Olhe Direito!

Olhe Direito!

Chocolate na Páscoa

Tradição cristã mesmo, deixada de lado faz tempo, é a da semana que antecede àquela que chamamos de santa.

Alvaro Mota

Sexta - 15/04/2022 às 12:25



Foto: Divulgação Símbolo da Páscoa
Símbolo da Páscoa

Volta e meia se ouvem pessoas falando sobre a tradição do chocolate na Páscoa. Fico pensando se sou ou estou velho o bastante para não lembrar dessa prática tradicional entre nós. Ovos de Páscoa nunca foram um componente alimentar nas festividades de Páscoa entre católicos cristãos aqui no Piauí – pelo menos se a gente olhar para trás, em um horizonte invertido de quatro ou cinco décadas. Ovos de chocolate, então, muito menos.

Tradição cristã mesmo, deixada de lado faz tempo, é a da semana que antecede àquela que chamamos de santa. Perde-se nos escaninhos das memórias dos mais velhos a semana “caçadeira”, que remete ao período em que Cristo é caçado pelos romanos para a crucificação que expiaria os pecados da humanidade.

O mais eficiente dos censores

Renato Bacellar, advogado e cavalheiro

A genealogia de Miranda Osório

No catolicismo mais simples do povo do interior do Piauí era também um momento do exercício de solidariedade e de comunitarismo, porque havia uma intensa troca e/ou doação de alimentos entre famílias, de tal sorte que não faltassem o que comer na mesa de cada um, mesmo que se fizessem restrições alimentares às carnes de animais de sangue quente (mamíferos e aves), bem como se procedesse o ato de jejuar.

Essa tradição comum ao Piauí rural – e acredito que a todo o Nordeste em igual posição – é, de fato, algo a ser lembrado como um ato preparatório importante para a Semana Santa, os atos penitenciais que muitos católicos seguiam e praticavam, a reunião familiar que o período da quaresma e a Páscoa que a ele se segue nos permitiam fazer.

Trata-se de algo tão arraigado no cotidiano das cidades interioranas que muitos municípios do Piauí as prefeituras chegam a antecipar pagamentos para que as pessoas que a elas prestam serviços possam adquirir víveres alimentícios para o período da semana santa – o que pode ajudar a manter viva essa tradição cristã católica.

Sob o ponto de vista litúrgico, seguem paróquias usando a semana anterior àquela das celebrações da paixão, morte e ressurreição de Cristo como um tempo de orações e preparação dos fiéis para os eventos religiosos intensos da semana posterior.  Algo que vem muito detrás, de um passado preenchido de fé, de uma visão de mundo mais simples e menos comercial e cujo resgate pode e deve ser buscado como um mecanismo de preservação de uma cultura popular importante e necessária.

Siga nas redes sociais
Álvaro Mota

Álvaro Mota

É advogado, procurador do Estado e mestre em Direito pela Universidade Federal de Pernambuco - UFPE. Álvaro também é presidente do Instituto dos Advogados Piauienses.

Compartilhe essa notícia: