Saúde

Aneurisma vs. Acidente Vascular Cerebral: quais as diferenças?

Recorrentes e assintomáticos, o Acidente Vascular Encefálico (AVE), o Aneurisma Cerebral merecem atenção redobrada

Sábado - 11/03/2017 às 13:03



Foto: San Antonio Express-News Cérebro
Cérebro

As doenças que acometem personalidades de forma repentina, e às vezes levam à morte fulminante, causam comoção e discussões estridentes nos meios de comunicação e, principalmente, nas redes sociais. O lado positivo de tamanha exposição é que a informação que permeia hoje todos os ambientes sociais pode levar à conscientização da população leiga sobre a importância da prevenção – menos estresse, melhor alimentação, prática recorrente de exercícios físicos, entre outras. Por outro lado, o alarde pode também dispersar o foco da questão, ou seja, que é o de esclarecer de forma abrangente e correta as causas, os sintomas e a urgência de uma avaliação minuciosa por um especialista.

O que está em jogo é o risco de vida. Recorrentes e assintomáticos, o Acidente Vascular Encefálico (AVE), o Aneurisma Cerebral e até mesmo os Ataques Isquêmicos Transitórios (AITs, conhecidos popularmente como mini-AVCs) merecem atenção redobrada, como explica o neurocirurgião Luiz Daniel Cetl, especialista em tumores cerebrais do Departamento de Neurocirurgia da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP): “Os sintomas, as sequelas e as repercussões são variáveis e dependem da conjunção de fatores, como a localização do evento, sua extensão, condições clínicas do paciente e do início do tratamento após a instalação dos sintomas”.

Afinal, AVC (Acidente Vascular Cerebral) ou AVE (Acidente Vascular Encefálico)?

O Acidente Vascular Cerebral (AVC), popularmente conhecido como derrame, é um termo consagrado e bem conhecido para os leigos. Do ponto de vista médico, o termo mais adequado é Acidente Vascular Encefálico (AVE), por se tratar de uma disfunção neurológica resultante da interrupção do abastecimento de sangue no encéfalo, formado por vários órgãos que compõe a caixa craniana: cérebro, cerebelo, bulbo raquidiano, tronco cerebral, telencéfalo, mesencéfalo, diencéfalo, ponte, terceiro e quarto ventrículos, aqueduto cerebral[LC1] .

Do ponto de vista clínico, os AVEs podem ser isquêmicos (por falta de sangue em alguma região do encéfalo) ou hemorrágicos (sangramento em algum ponto do encéfalo). O que ocorre é um desabastecimento de sangue causado por uma isquemia (entupimento), ou ruptura das artérias que irrigam esse conjunto de órgãos (hemorrágicos). “Todo o sistema nervoso está interligado, e uma lesão em uma mínima parte do encéfalo pode ter grandes repercussões no todo e suas implicações e a localização da lesão podem ser difíceis de diagnosticar[LC2] ”, explica o neurocirurgião.

Os AVEs isquêmicos são causados pela oclusão (interrupção) de vasos que levam sangue para o encéfalo e podem ser divididos em aterotrombóticos e cardio-embólicos, dependendo da sua origem.

Os aterotrombóticos são causados pela deposição de placas de colesterol na parede dos vasos, podendo chegar a ponto de fechar completamente ou, como mais frequentemente ocorre, uma ulceração da placa de colesterol devido ao seu aumento, obstrução súbita do fluxo sanguíneo, associada ao fluxo de sangue. Ocorre, principalmente, em pacientes com hipertensão arterial sistêmica (HAS), Diabetes (DM) e hipercolesterolemia, em especial quando não controlados adequadamente.

Os AVEs cardio-embólicos são causados por problemas cardíacos que alterem o fluxo de sangue, causando um turbilhão ainda dentro do coração. Pode ser decorrente de uma endocardite, (infecção do endocárdio, a camada mais interna do coração), e arritmias cardíacas. Na endocardite, pequenas placas com o material inflamatório/infeccioso se desprendem e caem na circulação. Ao chegar a um vaso suficientemente pequeno, interrompem, cessando a irrigação. Nas alterações cardíacas que provocam o turbilhamento do sangue, são desenvolvidos pequenos trombos (coágulos de sangue).

Os AVEs hemorrágicos, por sua vez, são causados porque alguns vasos cerebrais acabam rompendo-se, em geral devido a picos de pressão arterial. O sangue extravasa para o encéfalo e destrói a região acometida.

