
Um novo estudo publicado no American Journal of Preventive Medicine aponta para uma relação entre o aumento do consumo de alimentos ultraprocessados e o risco de morte prematura. A pesquisa envolveu mais de 240 mil pessoas e revelou que, para cada 10% a mais de calorias provenientes desses alimentos, o risco de morte prematura aumentava em cerca de 3%. Esse risco foi analisado em indivíduos entre 30 e 69 anos, um intervalo em que as mortes podem ser consideradas prematuras.
O estudo foi conduzido por Carlos Augusto Monteiro, professor da Faculdade de Saúde Pública da USP, que cunhou o termo "ultraprocessado" em 2009 e criou o sistema NOVA para classificar os alimentos conforme o seu grau de processamento. Nesse sistema, os alimentos ultraprocessados são aqueles que contêm pouco ou nenhum alimento integral, sendo compostos majoritariamente por ingredientes sintéticos e aditivos.
Monteiro, em um editorial publicado na The BMJ, explicou que o consumo de alimentos ultraprocessados pode ser prejudicial, pois o corpo humano pode reagir negativamente a esses produtos, fabricados com ingredientes quimicamente manipulados e aditivos artificiais. Ele afirmou que o corpo humano ainda não se adaptou completamente a esses produtos, o que pode resultar em danos a sistemas biológicos, dependendo da quantidade consumida.
Embora o estudo forneça evidências de uma associação entre o consumo de alimentos ultraprocessados e mortes prematuras, ele não afirma que esses alimentos são a causa direta das mortes, uma observação feita pela cientista de nutrição Nerys Astbury, da Universidade de Oxford. Segundo a pesquisa, a redução do consumo de alimentos ultraprocessados poderia evitar um número significativo de mortes. Por exemplo, se o consumo desses alimentos fosse reduzido a zero nos EUA, mais de 124 mil mortes poderiam ser evitadas anualmente.
Além das mortes prematuras, o estudo também destaca que o consumo de alimentos ultraprocessados está relacionado a diversos problemas de saúde, como obesidade, diabetes tipo 2, ansiedade, distúrbios do sono, declínio cognitivo, e um aumento de até 50% no risco de morte por doenças cardiovasculares. Pesquisas anteriores indicam que até 10% a mais de alimentos ultraprocessados em uma dieta pode estar ligado a aumento do risco de cânceres e acidente vascular cerebral.
Outro ponto importante do estudo é que dois terços das calorias consumidas pelas crianças nos EUA são provenientes de alimentos ultraprocessados, e cerca de 60% da dieta dos adultos também é composta por esses produtos. O estudo sugere que o consumo desses alimentos é especialmente alto nos EUA, onde quase 55% da dieta é composta por ultraprocessados.
Entretanto, a indústria alimentícia, representada pela Consumer Brands Association, criticou o estudo, afirmando que a demonização dos alimentos ultraprocessados pode resultar em disparidades de saúde e em acesso limitado a alimentos ricos em nutrientes. A associação também sugeriu que isso pode levar as pessoas a evitarem alimentos acessíveis e convenientes, o que poderia piorar a qualidade da dieta.
Por outro lado, Fang Fang Zhang, professora da Universidade de Tufts, ressalta que o aumento do consumo de alimentos ultraprocessados é um problema crescente, especialmente em países com dietas altamente industrializadas como os EUA. No entanto, ela também alerta que as estimativas de mortes evitáveis por redução do consumo de ultraprocessados podem ser superestimadas, considerando que seria quase impossível eliminar completamente esses alimentos da dieta global.
Em suma, os resultados indicam que o consumo excessivo de alimentos ultraprocessados está fortemente associado a piores resultados de saúde. No entanto, como a relação de causa e efeito não foi confirmada, mais pesquisas são necessárias para entender melhor o impacto desses alimentos à saúde a longo prazo.
Fonte: Com informações da CNN