimentos e outras mercadorias agropecuárias no país, um negócio da China é seguir normas ambientais e preservar de olho no futuro, quando os chineses, hoje grandes poluidores, vão tomar o rumo já seguido pelos europeus de exigir produtos com o mínimo de custos socioambientais.
Álvaro Fernando da Rocha Mota é advogado. Procurador do Estado. Ex-Presidente da OAB-PI. Mestre em Direito pela UFPE. Presidente do Instituto dos Advogados Piauienses.
