
Os novos soldados da Polícia Militar do Piauí estão recebendo, durante o curso de formação, uma disciplina voltada exclusivamente para o combate ao racismo estrutural e à promoção de práticas antirracistas na segurança pública.
A disciplina "Questões Atuais: Racismo" foi inserida de forma permanente na grade curricular da formação dos praças e tem como foco o letramento racial e o entendimento histórico das desigualdades que estruturam a sociedade brasileira.
Ministrado por oficiais da própria corporação e por dois civis — o professor José Bispo e a professora Alda Regina, da Superintendência de Promoção da Igualdade Racial do Estado — o conteúdo é ofertado a todos os 16 pelotões da nova turma.
Desconstrução de estereótipos e mudança de mentalidade
A disciplina parte da análise da formação do Brasil a partir do processo de escravização, passando pela exclusão da população negra após a abolição e os impactos disso na sociedade atual, inclusive na atuação policial.
"A proposta é discutir como o racismo foi se organizando no Brasil, especialmente com a exclusão dos negros do mercado de trabalho e a construção de estereótipos que associam cor da pele à criminalidade e à violência", explica o professor José Bispo.
Além do conteúdo histórico, o curso também discute o papel da polícia na repressão da população negra ao longo do tempo. O objetivo é promover uma mudança de percepção desde a formação desses profissionais.
"Muitos ainda associam pobreza, periferia e cor da pele à criminalidade. Essa representação precisa ser desconstruída", reforça.
Formação para uma atuação policial antirracista
A expectativa é que a disciplina contribua para uma atuação policial mais consciente, ética e antirracista, com impacto direto na forma como os futuros policiais vão agir nas ruas.
"Não se trata apenas de combater o racismo institucional, mas de preparar o policial para compreender que a desigualdade não é uma questão individual ou de classe, mas uma herança da escravização", afirma Bispo.
A disciplina passa a integrar, de forma permanente, a formação da Polícia Militar. Para os educadores envolvidos, esse é um passo fundamental para transformar não só o olhar, mas também a prática policial. "O conhecimento é o primeiro passo para a mudança. Só é possível transformar a prática quando se muda a mentalidade", conclui o professor.