
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva participa nesta segunda-feira (21), em Santiago, no Chile, de uma cúpula internacional voltada à defesa da democracia e ao combate à desinformação. O encontro ocorre em meio a um agravamento nas relações entre Brasil e Estados Unidos, após o presidente norte-americano Donald Trump importarifas de 50% sobre produtos brasileiros e revogar os vistos de oito ministros do Supremo Tribunal Federal (STF), incluindo integrantes da cúpula do Judiciário brasileiro. As ações de Trump têm sido vistas pelo governo brasileiro como tentativas de ingerência direta nas instituições nacionais e no processo político do país.
Democracia no Chile
Organizada pelo presidente chileno Gabriel Boric, a reunião conta com a presença de líderes de perfil progressista da região: Gustavo Petro, da Colômbia; Pedro Sánchez, da Espanha; e Yamandú Orsi, do Uruguai. O objetivo principal é reforçar compromissos multilaterais em torno da democracia, da redução das desigualdades e da regulação das tecnologias digitais, com foco no enfrentamento à desinformação, uma das principais ameaças aos processos democráticos contemporâneos.
Tarifaço de Trump
No centro das discussões paralelas ao encontro estão os recentes episódios que envolvem a escalada de tensões entre os Estados Unidos e o Brasil. No início do mês, Trump anunciou uma tarifa inédita de 50% sobre produtos brasileiros exportados aos EUA, a mais alta entre os mais de 20 países afetados pelas novas medidas comerciais.
Poucos dias depois, o secretário de Estado norte-americano, Marco Rubio, revogou os vistos diplomáticos e pessoais de ministros do STF, do procurador-geral Paulo Gonet e de seus familiares, sob o argumento de que as decisões do Supremo comprometem a "liberdade política" de aliados do ex-presidente Jair Bolsonaro, declarado inelegível pela Justiça Eleitoral brasileira.
Tarifas e retaliações de Trump elevam tensão com o Brasil - Reprodução/Scott Eisen/Getty Images
Segundo o jornal El País, Trump teria afirmado que as sanções são uma forma de “defender Bolsonaro” contra condenações no Judiciário brasileiro. A declaração foi interpretada pelo Planalto como uma tentativa explícita de interferência no cenário político nacional e de desestabilização institucional. No sábado (19), Lula reagiu publicamente, classificando a revogação dos vistos como “arbitrária, inaceitável e sem fundamento” e reforçando que “nenhuma intimidação externa irá abalar a missão essencial das instituições brasileiras: proteger o Estado Democrático de Direito”.
Programação
A participação de Lula na cúpula “Democracia Siempre”, como foi batizado o evento, também inclui encontros com líderes da sociedade civil, economistas e juristas. A programação prevê um almoço na chancelaria chilena com a presença da ex-presidente Michelle Bachelet e do Prêmio Nobel de Economia Joseph Stiglitz, além de debates sobre cooperação internacional, justiça social e ameaças digitais. As propostas debatidas durante o encontro deverão ser sistematizadas e apresentadas na Assembleia Geral da ONU, em setembro, como continuidade à iniciativa lançada em 2024, “Em Defesa da Democracia”.
Embora haja forte convergência política entre os participantes, diplomatas do Itamaraty avaliam como pouco provável a emissão de um comunicado conjunto específico contra as ações dos Estados Unidos. A estratégia do Brasil, segundo fontes do governo, será ampliar o debate no campo multilateral, buscando apoio de outras nações durante os próximos fóruns globais.
Ainda assim, a cúpula em Santiago já marca um ponto simbólico de resistência e articulação política frente à nova fase de confrontos diplomáticos impulsionados pela volta de Donald Trump ao poder.
Fonte: Brasil 247