Conciso

Salve(m) as Rainhas


Feminicídio/Imagem ilustrativa

Feminicídio/Imagem ilustrativa Foto: Google

“O que é ser mulher? Nós precisamos transformar o conceito, ou o preconceito que cai sobre nós. Ser mulher é ser guerreira para lutar contra o machismo, contra o assédio e contra a violência que nós sofremos diariamente.” Essa parte do discurso épico da Miss Brasil 2017 Monalysa Alcântara, ao passar a faixa, enfatizou ainda mais uma realidade que muitos teimam em não encarar, como as mulheres são descriminadas pelo fato de serem mulheres. 

Numa sociedade tradicionalmente patriarcalista e retrógrada como a brasileira, esse problema cresce exponencialmente. O sujeito, na sua criação, cresce absorvendo valores nos quais o homem pode tudo. É detentor do poder, não pode se deixar levar por sentimentalismo, pois assim será visto como fraco e não digno de respeito. Um absurdo para o século no qual vivemos, mas normal para muitos. 

Com esses “valores” têm-se a combinação imperfeita para o surgimento de um mal que teima em existir: o machismo. Este não é propriedade apenas dos homens, não é tão incomum vermos mulheres defendendo esse tipo de prática, nem imaginando o quanto podem contribuir para a formação de psicopatas em potencial, até mesmo assassinos. Felizmente são poucas e em queda o número de machistas do sexo feminino. 

Criado o ser machista deve-se atentar para as consequências de seus pensamentos e comportamentos. Em se tratando deles a misoginia reina, pois encararia como grande derrota ser preterido em alguma competição por uma mulher, seria uma afronta imperdoável. Por isso, na cabeça do machista, as mulheres devem ser ridicularizadas, desencorajadas e agredidas em sua honra e, se for preciso, fisicamente. 

Para piorar, essa classe de machistas sempre teve representatividade na seara política. O problema é que agora existe um candidato à presidência da república apresentando-se –  sem nenhum pudor ou ao menos vergonha –  defensor dessas práticas. Ressaltou em um programa de TV que empregaria uma mulher ganhando menos ao homem pelo fato de engravidar, não vê mal na tortura ou até estupraria caso merecesse. Alguns o chamam de mito, para mim é só um mentecapto encantador de plateia acéfala. 

Depois de agredir o próximo passo é encerrar a vida. E desde 2015, devido aos inúmeros casos de assassinatos de mulheres por conta de seu gênero, foi tipificado pelo ordenamento jurídico brasileiro o crime de feminicídio. Visando combater essa prática que ceifou a vida de várias mães, irmãs e filhas, destruindo literalmente a vida dos entes mais próximos. Tendo de, além da perda, ter de suportar a dor de culparem-se por não evitar a tragédia. 

No Piauí os episódios de feminicídio são aterradores nos números e na crueldade. A premissa de “se não é minha não é de mais ninguém” impera em quase todas as situações. Sem falar em um dos poucos casos que foram a julgamento, onde a defesa de um dos assassinos ainda utilizou a tese de culpar a mulher pela sua própria morte. É de doer o estômago, mas a família ainda teve de lidar com esse infortúnio daquele a prezar (teoricamente) pela justiça.  

O feminicidio tem sua raiz decorrente no machismo. Mesmo depois de tornado crime por lei não houve uma diminuição considerável nos casos, de certa forma é preciso acabar com a cultura machista e procurar respeitar a mulher em sua condição, comportamento e decisões. Pois como salientou nossa eterna Miss Brasil, Monalysa Alcantâra, em outra parte de seu discurso “Não somos objetos e nem propriedade de ninguém. Nosso corpo, nossa alma, nossas regras. Ser mulher é ser você mesma e é por isso que eu digo que toda mulher é uma rainha”. 

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Joaquim Lourenço

Joaquim Lourenço

Joaquim Lourenço é licenciado em Letras pela Universidade Federal do Piauí e advogado pela FAP Mauricio de Nassau
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