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Bebês Reborn, terapia de conforto é usado para engajar na internet

Usadas em contextos de luto e solidão, as bonecas hiper-realistas dividem opiniões ao ganharem espaço nas redes sociais — entre acolhimento emocional e espetacularização da dor.

Malu BArreto

Sábado - 17/05/2025 às 09:00



Foto: Divulgação Bonecas Reborn imitam um bebê real
Bonecas Reborn imitam um bebê real

Eles aparecem nos feeds sendo alimentados, medicados, embalados com carinho — como se fossem reais. Os bebês Reborn não são apenas brinquedos hiper-realistas. Em muitos casos, eles se tornam o substituto simbólico de algo que foi perdido ou nunca chegou a existir: um filho, uma gravidez, uma infância perdida, uma experiência materna.

A psicóloga Suzy Tiberly, convidada para um bate-papo no podcast do portal Piauí Hoje, analisa os múltiplos significados por trás da relação afetiva com os bebês Reborn — e os limites entre simbolização terapêutica e midiatização do sofrimento.

“A gente observa mulheres que passaram por perdas gestacionais, que não puderam ter filhos ou estão elaborando um luto. O Reborn entra como uma espécie de objeto transicional. Não é loucura — é dor sendo simbolizada”, explica a psicóloga Suzy Tiberly.

A prática tem sido utilizada em alguns contextos terapêuticos, inclusive em instituições que trabalham com pessoas idosas. Mas é quando o engajamento emocional ultrapassa os limites do simbólico — e passa a ser midiatizado — que surgem os sinais de alerta.

 

Quando o simbólico vira espetáculo

“Tem pessoas que vivem em função do bebê Reborn, criam perfis nas redes sociais, relatam que ele está doente, que não se alimenta direito, levam para consultas. Isso ultrapassa a simbologia e revela uma dissociação da realidade. Quando a boneca se torna mais importante que as relações humanas reais, estamos falando de uma fuga. Aí sim, é preciso intervir”, alerta Suzy.

Segundo ela, é importante diferenciar os casos de sofrimento real da busca por engajamento a qualquer custo. “Claro que existe também a midiatização, a busca por curtida, por lacre, por pegar um tema que está no momento e tentar monetizar em cima disso. Mas não estou falando desses casos. Falo de quem de fato busca, num contato com um ser inanimado, suprir a dificuldade de socializar, de criar vínculos reais.”

Suzy Tiberly, psicóloga entrevistada no Piauí Hoje 

E deixa o alerta: nem toda dor deve virar meme. “Esse não é um tema que eu acho legal brincar na internet. Muitas vezes, o que aparece ali denuncia um sofrimento simbólico muito significativo. É preciso empatia, cuidado, manejo.”

As bonecas, segundo a psicóloga, são válidas como recurso terapêutico, com ressalvas. “São casos geralmente ligados ao luto, ao envelhecimento, ao isolamento. Mas sempre com acompanhamento profissional. O que não pode é substituir a vida real.”

No fim, tudo começa com uma pergunta fundamental: o que esse bebê representa para quem o carrega? A resposta pode ser chave para compreender a dor que muitas mulheres não conseguem colocar em palavras, mas expressam — silenciosamente — através do cuidado com um boneco que, para elas, representa algo muito maior.

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