
Neste 13 de maio, o Brasil marca os 136 anos da assinatura da Lei Áurea, que decretou o fim oficial da escravidão no país. Apesar da data simbólica, os impactos da escravização ainda se refletem na estrutura social brasileira. O sociólogo, José Miranda Bispo destacou a realidade dos negros no Brasil, em entrevista ao podcast do Piauí Hoje.
“A abolição aconteceu sem qualquer projeto de inserção do povo negro na sociedade. Foram quase 400 anos de trabalho forçado sem remuneração, sem acúmulo de patrimônio, e ainda com um Estado que, ao invés de garantir reparação, excluiu essa população do mercado de trabalho, trazendo imigrantes brancos para ocupar essas vagas”, afirmou o professor.
Segundo Bispo, essa desigualdade histórica não pode ser explicada apenas pelo viés de classe social, como defendem algumas correntes teóricas. “O ponto de partida entre negros e brancos na construção da sociedade republicana foi completamente desigual. E essa desigualdade, que tem como base a cor da pele, permanece até hoje.”
PodCast Piauí Hoje entrevistou o sociólogo José Bispo Miranda (Foto: Malu Barreto)
O professor também comentou a importância das cotas raciais como política de reparação. “É uma tentativa tímida de reconhecer uma dívida histórica. Mas ainda é pouco. As cotas são vistas por muitos como um favor, quando, na verdade, são um direito”, afirmou.
Na avaliação do professor, políticas afirmativas como essa enfrentam resistência devido à falta de letramento racial na sociedade. “Muita gente não entende que a exclusão é baseada na cor da pele, não na condição de classe. O letramento racial é essencial para que as pessoas compreendam como se formou essa desigualdade e o que é necessário para enfrentá-la.”
Além das cotas no ensino superior, ele citou as vagas em concursos públicos como outro campo onde a reparação ainda caminha a passos lentos. “Mesmo com legislações que estabelecem percentuais de cotas, como a Lei Estadual nº 7.066, ainda é pouco diante do histórico de exclusão que o povo negro enfrentou.”
Para o professor, o maior desafio é fazer com que o Estado e a sociedade reconheçam que não se trata de privilégio, mas de justiça. “As políticas de reparação não são um presente. São um direito que já deveria ter sido garantido há muito tempo.”
Assista à entrevista na íntegra: