Conciso

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Sim, racismo existe

Domingo - 30/07/2017 às 11:07



Foto: Divulgação Seu Jorge
Seu Jorge

Em um país tão desigual e formado por boa parte de hipócritas, é comum acontecer casos de racismo. As causas são explicadas pelo contexto histórico, sendo o Brasil uma das últimas nações abolidoras do regime escravocrata e deixando marcas indeléveis na população outrora sofrida.

Uma das vítimas recentes fora o talentoso artista Seu Jorge. Depois de sofrer ataques racistas desabafou “Esse cara aqui ... entrou na minha transmissão ao vivo pra destilar o seu veneno racismo contra minha pessoa me ofendendo de graça sem eu nunca tê-lo visto em toda minha vida! O que vcs acham que eu devo fazer a respeito desse assunto? Alguma sugestão? Só não vale o famoso deixar pra lá, pra não dizer depois que nós os negros somos paranoicos e cheios de mimimi!”

Mesmo tipificado como crime no ordenamento jurídico, os racistas não possuem receio em mostrar sua face cruel e cretina. É terminantemente proibido para essas pessoas a ascensão de alguém negro no país. Por isso, Seu Jorge - com sua excepcional voz e brilhante artista como poucos - é alvo certeiro do ódio de classes.

Como falado anteriormente, a cultura escravocrata ainda persiste e está muito enraizada. Falsos moralistas pregam a igualdade, discursam falando sobre crescer por méritos e qualquer um é capaz de vencer, bastando ter força de vontade. Para quem tem os pés no chão e faz uma leitura bem mais ampla de tudo isso, sabe o absurdo de inverdades contidas nessas afirmações.

Ficaram para os descendentes de escravos todas as mazelas. Os piores empregos, péssimas moradias, infraestrutura muito a desejar e, pior de todos, estarem à margem na sociedade. Antes que pensem nos casos de sucesso, preciso nem lembrar ser a exceção e já diria o eterno Tim Maia “se não fosse a música e o futebol, nós (negros) estaríamos lascados”.

É como se no Brasil existisse o chamado sistema de castas predominante na Índia. Mesmo não admitido pelo governo local, a realidade é que está presente na sociedade indiana e interfere no modo de vida dos cidadãos de lá. Tal como ocorre no Brasil, na teoria é tudo muito bonito e animador, mas a realidade é a de que a maioria formada por negros encontra dificuldade muito maiores em detrimento dos privilégios da chamada elite branca.

Então, existe essa possibilidade de ascensão social no Brasil e com políticas públicas voltadas para a justiça social é possível vencer esse mal secular. Compreende-se ser inadmissível pautar o sucesso ou caráter de alguém pela raça apresentada, aceitar o diferente é o primeiro passo para vencer esse retrocesso, podendo acabar de vez com esse ódio injustificável.

Seu Jorge foi mais uma vítima e não se fez coitado. Colocou o racista em seu devido lugar, mostrou altivez ao mostrar serenidade no trato do assunto e, acima de tudo, não quis “deixar pra lá” esse crime. Pois, a inércia dos oprimidos, na maioria dos casos, é o que espera o opressor para não parar com suas condutas.

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Joaquim Lourenço

Joaquim Lourenço

Joaquim Lourenço é licenciado em Letras pela Universidade Federal do Piauí e advogado pela FAP Mauricio de Nassau

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