
Em meio à cúpula do Brics no Rio de Janeiro, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciou neste domingo (6) a imposição de uma tarifa adicional de 10% a países que se alinhem com “políticas antiamericanas” do bloco. A medida foi comunicada por meio da plataforma Truth Social e marca mais um episódio de escalada nas disputas comerciais entre Washington e as nações do Sul Global.
O anúncio ocorre em um momento de tensão crescente: reunidos na capital fluminense até esta segunda-feira (7), líderes dos 11 países do Brics divulgaram a “Declaração do Rio de Janeiro”, na qual manifestaram apoio ao multilateralismo e ao fortalecimento de instituições como a ONU, além de rejeitar ações unilaterais que prejudiquem o comércio mundial. “Expressamos sérias preocupações com o aumento de medidas tarifárias e não tarifárias unilaterais que distorcem o comércio e são inconsistentes com as regras da Organização Mundial do Comércio”, afirma trecho do documento divulgado pelo Itamaraty.
Em publicação na Truth Social, Trump ameaça sobretaxar em 10% nações que apoiarem as “políticas antiamericanas” do Brics - Reprodução/Redes Sociais
Brics
Os integrantes do bloco, que hoje inclui Brasil, Rússia, Índia, China, África do Sul e outros seis países, também abordaram temas sensíveis como segurança global e conflitos no Oriente Médio. A declaração condena ataques recentes contra o Irã, sem mencionar diretamente EUA ou Israel, e reafirma apoio à criação de um Estado palestino nas fronteiras de 1967, com Jerusalém Oriental como capital, pedindo ações internacionais para cessar a violência em Gaza e proteger civis palestinos.
As reações à ameaça de tarifas foram imediatas. O Ministério das Relações Exteriores da China destacou que “o uso de tarifas não serve a ninguém” e reafirmou oposição a medidas coercitivas no comércio. A Rússia, por meio do porta-voz Dmitry Peskov, enfatizou que “a singularidade do Brics está no fato de que ele reúne países com abordagens e visões comuns sobre como cooperar com base em seus próprios interesses”, reforçando que “essa cooperação nunca foi e nunca será dirigida contra terceiros”.
A África do Sul também se manifestou em defesa do bloco. O porta-voz do Ministério das Relações Exteriores, Chrispin Phiri, ressaltou que o Brics busca apenas promover um multilateralismo reformado e criar uma ordem global mais equilibrada e inclusiva, “que reflita melhor as realidades econômicas e políticas do século 21”.
Enquanto isso, representantes de outros países evitaram declarações mais contundentes. O Ministério do Comércio e Indústria da Índia preferiu não comentar, e o porta-voz do Ministério Coordenador de Assuntos Econômicos da Indonésia afirmou que “a equipe ainda está trabalhando” e que espera encontrar “a melhor solução” em diálogo com Washington.
No Rio, líderes do Brics condenam medidas unilaterais e reafirmam compromisso com soluções diplomáticas e reforma na governança global - Reprodução/Alexandre Brum/BRICS Brasil
Truth Social
A retórica de Trump surge em meio à reta final do prazo de 90 dias que suspendeu as sobretaxas anunciadas pelos EUA em abril. De acordo com o secretário do Tesouro americano, Scott Bessent, quem não fechar acordo comercial com Washington até quarta-feira voltará a ser taxado a partir de 1º de agosto. Até agora, apenas Reino Unido e Vietnã conseguiram chegar a um consenso com os EUA.
A reunião do Brics, sob presidência brasileira iniciada em janeiro, também contou com falas defendendo reformas na governança global. O primeiro-ministro chinês, Li Qiang, afirmou que “o mundo de hoje está mais turbulento, com o unilateralismo e o protecionismo em ascensão” e que a China está disposta a trabalhar com os demais países do bloco para promover uma governança global “mais justa, razoável, eficiente e ordenada”.
Analistas avaliam que as ameaças de Trump representam uma forma de pressionar países emergentes em um momento em que o Brics busca ampliar seu peso político e econômico no cenário internacional. Em comunicado conjunto, os líderes do bloco reforçaram que “os esforços devem ser direcionados a reformas que fortaleçam a representação de países em desenvolvimento”, além de reafirmarem a importância de soluções pacíficas e diplomáticas para conflitos, sempre em respeito ao direito internacional.
A cúpula do Brics termina nesta segunda-feira (7), no Rio de Janeiro, com a expectativa de novos desdobramentos sobre a tensão comercial entre Estados Unidos e os países do bloco.
Fonte: G1