
Uma comitiva de senadores bolsonaristas, liderada por Flávio Bolsonaro (PL-RJ), visitou a deputada federal Carla Zambelli (PL-SP) no presídio feminino de Rebibbia, em Roma, nesta sexta-feira (19). O grupo, que incluiu Damares Alves (Republicanos-DF), Eduardo Girão (Novo-CE), Magno Malta (PL-ES) e o deputado Cabo Gilberto (PL-PB), defendeu que Zambelli cumpra sua pena na Itália, em regime de prisão domiciliar, sem ser extraditada para o Brasil. A viagem, no entanto, levantou suspeitas sobre seu real objetivo: evitar que a deputada faça uma delação premiada contra bolsonaristas envolvidos em crimes perante a Justiça brasileira.
Zambelli está detida desde o fim de julho, após fugir do Brasil para escapar de uma condenação de mais de 10 anos de prisão pelo Supremo Tribunal Federal (STF). Ela foi considerada culpada por participar da invasão aos sistemas do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) para emitir um mandado falso de prisão contra o ministro Alexandre de Moraes. O hacker Walter Delgatti, preso na operação, confessou à Polícia Federal que Zambelli foi a mandante do crime.
Após o encontro de duas horas, Flávio Bolsonaro fez um apelo público ao ministro da Justiça italiano: "Assim como o presidente Bolsonaro atendeu a um pleito da nação italiana devolvendo o terrorista Cesare Battisti, deixe a Carla em prisão domiciliar aqui". A referência, no entanto, omite que a extradição de Battisti foi autorizada em 2018 por Michel Temer e concretizada no governo Bolsonaro em 2019.
Analistas políticos e fontes jurídicas ouvidas pela reportagem sugerem que a movimentação dos parlamentares visa bloquear qualquer possibilidade de Zambelli fechar um acordo de delação premiada no Brasil. A deputada possui informações privilegiadas sobre operações ilegais envolvendo figuras bolsonaristas, incluindo a invasão ao CNJ e supostos esquemas contra instituições democráticas.
O desespero do grupo bolsonarista cresce à medida que o ex-presidente Jair Bolsonaro e aliados enfrentam condenações pela tentativa de golpe de Estado entre 2022 e 2023. Zambelli, se extraditada, poderia negociar uma redução de pena colaborando com a Justiça – cenário que a cúpula do PL tenta evitar a qualquer custo.
Neste sábado (20), os senadores se reúnem com brasileiros em um hotel de Roma. No domingo, Flávio Bolsonaro participará de um evento da Liga, partido do vice-premiê italiano Matteo Salvini, ao lado de líderes da ultradireita europeia, como o francês Jordan Bardella.
A Justiça italiana já rejeitou um pedido para transferir Zambelli para prisão domiciliar, argumentando que há risco de fuga e que seu estado de saúde é compatível com o cárcere. O processo de extradição deve ser decidido até o fim de outubro, com possibilidade de recursos se estenderem por até quatro meses.
Enquanto isso, Zambelli alega perseguição política – narrativa repetida pelos senadores em Roma. O caso, no entanto, expõe a tensão within bolsonarismo entre proteger aliados e evitar que novas delações ampliem a crise jurídica que atinge o grupo.
Fonte: Agência FR
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