
Brasília (DF) - O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e mais 13 membros da organização criminosa golpista prestarão depoimento simultâneo à Polícia Federal (PF), na tarde desta quinta-feira (22). Os depoimentos acontecem após o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), negar pela terceira vez o pedido da defesa do ex-presidente para adiar o interrogatório. Além do ex-presidente e os 13 integrantes do grupo golpista, também serão investigados o ex-assessor especial, Filipe Martins, o coronel do Exército e ex-assessor, Marcelo Câmara, o major das Forças Especiais do Exército , Rafael Martins, e o coronel do Exército, Bernardo Romão Corrêa, presos pela PF na Operação Tempus Veritatis.
A defesa de Bolsonaro ainda alegou não ter acesso aos autos do processo, o que foi desmentido pelo magistrado.
"As situações fática e jurídica não foram alteradas, permanecendo a obrigatoriedade de comparecimento do investigado perante a Polícia Federal", afirmou Moraes em decisão divulgada na noite desta quarta-feira (21).
De acordo com as investigações, Bolsonaro seria o líder da organização criminosa que tramou e tentou aplicar um golpe de Estado no Brasil para manter o ex-presidente no poder.
A estratégia dos advogados do ex-presidente, Paulo Cunha Bueno, Daniel Tesser e Fabio Wajngarten é que Bolsonaro e outros aliados investigados fiquem calados para evitar contradições nos depoimentos.
O interrogatório simultâneo convocado pela PF é uma medida para evitar que os investigados combinem narrativas e atrasem a apuração do caso.
Os investigadores pretendem abordar os membros da facção com diálogos em grupos de aplicativos que mostram que o golpe chegou a ser desencadeado, mas foi frustrado diante da ação do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) no 8 de Janeiro, que decidiu não convocar Estado de Sítio e, assim, não entregar o país aos militares.
Bolsonaro em pronunciamento em novembro de 2022, em meio à trama golpista / Créditos: Isac Nóbrega/PR
Troca de mensagens
Entre os diálogos, será apresentada uma troca de mensagens entre Braga Netto e Sérgio Rocha Cordeiro, assessor de Bolsonaro que ficou preso até 8 de setembro do ano passado.
De acordo com as mensagens, Cordeiro pede que Braga Netto envie o currículo da esposa, que afirma que poderia enviar o currículo para a Secretaria Geral da presidência, além de sugerir a continuação de algo em curso..
"Cordeiro, se continuarmos, poderia enviar para a Sec. Geral. Fora isso vai ser foda", responde Braga Netto na conversa.
Para a PF, o "se continuarmos" usado por Braga Netto prova um plano de golpe de Estado em curso, já que o diálogo aconteceu 3 dias antes do fim do governo de Bolsonaro.
Outro trecho que mostra que o golpe estava em execução é de uma conversa entre o tenente coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, e o coronel Romão Corrêa Netto, que fazia a articulação do golpe com os chamados "kids pretos", as Forças Especiais do Exército.
As apurações também revelaram que o Corrêa intermediou uma reunião para selecionar oficiais com habilidades militares específicas, em novembro de 2022. Além disso, o coronel teria redigido uma carta de pressão destinada ao então comandante do Exército, Marco Antônio Freire Gomes e agido em "missões" fora do Palácio da Alvorada.
As investigações ainda identificaram que Bernardo Neto atuava como braço direito de Mauro Cid e executava tarefas que Cid não conseguiria desempenhar, por causa de sua posição no governo.
Além de Bolsonaro, Filipe Martins, Marcelo Câmara, Rafael Martins e Bernardo Romão Corrêa, prestarão depoimento:
- Walter Braga Netto
- Augusto Heleno
- Anderson Torres
- Paulo Sérgio Nogueira
- Almir Garnier
- Valdemar Costa Neto
- Marcelo Costa Câmara
- Tércio Arnaud
- Mário Fernandes
- Cleverson Ney Magalhães
- Ailton Barros
- Rafael Martins
- Sergio Cavaliere
Fonte: Revista Fórum