Em ambos os casos, as doenças mais associadas ao aparecimento dos AVEs são a Hipertensão Arterial (HAS), o diabetes melitus (DM), a hipercolesterolemia, principalmente nos pacientes que não têm um controle adequado dessas condições. Por isso, a prevenção dos AVEs é feita com o tratamento e controle de suas causas, que pode ser medicamentoso, mas não devem ser dispensadas a adoção de práticas saudáveis, entre elas, a atividade física cotidiana. Em todos os casos, sempre com orientação médica.

Aneurisma Cerebral

Causados por uma falha da parede do vaso (artéria), o aneurisma cerebral é um capítulo à parte.

A falha na parede arterial pode estar presente desde o nascimento (congênito) ou se desenvolver mais tarde, quando um vaso sanguíneo é lesionado. Quando é congênito, pode levar décadas para se desenvolver. Segundo o médico, raramente esta condição pode ser causada por infecção, ou até mesmo trauma. Pode acometer a todos e em qualquer idade, embora a maior incidência ocorra após os 50 anos.

Os aneurismas antes do sangramento são completamente silenciosos e, embora ocorram mais frequentemente na população oriental do que em outras etnias, não há como prevenir o seu surgimento. “É uma doença perigosa, silenciosa. Mais dramático é o aneurisma roto, que após o sangramento apresenta evolução grave, de alto risco”, diz o médico Luiz Cetl.

Na população em geral, cerca de 25% dos pacientes com aneurisma cerebral roto sequer conseguem chegar ao hospital. Dos que chegam, apenas 10 a 15% voltam às suas atividades normais. A descoberta de um aneurisma geralmente ocorre quando o indivíduo realiza algum exame preventivo e/ou de forma acidental, quando há investigação por outros motivos e os exames detectam o aneurisma. “O melhor prognóstico é quando consegue ser descoberto e tratado antes da ruptura. Nestes casos, os índices de cura são muito altos, permitindo que o paciente retorne às suas atividades cotidianas sem sequelas”.

Ataques Isquêmicos Transitórios

Os Ataques Isquêmicos Transitórios (AITs ou mini-AVCs) são causados pelos mesmos fatores dos AVEs isquêmicos, porém a oclusão dos vasos é temporária e os sintomas desaparecem completamente, sem deixar alteração nem mesmo nos exames de imagem posteriores. A literatura médica aponta que os sintomas podem desaparecer em 1 hora, ou em até 24 horas. O mais importante é que desapareçam completamente.

Como as causas são as mesmas dos AVEs isquêmicos, há quem considere como um ‘aviso’ de um evento maior, mas na realidade não é. É o mesmo que um AVE isquêmico, apenas por questões de tamanho do trombo e da artéria comprometida e da atividade trombolítica do organismo, esse vaso acaba sendo liberado e o fluxo de sangue é restabelecido a tempo de não haver sequelas definitivas. “Na verdade, o paciente conseguiu ter uma evolução muito positiva. Ainda assim, é preciso investigar suas causas e tratá-lo da mesma forma que um AVE, para se reduzir o risco de um novo evento, que pode não ter uma evolução tão favorável”, explica o neurocirurgião.

Exames

Para o especialista da UNIFESP, em todos os casos o exame de rotina é imprescindível, principalmente a partir dos 40 anos. A atenção deve ser redobrada por pacientes com predisposição hereditária, hipertensão arterial sistêmica, diabetes melitus e hipercolesterolemia.

Quando o aneurisma é achado em exames de forma “acidental”, através de uma tomografia de crânio para identificação de qualquer outra suspeita de doença, por exemplo, precisa ser investigado com exames complementares para uma melhor avaliação e indicação do tratamento.

No caso dos AITs (AVEs), se o paciente encontra-se dentro da janela de tratamento, deve-se usar medicações endovenosas para tentar dissolver o trombo/êmbolo, ou mesmo procedimentos endovasculares.

A prevenção de toda e qualquer doença começa com uma melhor qualidade de vida, com menos estresse, prática de atividade física cotidiana (independente da intensidade) e fecha o ciclo com os exames de rotina com um especialista. A avalição passa pela anamnese, ou seja, a boa e velha conversa entre médico e paciente. Se e quando detectado algum problema, o especialista da Unifesp indica: “Siga sempre as recomendações médicas. Elas serão úteis antes, durante e após o tratamento”.

Fonte: Noticias ao Minuto

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