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Elizalva Mota, 80 anos de vida e amor

No último domingo, no almoço em sua casa, passou quase o tempo todo falando de fatos de sua vida, da primeira infância em Oeiras

Alvaro Mota

Terça - 01/02/2022 às 12:04



Foto: Divulgação Alvaro Mota e sua mãe Maria Elizalva Ferreira da Rocha Mota
Alvaro Mota e sua mãe Maria Elizalva Ferreira da Rocha Mota

Hoje, vou pedir vênia aos leitores para trilhar os caminhos do coração e falar dos 80 anos de minha mãe - Maria Elizalva Ferreira da Rocha Mota, nascida em Oeiras, Piauí, em 1º de fevereiro de 1942, filha de Salvador Gomes da Rocha e Eliza Campos Ferreira da Rocha. Seu nome é o resultado da composição dos primeiros nomes de seu pai e de sua mãe.

No último domingo, no almoço em sua casa, passou quase o tempo todo falando de fatos de sua vida, da primeira infância em Oeiras, onde aprendeu as primeiras letras e a religiosidade até a maturidade responsável, carregada de compromissos e propósitos.

Como cidadã oeirense, minha mãe herdou o amor pela conservação do que é bom e o apreço pela religiosidade católica, um ensinamento que traz de família, da avó Assineth Campos Ferreira e de suas tias: Maria do Amparo, Tereza, Maristela, Maria das Dores. Mas, carrega também o dom de gostar do convívio em família; assim, ama está com seus primos, com suas irmãs, com seus sobrinhos e com seus filhos.

De Oeiras trouxe consigo, dentre muitas outras coisas, as lembranças do singular personagem público daquela cidade, o Zé de Helena, que em sua função de jardineiro da Praça da Matriz de Nossa Senhora das Vitórias sempre brindou minha mãe com flores colhidas ali mesmo. Tem doces recordações de uma infância feliz, e recorda que passava férias na fazenda Berlenga com sua prima e madrinha- Antoninha Britto.

De uma cidade histórica para outra, foi a vida de minha mãe na infância, quando aos 10 anos de idade deixou Oeiras com sua família para residir em São Luís- capital do Maranhão, para onde foi de trem, desde Teresina. Em São Luís, o encontro com o mar e a alegria de viver foram marcantes até a adolescência, quando a família retornou ao Piauí e fixou residência em Teresina, onde passou a estudar no Colégio das Irmãs e no Liceu Piauiense.

O mundo escolar deu a minha mãe a base para a vida pessoal e profissional, esta última exercida em órgãos e empresas como a Cepisa, Secretaria de Obras Públicas e Tribunal Regional Eleitoral do Piauí (TRE-PI), onde trabalhou até se aposentar, tendo privado naquele ambiente laboral das companhias de mulheres pioneiras na administração públicas, entre as quais Myriam Portella, Alda Gayoso, Marlene Mendes, Maria de Jesus Campos, Lúcia Martins, Silvany Resende e Luzia Sobral.

Casou-se com meu pai, Berilo – sendo a sua melhor companhia quando ele trabalhou em comarcas no interior do Piauí, como em Piracuruca, onde moramos por dois anos. Nossa família se completou com o nascimento de minhas amadas irmãs: Ana Leonor e Juliana Mota, que, junto comigo, receberam de nossa mãe o incentivo ao desenvolvimento pessoal e profissional. Ela sempre nos ensinou a gostar das pessoas, em especial as mais simples e nos guiou pelo caminho da Fé, pois sempre cultivou a frequência à Igreja e à missa.

Ela nos educou muito bem, muito bem e muito bem, na ausência de nosso pai, falecido em 1982, que a deixou viúva aos 40 anos de idade. A exemplo de milhões de mulheres brasileiras, minha mãe desempenhou o papel de pai e mãe. E fazia com esmero. Ela sempre nos incentivou ao trabalho e aos estudos, adorava ler, sempre trazendo revistas e livros para lermos. Preparava nosso material escolar com muito carinho.

Posso dizer que foi uma mãe brasileira clássica: dedicou a vida aos filhos e à família, inclusive sendo exímia cozinheira, porque adora cozinhar, sendo grande quituteira. E fez disso meio para aumentar a renda familiar, pois durante algum tempo fez comida para fora – assava pernis, o que a fazia ser frequentadora de mercados para comprar insumos, mas onde também fazia muitos amigos.

Com essa força interior, que fazia dela uma pessoa de temperamento forte, mas generosa e sociável, minha mãe não se deixou, em 1982, abalar-se pelo luto em razão da morte de meu pai. Meu pai faleceu em outubro de 1982, e, em fevereiro de 1983, minha mãe me mandou estudar em Recife, porque sabia que esta era a escolha correta a ser feita; o luto não foi impeditivo à coragem e à determinação de minha mãe e isso só fez aumentar meu amor e admiração por ela, por ter sozinha educado os filhos, assumindo o papel de pai e mãe, proporcionando a mim e às minhas irmãs uma educação para além do que a gente entende como instrução.

De minha mãe sempre recebi bons ensinamentos, sobre ética, respeito e tolerância, sobre estudar sempre mais do que julgamos necessários – o que fez pelo exemplo da leitura em casa, uma prática que fez de mim e de minhas irmãs exímios leitores.

Posso dizer que minha mãe sempre foi um exemplo fundamental em minha vida. Alegre, dinâmica, comunicativa, expansiva, trabalhadora, generosa, criativa, o que granjeou a ela muitas e boas amizades, com senhoras como Nerina Castelo Branco, Maria José Arcoverde, Miriam Furtado e Vanda Santos, além de minha tia Maria Justina Mota, muito mais que sua cunhada, uma amiga de sua vida inteira.

Sabedoria, estabelecer e criar amizades, ser generoso e respeitar o próximo, manter a família unida e trabalhar muito são mais que lições, são os meios pelos quais vivo e me mantenho. Obrigado, minha mãe, por tantas coisas boas que me deu!

Álvaro Fernando da Rocha Mota é advogado. Procurador do Estado. Ex-Presidente da OAB-PI. Mestre em Direito pela UFPE. Doutorando em Direito pela PUC-SP. Presidente do Instituto dos Advogados Piauienses.

Álvaro Mota

Álvaro Mota

É advogado, procurador do Estado e mestre em Direito pela Universidade Federal de Pernambuco - UFPE. Álvaro também é presidente do Instituto dos Advogados Piauienses.
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